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Estudantes se juntam a protestos contra alta de preços no Irã e forçam mudança de postura do governo

Centenas de estudantes iranianos se uniram nesta terça-feira (30) aos comerciantes que protestam contra a disparada dos preços, agravada pelo colapso da moeda nacional, o rial, segundo a agência Fars. Diferentemente de ocasiões anteriores, quando manifestações foram reprimidas com violência, o governo anunciou que pretende instaurar um diálogo com os manifestantes.

30 dez 2025 - 15h30
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Siavosh Ghazi, correspondente da RFI em Teerã, e de Nicolas Feldmann, da RFI em Paris 

Lojistas e comerciantes atravessam uma ponte durante um protesto contra as condições econômicas e a queda do valor da moeda do Irã. Teerã, em 29 de dezembro de 2025.
Lojistas e comerciantes atravessam uma ponte durante um protesto contra as condições econômicas e a queda do valor da moeda do Irã. Teerã, em 29 de dezembro de 2025.
Foto: AFP - HANDOUT / RFI

Após os comerciantes, agora são os estudantes que tomam as ruas no Irã. Esta terça-feira (30) marca o terceiro dia consecutivo de manifestações contra a carestia. Diante da pressão popular, o presidente Massoud Pezeshkian pediu ao governo que ouça as reivindicações "legítimas" dos manifestantes.

Enquanto as autoridades trabalham na elaboração do próximo orçamento, a pergunta permanece: quais são as reais margens de manobra do governo? "Apenas uma", afirmou o especialista Bernard Hourcade à RFI: negociar a suspensão das sanções impostas pelo Ocidente. 

"É possível encontrar soluções pontuais para o preço do petróleo, da água, dos alimentos. Mas o cerne do problema é que a economia iraniana está sob sanções há anos, especialmente desde 2018, quando os Estados Unidos romperam o acordo nuclear. Um país sob sanções internacionais, como o Irã, não pode sobreviver", resume Hourcade. 

Segundo ele, "a chave é a negociação com os Estados Unidos, que permitiria destravar a economia iraniana. Depois disso, os iranianos decidirão o que quiserem do ponto de vista político. É preciso que todas as facções no poder entendam isso e que governo e presidente se empenhem para pressionar os EUA a negociar — algo que Trump, por enquanto, não faz", avalia. 

Especialistas já previam explosão de protestos

A revolta vem crescendo há vários meses. Muitos especialistas já previam uma explosão como essa, enquanto a inflação ultrapassa os 50% este ano e deve ser ainda maior em 2026. A queda da moeda iraniana, que se acelerou nas últimas semanas, agravou a situação com o aumento dos preços dos produtos de consumo praticamente todas as semanas.

Amir é um aposentado de 81 anos que vive com a esposa. Ele declarou à RFI estar "exausto". "Na situação atual, meu salário equivale a US$ 150. Felizmente, sou proprietário e meus filhos já saíram de casa. Vivemos só nós dois. Estamos no limite. A cada instante — não a cada dia ou a cada ano — nossa vida se estreita", desabafa o ex-engenheiro, que trabalhou por mais de 35 anos e se aposentou há duas décadas. "Eu choro por esses jovens. Eles têm um futuro muito, muito sombrio. Sem nenhuma esperança ou perspectiva. Estamos em um beco sem saída, muito, muito duro", aponta.

Como afirma Amir, a situação é ainda mais difícil para os jovens. Bahram é um pequeno comerciante ambulante do bazar de Teerã que vende legumes. Segundo ele, "nos últimos anos, a situação ficou muito difícil. O poder de compra das pessoas caiu por causa das sanções e da crise econômica. Problemas para casar, conseguir moradia, trabalho, um carro. Tudo o que é necessário para ter uma vida normal", enumera o comerciante. 

Sanções degradaram a economia

As sanções norte-americanas e europeias, além da corrupção, degradaram fortemente a economia, sem qualquer perspectiva de melhora. Os protestos começaram no domingo (28), com participação de comerciantes do tradicional Grande Bazar de Teerã, conforme veículos estatais. Nesta terça-feira, estudantes se reuniram em quatro universidades da capital, segundo a Fars e vídeos verificados pela Reuters.

As manifestações ocorreram em Teerã, nas universidades Beheshti, Khajeh Nasir, Sharif, Amir Kabir, Ciências e Cultura e na Universidade de Ciências e Tecnologias, assim como na Universidade de Tecnologias de Isfahan, informou a agência Ilna, próxima aos meios operários, citando um de seus jornalistas. Essas universidades de Teerã estão entre as mais prestigiadas do Irã.

A moeda iraniana despenca sob efeito das sanções ocidentais contra a economia do país. O rial perdeu quase metade do valor em um ano e atingiu nesta terça-feira um mínimo histórico de 1.400.000 rials por dólar, segundo dados compilados por plataformas online. A inflação chegou a 42,5% em dezembro.

A crise econômica levou à renúncia do governador do Banco Central, Mohammad Reza Farzin, na segunda-feira. À noite, o presidente Massoud Pezeshkian pediu ao ministro do Interior que ouça as "reivindicações legítimas" dos manifestantes, em mensagem publicada nas redes sociais.

Reconhecimento oficial dos protestos

Na terça-feira, a porta-voz do governo, Fatemeh Mohajerani, anunciou a criação de um mecanismo de diálogo com os manifestantes. "Reconhecemos oficialmente os protestos. Ouvimos suas vozes e sabemos que elas resultam da pressão sobre as condições de vida", declarou, segundo a imprensa estatal.

Pezeshkian afirmou na rede social X que o governo tem "medidas fundamentais na agenda para reformar o sistema monetário e bancário e preservar o poder de compra da população".

O Irã já havia registrado protestos em 2022 contra a alta do preço do pão e, em 2023, manifestações após a morte da jovem curda Mahsa Amini sob custódia da polícia da moral, duramente reprimidas. A disposição para dialogar com os manifestantes indica uma mudança significativa na estratégia do governo iraniano.

Com AFP

RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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