O fato de que os adolescentes
geralmente ainda não iniciaram atividades de
trabalho mais consistentes é uma das razões
da entrada deles no crime. Mônica Viegas Andrade,
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), observa
que essa é a fase de algumas das mais importantes
decisões da vida de uma pessoa. O abandono
da escola pela vida da rua e eventualmente do crime
reduz quase imediatamente as expectativas de ganhos
futuros com trabalho honesto.
Estudos do economista Ricardo Paes de Barros, do
Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea),
mostram que anos perdidos de escolaridade têm,
no Brasil, um impacto negativo muito forte na expectativa
de renda futura.
Lisboa observa que a violência contra a classe
média no Brasil é uma proporção
ínfima da violência total. No Rio, a
média diária de homicídios está
em torno de 17 e o alarme na mídia em relação
à violência ocorre quando os assassinatos
nessa camada chegam a dois ou três casos por
semana, amplamente noticiados.
Para o economista, é bem possível que
a violência na classe média esteja aumentando
e isso esteja ligado à contaminação
do ambiente social dos mais ricos pelo verdadeiro
matadouro que grassa há vários anos
no grupo dos jovens pobres ligados ao crime.
De qualquer forma, o núcleo do problema está
no grupo social dos adolescentes e jovens pobres -
e qualquer solução para ele não
pode ignorar esse fato. Lisboa frisa que seu estudo
não se propôs a analisar a atuação
das polícias e, portanto, a interação
entre esse fator e a violência não está
no escopo da sua análise.
Feita a ressalva, ele acha que qualquer ação
antiviolência tem de voltar-se para os adolescentes
pobres e para formas de minimizar os efeitos que a
baixa renda e sua péssima distribuição
no Brasil têm sobre eles e suas famílias.
"É preciso manter os adolescentes na escola
e evitar que eles sejam atraídos para o crime,
especialmente em momentos de crise."
Redação
Terra / O Estado de S. Paulo
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