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Brás Cubas, de Machado de Assis: retrato pioneiro do playboy

Clássico machadiano faz crítica a menino rico. Quem é pobre pode entender o livro contrapondo à realidade periférica

25 mai 2024 - 10h13
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Resumo
Brás Cubas, protagonista da obra de Machado de Assis, é um playboy herdeiro de família rica que reafirma a divisão de classes na sociedade brasileira do século 19. Retratado como um personagem oco, pessimista e amoral, deve ser lido pela periferia para entender, ao menos, duas coisas: a condição social do pobre, por contraposição aos privilégios de Brás Cubas, e o quanto Machado de Assis, escritor preto, tinha consciência da exclusão no Brasil.
Ator Petrônio Gontijo interpreta o personagem Brás Cubas jovem em filme baseado no romance realista de Machado de Assis
Ator Petrônio Gontijo interpreta o personagem Brás Cubas jovem em filme baseado no romance realista de Machado de Assis
Foto: Divulgação

Você que é da periferia tem grandes chances de entender Memórias Póstumas de Brás Cubas por contraposição, justamente porque o protagonista é seu exato oposto, um playboy.

Esqueça o clichê de professor de cursinho sobre o “defunto-autor” e outras bobagens e foque na condição socioeconômica do inútil Brás Cubas: herdeiro de família rica.

Sacando isso, você começará a perceber que Machado de Assis sabia muito bem quem estava por cima e por baixo no século 19.

Quando criança, Brás Cubas gostava de montar nas costas do escravo Prudêncio. “Era o meu cavalo de todos os dias”, com a corda no queixo, funcionando como um freio, e tomando varadas.

Conhece algum playboy inseguro, mas com dinheiro para esbanjar com sexo pago? Ele é igualzinho Brás Cubas, que se apaixonou por Marcela e ainda reclamou que teve o amor da moça somente porque pagou.

Conhece algum playboy que, descoberto pela família em sua paixão por uma prostituta de luxo, foi mandado para a Europa estudar? É Brás Cubas.

E aquele playboy cujo pai paga faculdade e ele não faz nada? E que, mesmo medíocre, entra para a política, vira mandatário da nação? Sim, é Brás Cubas.

Tem também o playboy que investe em negócios desastrosos, fantasiosos, com o dinheiro da herança, igualzinho ao protagonista de Machado de Assis – de vez em quando, entediados e meio bêbados, atropelam e matam com seus carrões de luxo.

E fogem da cena do crime, covardes como Brás Cubas. Também são imorais, ou melhor, amorais, pois sua formação dispensa preocupações éticas.

Esse tipo de boyzão costuma ser pessimista, desse pessimismo vago, oco, fútil, sem motivo real, como nosso Brás Cubas.

No famoso último capítulo, transformado em clichê porque o protagonista declara “pequeno saldo” na vida sem filhos, passa batida a passagem que todo playboy conhece bem: “coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto”.

O menino mimado cuja história viralizou na internet não precisou fazer o corre. Brás Cubas é playboy e Machado de Assis sabe muito bem como se dá a divisão de classes no Brasil. Não foi, nem de longe, um escritor distanciado da realidade social.

O problema é que a escola brasileira, pública e particular, é incapaz de evidenciar o óbvio, o playboyzinho Brás Cubas, porque o verniz literário lhes parece uma perfumaria superior.

Machado de Assis, certamente, odiaria essa distorção.

Fonte: Visão do Corre
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