Script = https://s1.trrsf.com/update-1764790511/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

“Nem todo cangaceiro era pobre”, diz historiador sobre Guerreiros do Sol

Contratado como consultor da novela da Globo, Robério Santos elogia a ampliação da imagem do sertão para além da pobreza

1 jul 2025 - 07h41
Compartilhar
Exibir comentários
Resumo
Mostrar ricos e pobres em uma abordagem historicamente embasada equilibra a representação da realidade. Embora o cenário do cangaço seja região pobre, existe mais do que matança e miséria. A capacidade de mostrar nuances seria o grande trunfo de Guerreiros do Sol, diz pesquisador.
Robério Santos nos Estúdios Globo, quando participou do bate-papo com produção e elenco de Guerreiros do Sol.
Robério Santos nos Estúdios Globo, quando participou do bate-papo com produção e elenco de Guerreiros do Sol.
Foto: Arquivo pessoal

O clichê de miséria e morte reduz a complexidade do cangaço. Por isso, Guerreiros do Sol fez uma “escolha corajosa” ao mostrar ricos e pobres, avalia o historiador Robério Santos, consultor da Globo para a novela.

É inegável que o cangaço tenha assolado as regiões pobres do país”, diz Santos. Porém, Guerreiros do Sol mostra o coronel rico, a mulher letrada, o comerciante, além da pobreza dos retirantes tratados como lixo ao serem impedidos de entrar na bodega do Bosco.

“Ao equilibrar esses dois aspectos, a desigualdade aparece como um fator presente, mas não como o único foco, como aconteceu em outras produções”, acredita Santos. Ele pesquisa os grupos criminosos do sertão há 25 anos. Tem livros publicados e mantém o canal O Cangaço na Literatura.

Cena de Guerreiros do Sol em que pobres comem comida que os ricos foram obrigados a servir.
Cena de Guerreiros do Sol em que pobres comem comida que os ricos foram obrigados a servir.
Foto: Divulgação

Para Santos, o cangaço é “nosso maior tema histórico-popular”. Na entrevista ao Visão do Corre, ele fala de audiovisual, das relações entre crime, pobreza e riqueza, de cangaceiros e da curiosa história do primeiro filme brasileiro sobre o cangaço, que completa 100 anos.

Como foi a consultoria?

No início de 2023, fui contatado pela Rede Globo para fornecer informações e referências. Fui fazendo fotos de objetos, roupas, periódicos, alimentando a produção. Coloquei minha coleção à disposição, tenho livros raros, como o clássico sergipano Lampião, o Último Cangaceiro, autografado. Também fomos aos Estúdios Globo para um bate-papo com a equipe e o elenco.

A pesquisa é um ponto forte de Guerreiros do Sol?

O diferencial foi contratar especialistas que, mesmo sabendo que os nomes dos personagens seriam fictícios, garantiram que os acontecimentos fossem reais: as falas o mais próximas possível da realidade e os cenários, críveis. O sucesso da novela se deve a essa proximidade com o real, por isso acredito que é um divisor de águas, tanto no aspecto visual, quanto em sua narrativa.

O pesquisador Robério Santos e o ator Thomás Aquino que vive Josué, líder dos cangaceiros em Guerreiros do Sol.
O pesquisador Robério Santos e o ator Thomás Aquino que vive Josué, líder dos cangaceiros em Guerreiros do Sol.
Foto: Arquivo pessoal

Se o cangaço tem tantas formas de expressão, como pode ser considerado marginal?

Por ser um tema controverso, muitas vezes desprezado por tratar de criminosos. O cangaço não se resume a crimes.

Mas está associado à pobreza.

Nem todo cangaceiro era pobre antes de entrar no movimento — um exemplo clássico é Antônio Silvino. Zé Baiano era o cangaceiro mais rico, hoje não teríamos nem como calcular sua fortuna, talvez na casa dos milhões de reais, se convertido atualmente.

Nas regiões de conflito com o cangaço, como ficava o povo?

O sertão nordestino agonizava nas mãos desses personagens, mas também sofria com a repressão da polícia. O povo pobre vivia entre a cruz e a espada. O pouco que tinham era, muitas vezes, levado pelos cangaceiros, o que deixou uma marca triste na história.

Robério Santos com Isadora Cruz, que vive Rosa em Guerreiros do Sol. Novela mostra cangaço complexo.
Robério Santos com Isadora Cruz, que vive Rosa em Guerreiros do Sol. Novela mostra cangaço complexo.
Foto: Arquivo pessoal

O bilhete do cangaceiro Josué exigindo comida aconteceu na vida real?

Foi ficcional, mas no Rio Grande do Norte e na Paraíba existiu um cangaceiro chamado Jesuíno Brilhante, que ia além de meramente mandar bilhetes exigindo comida aos famintos: ele mesmo assaltava cargas de víveres e distribuía aos pobres.

O uso do termo “novo cangaço” tem sentido?

Ele surgiu em 1922, em Minas Gerais, para designar grupos criminosos que atuavam no interior, praticando crimes como assassinatos e assaltos. A partir da década de 1980, a mídia intensificou o uso do termo, por ele ser chamativo e gerar engajamento. O cangaço é, sem dúvidas, nosso maior tema histórico-popular.

Fonte: Visão do Corre
Compartilhar
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra












Publicidade