Como fotos em minidoors, jovens inovam em exposição no complexo da Maré
Juventude negra expõe 30 imagens até a véspera do Natal, em suportes distribuídos por ruas, vielas e escadões da comunidade
Jovens da Maré realizam a exposição "Olhares Negros" com 30 fotos espalhadas em minidoors pela comunidade, promovendo acesso à arte, representatividade e transformação pessoal até o dia 24 de dezembro.
Vinte jovens da Maré apresentam fotografias que retratam o cotidiano da comunidade na exposição Olhares Negros, de forma diferente: por meio de 30 minidoors espalhados pelo complexo de favelas da zona norte do Rio de Janeiro.
As fotos são resultado das oficinas promovidas pela ONG Luta Pela Paz e estarão expostas até 24 de dezembro. A iniciativa busca democratizar o acesso à arte e a população pode encontrar os minidoors em ruas como a Principal, São Jorge, Joaquim Nabuco, do Campo, Maçaranduba e Teixeira Ribeiro.
Para Samantha Oliveira, uma das artistas da mostra, a exposição contribui para mudar a imagem estigmatizada da favela. “É um lugar onde também existe a exposição de obras artísticas, existe o levante de pessoas a fim de trazer cultura e arte para comunidade e de incentivar a esperança dos jovens do território”.
Maré: representatividade e sensibilidade na fotografia
“Para mim, é extremamente importante participar da exposição com um autorretrato representando outras mulheres negras e trans como eu, que não têm, sequer, a perspectiva de viver da arte, de fazer arte, de ser reconhecida através das suas obras”, diz Samantha Oliveira, uma das integrantes do projeto.
A jovem de 25 anos, natural do Maranhão, veio para o Rio por causa da transfobia que vivia e da vontade de ocupar novos espaços. As fotografias transformam pessoas como Samantha, e famílias, como a de Gustavo “Gugah”, um dos alunos.
“Entrei para o projeto como um Gustavo e estou saindo como outro. Esse processo de três meses mudou todos nós, tanto alunos quanto os professores. Foi muito bonito, rico de conhecimento e histórico. Quando olhamos para trás, temos orgulho de nos ver, nos sentimos emocionados. É muito lindo.”
Ensino de fotografia não é só técnica, é despertar para sensibilidade
Ao longo das aulas, participantes foram estimulados a desenvolver a criatividade e a ampliar visões de futuro. A aluna Duda Braga afirma ter aprendido habilidades técnicas, mas, também, sobre sensibilidade.
“Transformar as vivências em imagens dá medo porque, muitas vezes, o que estamos vivendo, não conseguimos fotografar. Mas, quando eu tirei a foto que está na exposição, o sentimento que ela me transmitiu – e transmite até hoje – é de paz, tranquilidade e sabedoria”, diz Duda.
Segundo a mãe dela, “é muito gratificante a gente saber que na nossa comunidade tem um projeto tão bom, que abre essas portas para nossos jovens. Eu fiquei muito orgulhosa, é muito gratificante ver ela chegar aonde está chegando”, afirma Priscila Braga.