Agentes mais autônomos, uso mais humano e capacitação: o que esperar da IA em 2026?
Especialistas apontam avanço da IA agêntica, maior integração ao dia a dia e necessidade de capacitação para evitar dependência
Especialistas preveem que 2026 será marcado pela consolidação da inteligência artificial agêntica, maior integração da IA no cotidiano e a necessidade de capacitação para sua aplicação estratégica, evitando dependência e promovendo pensamento crítico.
Depois de um ciclo marcado pela popularização das ferramentas de inteligência artificial generativa, 2026 deve ser o ano em que a tecnologia deixará de ser apenas baseada em comandos e respostas para assumir um papel mais autônomo e integrado à vida das pessoas e empresas, acreditam os especialistas.
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A consolidação da IA agêntica e uma mudança comportamental sobre o uso delas são apontados como os verdadeiros vetores da próxima etapa e evolução da IA.
Segundo Adriano Carezzato, professor do curso Dominando a IA: como aplicar Inteligência Artificial nos negócios, da Fundação Vanzolini, a principal mudança está no fim da lógica baseada em prompts.
“Vai mudar desse modelo de você ter que acionar, você ter que mandar uma pergunta, de você fazer um bate-papo”, afirma. Para ele, os sistemas caminham para um funcionamento mais independente. “Esses sistemas não respondem somente quando a gente fala, eles já vão agindo por conta própria”.
A transição se apoia no avanço dos agentes autônomos, que são capazes de interpretar contextos, tomar decisões e executar tarefas. “40% dessas aplicações em 2026 vão ter IA integrada no formato de IA agêntica”, diz Carezzato citando a empresa Gartner, um salto expressivo frente aos cerca de 5% atuais.
IA no dia a dia
A expectativa é que essa nova geração de IA seja mais integrada ao cotidiano, com capacidade de manter memória de longo prazo e operar de forma diversa, juntando texto, imagem, áudio e vídeo. “Então, a IA vai ter uma memória mais de longo prazo, vai entender o contexto visual, sonoro também”, diz Carezzato.
Esse movimento também impulsiona o desenvolvimento de dispositivos vestíveis — os wearables — e sistemas capazes de operar mesmo sem conexão constante à internet. “Você vai ter uma versão mais simplificada rodando local”, explica. “Isso vai ter mais privacidade, você vai ter melhor latência, vai ter mais rapidez pra ter uma resposta.”
Na prática, isso significa uma IA menos restrita às telas, estando presente nos ambientes, atuando como uma assistente contínua. “Ela vai ver que você atrasou um voo e automaticamente vai falar: ‘olha, eu sugiro que você reorganize sua agenda dessa forma’”, exemplifica.
Segunda onda dos agentes e aprendizado humano
Para Michelle Schneider, futurista, professora da Singularity University e autora do livro O profissional do futuro, 2026 deve marcar uma segunda onda dos agentes, mais madura e menos impulsionada por expectativas irreais. “Acho que agora a gente vai para uma fase mais madura dos agentes, tanto como tecnologia, quanto principalmente de aprender como a trabalhar com eles”, afirma.
Ela lembra que boa parte das iniciativas não trouxe resultados concretos. “É um estudo do MIT que falou que só 5% dos pilotos de agenda ativa entregaram resultados de negócio”, diz. Para Schneider, isso revela que o gargalo não está apenas na tecnologia, mas na forma como pessoas e organizações tentam usá-la.
“A parte mais importante é o lado de como que a gente vai trabalhar com essa nova tecnologia”, avalia. “Enquanto as pessoas não tiverem essa mudança de mindset, essa curiosidade, a coisa não anda.”
Apesar da adoção massiva, os especialistas apontam que o uso atual da IA ainda está longe do seu potencial. Schneider observa que, fora do ambiente corporativo, as ferramentas vêm sendo usadas majoritariamente como apoio emocional ou para tarefas simples. “Quando você vê o número um de uso do chat GPT, ele é usado como se fosse um terapeuta, é um conselheiro de vida”, afirma. “Não necessariamente as pessoas estão sabendo como usar para trabalhar melhor.”
Evitar dependência e capacitar é o caminho
Ela também chama atenção para o risco de dependência cognitiva. “A hora que você vai delegando, a hora que você vai entregando, você vai realmente atrofiando o seu pensamento”, diz. Ainda assim, avalia que a tecnologia reflete a forma como é usada: “A IA funciona meio que como um espelho”.
Carezzato divide a mesma opinião e reforça que o desafio para 2026 será desenvolver competências, não apenas acesso. “Uma coisa é você adotar, outra coisa é você ter uma competência no uso daquilo”, afirma. Para ele, a IA pode fortalecer o pensamento crítico, desde que não o substitua. “Você precisa usar ela para explorar as ideias, explorar os pensadores, e a partir disso formar a sua própria opinião.”
Para os especialistas, 2026 não será marcado apenas por avanços técnicos, mas que irá reforçar a importância de saber usar a IA de forma estratégica. O conhecimento irá “peneirar” quem sabe usar a IA e que apenas aceita as respostas entregues por ela. “As pessoas que tiverem essa curiosidade vão se descolar muito da maioria que não tem”, afirma Schneider.
“Acho que é uma evolução natural”, diz Schneider. “No ano que vem, a gente dá mais alguns passos”, conclui.