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Como é fetiche em bancar e ser bancada? 'Já presenteei com carros e reformas'

Homens e mulheres falam sobre seus relacionamentos com claros interesses financeiros; para especialistas, pesa a busca por poder e controle.

11 abr 2024 - 05h00
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Foto: iStock

O fetiche em pagar contas para os outros ou ter suas contas bancadas é uma excitação que costuma gerar polêmica. Essa atração peculiar consiste na dinâmica em que uma pessoa sente prazer ao assumir o papel de pagar as despesas de outra, seja em encontros românticos, relacionamentos ou até mesmo de forma mais ampla, como um estilo de vida.

O Terra conversou com quatro pessoas que compartilham esse tipo de prática: dois Sugar Daddies e duas Sugar Babies. As expressões nasceram nos Estados Unidos, no início do século 20, para definir a relação entre um homem mais velho e rico, o daddy, que banca uma mulher mais jovem, a baby.

Embora para alguns a prática possa parecer incompreensível, os envolvidos garantem que a relação traz satisfação pessoal. Nomes fictícios serão usados para preservar a identidade dos entrevistados.

"Desde que o mundo é mundo, o homem é o provedor financeiro da relação"

Jorge Ricardo*, de 49 anos, se considera um Sugar Daddy e acredita que, como em qualquer relação, ele é um homem que apenas quer o melhor para sua parceira. 

“Sinto muito prazer somente em ver a minha Sugar Baby feliz. Então a ajuda é também em prol dessa satisfação pessoal que tenho em poder colaborar com ela onde ela precisa”, diz Ricardo. O termo Sugar Baby é usado por mulheres que recebem esses benefícios financeiros.

Jorge Ricardo comenta que pessoas próximas a ele sabem o tipo de relação que ele tem com a parceira e afirma que não impõe limites de valor na hora de gastar com a moça, mas espera dedicação em troca. 

“Como em qualquer relação, espero dedicação da minha parceira. Busco companheirismo e boas conversas. Todas as que conheci até hoje foram muito cordiais, mulheres dedicadas e decididas. Este é um dos motivos pelos quais acredito que merecem desfrutar de todo o conforto e luxo possíveis”, afirma.

O empresário ainda ressalta que o fetiche não influencia suas relações interpessoais e abre espaço para a discussão de uma prática que acontece há anos. 

“As pessoas evitavam falar sobre esse assunto com medo de reações negativas. Entretanto, ao contrário do que muitos pensam, uma ‘relação sugar’ tem fundamentos essenciais para os relacionamentos, como uma comunicação aberta sobre as expectativas de ambas as partes. Desde que o mundo é mundo, o homem é o provedor financeiro da relação. Me faz bem poder proporcionar alegria e conforto a minha parceira”, afirma Ricardo. 

"Já as presenteei com carros, reformas de apartamentos, aberturas de lojas, além de jóias e roupas de grife"

Para Ronaldo Dias*, de 42 anos, o ato de custear as despesas de uma mulher está relacionado a questões pessoais e individuais de cada um. Em seu caso, ele espera que sua Sugar Baby possa desfrutar do melhor em tudo.

“Quem não gostaria de ter uma mulher maravilhosa ao lado? Assim, é necessário investir para proporcionar esse conforto e qualidade de vida que ela também merece, pagar a conta do mês é um imenso prazer”, afirma. 

A sensação de responsabilidade e de ser o provedor na relação também aparece como fator nas satisfações pessoais do empresário. Ele diz que proporcionar conforto e experiências aumenta sua autoconfiança no dia a dia. 

“Me sinto mais íntimo, as experiências trazem tanta alegria que acabamos nos sentindo mais abertos para conversar e viver. Eu me sinto muito bem”, conta. 

O romance com sua Sugar Baby é reservado e o casal não conversa abertamente sobre o assunto. Ronaldo destaca que isso em nada está ligado a esconder seu relacionamento. “Não precisamos sair por aí espalhando que adotamos o estilo de vida sugar, a apresento como minha namorada”. 

Quanto ao limite de gastos, o empresário revela que todas as Sugar Babies com que já se relacionou foram autorizadas a gastar o quanto achavam necessário. 

“Já as presenteei com carros, reformas de apartamentos, aberturas de lojas, além de jóias e roupas de grife. São mulheres companheiras e excelentes ouvintes, então considero justo mimá-las como forma de gratidão, e por querer fazer com que se sintam amadas e bem tratadas”, destaca Dias.

Homem paga a conta de restaurante
Homem paga a conta de restaurante
Foto: mgstudyo/iStock

E as Sugar Babies?

Estereotipadas e apontadas como interesseiras, as mulheres que adotam o estilo de vida “Sugar Baby”, demonstram confiança e enxergam os relacionamentos como um investimento para suas vidas e carreiras. 

Fabiana Marques*, de 21 anos, vê nos relacionamentos a oportunidade de conhecer pessoas dispostas a investir em sua evolução intelectual e profissional. Ela conta que conheceu um “Daddy” que a ajudou a empreender.

“São homens muito bem-sucedidos e com uma grande experiência de vida, então têm muito conhecimento para compartilhar", relata a jovem.

"Conheci um Sugar Daddy no ano passado que foi muito importante para mim. Ele me deu conselhos sobre como eu poderia me envolver no empreendedorismo de maneira mais inteligente, já que sempre tive vontade de abrir meu próprio negócio."

Para encontrar esses  homens interessados em investir financeira em sua vida, Fabiana recorreu ao site MeuPatrocínio e revela que nunca teve dificuldade com os relacionamentos nesses dois anos na plataforma. 

“Só aceitei sair e conhecer pessoas que realmente me chamaram a atenção. É importante para mim que o homem seja o provedor, mas isso não pode ser mais importante que meu desejo em conhecer ele, isso tem que existir senão fica algo forçado e totalmente desinteressante”, diz Fabiana. 

Para a empreendedora, os relacionamentos “sugar” apenas se divergem dos convencionais na sinceridade em alinhar expectativas. 

“Isso até ajuda a fortalecer esse relacionamento, já que evita possíveis discussões desnecessárias. Tenho amigas que são casadas com homens que as bancam, esse relacionamento é o mais normal que existe. Não é nada superficial.”

Quanto a ser aberta com parentes e amigos sobre o assunto, Fabiana lembra que foi rotulada como interesseira quando compartilhou que havia ingressado na plataforma em busca de “Sugar Daddies”.

“Isso chegou a me incomodar, algumas amigas brincavam, mas não me afeta mais, até porque interesseira é algo que definitivamente não sou. Ao contrário disso, tenho claro o que desejo para o meu futuro e não abro mão disso. Não me envolveria com um homem que não tivesse nada a me oferecer. Quero estar com alguém que, além de carinho e respeito, tenha algo mais para me proporcionar. Estou cansada de homens imaturos e que não sabem nada da vida”, ressalta a jovem.

Entre os presentes marcantes, Marques destaca uma viagem com tudo pago para ela e as amigas que ganhou de presente de aniversário de um “Sugar Daddy”. “Foi um presente de aniversário em que todos se beneficiaram”, relembra.

Grupo de mulheres em iate
Grupo de mulheres em iate
Foto: andresr/iStock

"Dão presentes sem você precisar pedir. Eles sabem nos valorizar de verdade"

Já Isabel Santana*, de 25 anos, conta que teve um relacionamento de 4 anos com um Sugar Daddy, e que desde que conheceu a modalidade de relacionamento, passou a ser tratada da forma que considera ideal. 

“Os homens são generosos e cavalheiros. Dão presentes sem você precisar pedir. Eles sabem nos valorizar de verdade e enxergar nossas necessidades", conta a estudante, que também conhece homens pela plataforma de relacionamentos.

"O que me atrai é justamente ser tratada como sou hoje, com diversos privilégios oferecidos por uma pessoa carinhosa e respeitosa. Não sei mais viver de outra forma."

Ela conta que nunca teve problemas com suas relações “sugar” e é criteriosa física e intelectualmente na hora de escolher quem deseja conhecer de verdade.

“Imagino que muita gente pense que o relacionamento ‘sugar’ é interesse, mas, pelo contrário, eu já tive a chance de conhecer homens incríveis em que a convivência era ainda melhor. Se envolver com uma pessoa que de fato te interessa é essencial”, conta Isabel.

Sobre seu relacionamento de 4 anos com um Daddy, Isabel revela que o término foi dado por uma mudança de país, na qual ela não pode acompanhá-lo por causa dos estudos. No entanto, os planos são diferentes agora.

“Me imagino futuramente com um Sugar Daddy que esteja disposto a construir família, já que tenho interesse em ter filhos também. Essa relação é superficial somente para quem não conhece ela de verdade e nunca viveu isso de fato”, afirma. 

Pais sabem e apoiam

A jovem ainda revela que não tem segredos enquanto ao estilo de relacionamento que escolheu viver e até seus pais sabem que ela é uma Sugar Baby. 

“Depois que [os pais] me viram crescer tanto na vida pessoal como na profissional, perceberam que não se tratava de algo banal. Pelo contrário, é algo que me proporciona uma perspectiva de vida muito grande”, diz a moça.

Entre os maiores presentes já ganhou, Isabel destaca que graças aos relacionamentos que teve, já viajou para mais de 10 países.

“Não importa o modelo de relação em que você esteja, sempre vão falar algo. As experiências que tive neste mundo foram tão boas que não vejo necessidade de me chatear com essas rotulações.”

Relacionamento com interesses é saudável?

A psicóloga Larissa Fonseca acredita que uma das motivações por trás do fetiche entre Sugar Daddies e Babies é a busca por poder e controle, já que para algumas pessoas, assumir a responsabilidade financeira de outra pode proporcionar uma sensação de dominação e autoridade. 

“Isso pode estar relacionado a dinâmicas de poder presentes em outras áreas de suas vidas, onde o controle financeiro representa uma forma de expressão desse poder”, explica a especialista.

Além disso, ela observa que o comportamento de submissão, reflete não apenas na vida financeira, mas em diversos aspectos na vida do casal. Para a psicóloga, além da simples consequência em evitar buscar a própria independência financeira, a falta de equilíbrio de poder no casal traz consequências que são nocivas à autoestima sob o pilar da autoeficácia.

Quando a humilhação financeira vira prazer

A sexóloga e terapeuta sexual Tamara W. Zanotelli destaca que o fetiche nos relacionamentos “sugar” é impulsionado por motivações psicológicas profundas e que a sensação de se entregar financeiramente pode ser altamente erótica para algumas pessoas.

“O pagamento das contas acaba sendo uma expressão tangível de apoio, de afeto, uma demonstração do que a pessoa sente. A gente também sabe que alguns indivíduos acabam encontrando uma certa excitação na humilhação financeira e ela acaba virando um prazer”, explica a sexóloga. 

Zanotelli conta que aqueles que desfrutam de ter as suas contas pagas também podem estar em busca de poder e controle nessa dinâmica, colocando à prova limites sociais convencionais em torno do dinheiro e dessas relações. 

Para a especialista, esse fetiche também acaba surgindo como uma forma de lidar com questões emocionais não resolvidas, como busca por aprovação, necessidade de ser cuidado ou cuidar de alguém.

“Existe também a questão das fantasias de exploração sexual que vêm com uma experimentação de diferentes aspectos da nossa sexualidade e acabam desempenhando um papel muito fundamental. O fetiche de pagar contas ele acaba tornando uma expressão de outras dinâmicas eróticas”, conta a profissional. 

De todo modo, para pessoas que sentem prazer em bancar ou ser bancadas por seus parceiros, a terapeuta sexual indica que se entenda as próprias motivações e sentimentos em relação a esse fetiche antes de propor a dinâmica para o outro.

“Tem que ser muito bem pensado. A pessoa precisa explicar de forma clara e muito respeitosa o significado disso para ela, porque afinal de contas está falando das vontades e o outro não necessariamente precisa aceitar". 

*Nomes fictícios a pedido dos entrevistados

Fonte: Redação Terra Você
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