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Loggi recebe aporte de US$ 212 milhões e quer atender toda a população brasileira

Startup que cresceu 360% em 2020 mira expansão nacional após maior rodada de investimentos de sua história

28 fev 2021 - 23h10
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O comércio eletrônico no Brasil foi impulsionado pela pandemia, o que acabou puxando também o bom desempenho do setor de logística. Assim, a Loggi, um dos novos gigantes do segmento, anuncia neste domingo, 28, um aporte de respeito: US$ 212 milhões (R$ 1,15 bilhão) - é a maior captação já realizada pela empresa. A sétima rodada de aporte da Loggi foi liderada pela CapSur Capital e teve participação do Fundo Verde, do megainvestidor Luis Stuhlberger. Investidores de rodadas anteriores, como Monashees, SoftBank Vision, SoftBank Latam, GGV, Microsoft e Sunley House, também voltaram a aportar na companhia - cerca de três quartos dos investidores já haviam participado em rodadas anteriores.

Após entrar em 2020 capitalizado - a Loggi recebeu um aporte de US$ 150 milhões em junho de 2019, o que lhe conferiu o status de 'unicórnio' -, a empresa passou por momentos de incerteza no início da pandemia, o que rendeu até 120 demissões. Com o desenrolar dos meses, porém, a empresa começou a crescer em ritmo acelerado. Fechou o ano com crescimento de 360% e abertura de seis novos centros de distribuição. Foi a partir de agosto do ano passado que as movimentações para uma nova rodada começaram.

Thibaud Lecuyer, da Loggi, mira investimentos em tecnologia e expansão 
Thibaud Lecuyer, da Loggi, mira investimentos em tecnologia e expansão
Foto: Loggi/Divulgação / Estadão

"Enxergamos paralelos com as grandes empresas chinesas do segmento, que nasceram na crise da Sars 1, em 2003. Durante o período, elas investiram em tecnologia e automação, e saíram na frente", conta ao Estadão o francês Thibaud Lecuyer, diretor financeiro da Loggi e fundador da Dafiti. Assim, a startup decidiu que deveria fazer o mesmo, tirando vantagem do crescente interesse de investidores - segundo Lecuyer, o volume de interessados poderia ter feito o novo cheque ser ainda mais alto, chegando a US$ 300 milhões.

A empresa afirma que usará os novos recursos para investimentos em automação e tecnologia - atualmente, a empresa tem 2.100 funcionários e a janela de contratações está aberta. A ideia é trazer gente que trabalhe justamente em tecnologia - um dos orgulhos da Loggi são seus algoritmos de inteligência artificial que permitem determinar a escolha para instalação de agências e centros de distribuição e que permitem também a otimização das rotas de entrega.

Além disso, a empresa projeta expansão com uma meta ousada para 2021: fazer suas entregas chegarem a toda população brasileira. Atualmente, a startup atende 50% da população em cerca de 500 municípios. "Esse é um grande desafio, pois as áreas de entrega passam a ficar mais pulverizadas", diz Lecuyer.

"O aporte coloca a Loggi como um player pronto para brigar com outros nomes do mercado", diz Guilherme Fowler, professor do Insper. De fato, a briga é grande. Além de nomes tradicionais, como DHL e Fedex, o setor de logística tem visto investimentos de nomes nacionais e internacionais do varejo, como Magalu e Amazon, além da entrada de plataformas tecnológicas cujo foco original estava em outros segmentos, como Rappi e Uber - em 2020, por exemplo, a divisão de delivery do Uber reduziu o prejuízo causado pelas quedas nas corridas em todo o mundo.

"Os investidores estão sinalizando que percebem uma mudança fundamental na estrutura da sociedade, de que o comportamento adquirido na pandemia não será revertido", diz Fowler. É algo que Lecuyer enxerga sob outra ótica: "Os investidores estão olhando para a nossa capacidade de crescimento como empresa, não para o mercado", diz. O francês afirma que a startup não está olhando para o que a concorrência faz. Nem para a situação de tentativa de privatização dos Correios - embora, admita que o assunto tenha sido discutido nas negociações para o aporte.

"Qualquer um que faz entregas é nosso concorrente, mas temos o nosso foco: entregas express de pacotes até 40 kg. Não oferecemos uma ampla gama como os Correios", diz Lecuyer. "Acho que concorrentes que fazem muitas coisas, também não conseguem executar tudo tão bem. Em relação aos varejistas, eles não conseguem atender toda a demanda", diz. É o que pensa Alan Leite, presidente executivo da aceleradora Startup Farm. "A relação da Loggi com as grandes varejistas é de competição e cooperação", diz.

Para Leite, o desafio da Loggi agora é consolidar sua posição no mercado e atingir status hegemônico. É uma situação que lembra o caminho traçado por outro unicórnio brasileiro, o Nubank. A empresa nasceu como uma startup bem estruturada, cresceu, virou unicórnio e se tornou um dos principais nomes da sua área de atuação. "A Loggi agora precisará mostrar resultados e um dos desafios para isso é gestão", diz Leite.

É um refrão que encontra eco nas palavras de Lecuyer. "Nosso desafio agora é execução. Temos capital, ótimas relações com os clientes e conhecimento. E o mercado não apresenta riscos", diz ele. Se essa jornada vai desembocar num processo de abertura de capital, ainda é cedo para dizer. O executivo diz que isso está no plano, mas que antes é preciso dar mais alguns passos - pelo visto, essa rota também depende da eficiência de algoritmos.

Estadão
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