Homem conhecido como o "mais feliz do mundo" revela três passos para a felicidade
O monge francês Matthieu Ricard, conhecido como "o homem mais feliz do mundo", compartilha as três práticas que transformam a mente e cultivam a verdadeira felicidade
Matthieu Ricard é conhecido como "o homem mais feliz do mundo" - título que nasceu de uma curiosa descoberta científica. Pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, constataram que o cérebro do monge francês produzia níveis altíssimos de ondas gama, associadas à atenção, ao aprendizado e à memória. O resultado surpreendeu os cientistas e transformou Ricard em uma das maiores referências mundiais sobre bem-estar e compaixão.
Hoje, aos 78 anos, ele é escritor, fotógrafo, humanitário e discípulo direto do Dalai Lama. Em entrevista ao The New York Times, o monge resumiu em três práticas simples o que acredita ser o caminho para uma vida equilibrada e feliz.
Três pilares da felicidade
1. Cultivar emoções positivas por meio da meditação
Para Ricard, felicidade é treino mental. Ele compara a mente a um músculo que precisa de prática diária para se fortalecer. A meditação, explica, não é uma fuga do mundo, mas uma forma de observar os pensamentos sem ser dominado por eles.
"Quando você está naquele momento de amor incondicional, esse sentimento preenche nossas mentes por 30 segundos, talvez um minuto, e então, de repente, desaparece. Todos nós já passamos por isso. A única diferença agora é cultivar esse sentimento de alguma forma. Faça com que ele permaneça um pouco mais. Tente ficar em silêncio com esse sentimento por 10, 20 minutos. Se ele desaparecer, tente trazê-lo de volta", ensina.
O monge reforça que meditar não exige isolamento nem técnicas complexas - basta reservar um tempo para silenciar e reconectar-se com emoções como a bondade e a gratidão. Esse exercício, praticado com constância, ajuda a reduzir o estresse e amplia a clareza mental.
2. Entender que a felicidade é um processo, não um destino
Quando perguntado sobre o "segredo da felicidade", Ricard costuma sorrir e dizer que ele não existe. "Primeiro, não há segredo. Segundo, não existem apenas três pontos. Terceiro, leva uma vida inteira para alcançá-la, mas é a coisa mais valiosa que você pode fazer", afirma. Ele acredita que o erro moderno está em buscar prazer imediato, confundindo-o com bem-estar. Para o monge, a verdadeira felicidade é um estado interno de equilíbrio, e não a ausência de tristeza.
"Eu aproveito cada momento da vida, mas, claro, há momentos de extrema tristeza, especialmente quando você vê tanto sofrimento. Mas isso deve acender sua compaixão, e, se acender sua compaixão, você se move em direção a uma maneira de ser mais forte, mais saudável e mais significativa", explica. Ricard descreve a felicidade como o centro de estabilidade da mente - o ponto para onde voltamos mesmo após as oscilações naturais da vida.
3. Observar as emoções negativas sem ser guiado por elas
Apesar da serenidade que transmite, Ricard reconhece que ainda enfrenta irritações e inseguranças. A diferença, diz ele, está na forma como lida com elas. "Melhorei minha capacidade de controlar meus pensamentos e emoções em vez de deixá-los me controlar. Às vezes, ando em frente ao espelho e tenho um momento extremo de autoaversão. Ou me preocupo com algo bobo, como encontrar uma vaga para estacionar. Essas reações algum dia desaparecerão? Sim. Claro que desaparecerão", comenta.
Para ele, controlar as emoções não é reprimi-las, mas sim compreendê-las como passageiras. Ao perceber que sentimentos como raiva ou medo não definem quem somos, abrimos espaço interno para a paz e a lucidez.
De cientista a monge: uma jornada pela consciência
Antes de se tornar monge budista, Matthieu Ricard era biólogo molecular na França e trabalhava com renomados cientistas. Filho do filósofo Jean-François Revel e da pintora Yahne Le Toumelin, ele vivia uma carreira promissora, até decidir trocar o laboratório pelo Himalaia, onde se dedicou aos ensinamentos do budismo tibetano.
Desde então, vive no mosteiro Shechen Tennyi Dargyeling, no Nepal, e atua em projetos humanitários que o levaram a receber a Ordem Nacional do Mérito da França. Autor de diversos livros sobre felicidade e altruísmo, Ricard lembra que seu famoso apelido nunca foi algo que ele buscou:
"Pense por cinco segundos: como alguém pode saber o nível de felicidade de 7 bilhões de seres humanos? Não faz sentido. Tudo começou como uma brincadeira da imprensa. O estudo não media felicidade, mas compaixão." Mesmo assim, o apelido ficou - talvez porque, em tempos de correria e desconexão, a serenidade de Ricard simbolize a possibilidade real de viver em paz consigo mesmo.