Após morte do rei, Arábia Saudita define com rapidez a linha de sucessão
O novo rei da Arábia Saudita, Salman, apontou pela primeira vez, nesta sexta-feira, um neto do monarca fundador do país para a linha de sucessão, agindo rapidamente após a morte do rei Abdullah para acalmar os temores de instabilidade em um momento de turbulência regional.
Mohammed bin Nayef, ministro do Interior, tornou-se o primeiro neto do monarca fundador do reino, o rei Abdulaziz, conhecido como Ibn Saud, a assumir um lugar de destaque na linha de sucessão, como vicê-príncipe herdeiro. Para príncipe herdeiro, Salman nomeou seu meio-irmão mais novo, Muqrin bin Abdulaziz.
A velocidade da nomeação de Nayef é algo altamente incomum antes do sepultamento do monarca, que faleceu na madrugada desta sexta-feira e será enterrado à tarde, disseram sauditas. Essas nomeações normalmente demoram vários dias.
Todos os reis da Arábia Saudita desde a morte do fundador, em 1953, foram os seus filhos, e a mudança para a nova geração tinha levantado a perspectiva de uma disputa de poder no palácio. O rei Salman também nomeou o próprio filho Mohammed bin Salman para os cargos de ministro da Defesa e chefe da corte real.
Salman, que acredita-se ter 79 anos, agora se torna a autoridade máxima em um país que enfrenta desafios internos de longo prazo agravados pela queda do preço do petróleo e a ascensão do grupo militante Estado Islâmico no Iraque e na Síria, que promete derrubar a família Al Saud do poder.
Em seu primeiro discurso como rei, mostrado ao vivo na televisão saudita nesta sexta-feira, Salman se comprometeu a manter a mesma abordagem dos antecessores no governo do maior exportador de petróleo do mundo e berço do Islã, e também pediu união entre os Estados árabes.
Ao anunciar imediatamente a nomeação de seu meio-irmão mais novo Muqrin bin Abdulaziz como príncipe herdeiro, o rei Salman agiu decisivamente para acabar com especulações sobre a condução da sucessão real e divisões na família governante.
No entanto, os analistas sauditas ressaltaram que, apesar dessa mudança para demonstrar uma sucessão tranquila e respeitar os desejos de Abdullah, que tinha decretado que Muqrin deveria suceder a Salman, não está claro quanto poder ele terá como príncipe herdeiro.
"Muqrin não é tão conservador como Salman, mas vamos ver quanto poder terá no novo reinado. De acordo com a Lei Básica, o príncipe herdeiro não pode fazer mais do que aquilo que lhe é designado pelo rei", disse Khalid al-Dakheel, professor de ciência política em Riad.
REFORMA
Muitos sauditas, em um país com uma população jovem, não serão capazes de lembrar de um tempo antes do rei Abdullah, tanto como monarca a partir de 2005, como regente de fato por uma década antes de assumir o trono.
Seu legado foi um esforço para reformar os sistemas econômicos e sociais do reino para enfrentar uma emergente crise demográfica por meio da criação de empregos no setor privado e fazer os jovens sauditas se prepararem melhor para assumir as vagas de trabalho.
"Acho que (Salman) vai continuar com as reformas de Abdullah. Ele percebe a importância disso. Ele não é pessoalmente conservador, mas valoriza a opinião do eleitorado conservador do país", disse Jamal Khashoggi, chefe de um canal de notícias de propriedade de um príncipe saudita.
No entanto, as reformas de Abdullah não chegaram à política, e depois da Primavera Árabe suas forças de segurança apertaram o cerco contra todas as formas de dissidência, prendendo críticos abertos da família governante, bem como mulheres motoristas e militantes islâmicos.
À medida que a população cresce e a Arábia Saudita enfrenta a queda acentuada dos preços do petróleo em nível mundial, a família a Al Saud terá cada vez mais dificuldades para manter seus gastos generosos com benefícios sociais para as pessoas comuns, potencialmente minando a sua legitimidade em um país onde não há eleições, dizem analistas.
(Reportagem adicional de Rania El Gamal e Sami Aboudi em Dubai)