França: naturalização de George Clooney é criticada por ministra e abre debate no país sobre privilégios
A recém-anunciada naturalização do ator norte-americano George Clooney está no centro de uma polêmica na França, no momento em que novas medidas que endurecem o pedido de visto estão prestes a entrar em vigor no país. A notícia abriu um debate na sociedade francesa e dividiu opiniões até mesmo entre membros do governo.
A ministra adjunta do Interior, Marie-Pierre Vedrenne, afirmou nesta quarta-feira (31) que a naturalização de Clooney envia "uma mensagem errada", visto que os testes de proficiência em francês serão significativamente mais rigorosos para estrangeiros que buscam a cidadania francesa.
"Posso me orgulhar muito de George Clooney estar solicitando a naturalização", disse Marie-Pierre Vedrenne à rádio pública Franceinfo. No entanto, "isso não transmite a mensagem correta", acrescentou.
A ministra disse compreender "pessoalmente" o sentimento de "dois pesos e duas medidas" entre alguns cidadãos franceses, visto que o ator de 64 anos admitiu no início de dezembro, em entrevista à rádio privada RTL, que "continuava tão ruim" em francês, apesar de "400 dias de aulas".
O astro do cinema, sua esposa Amal Alamuddin Clooney e seus gêmeos de oito anos receberam a cidadania francesa por decreto publicado no sábado (27) no Diário Oficial.
Ministro do Interior rebate críticas
Ainda nesta quarta-feira, o ministro francês do Interior, Laurent Nuñez, defendeu a naturalização de George Clooney e sua família após as críticas expressas por sua ministra adjunta.
Trata-se de uma "decisão da autoridade pública", enfatizou ele, descrevendo a naturalização como "uma grande oportunidade para o nosso país".
"Estamos muito satisfeitos", especialmente porque os Clooney e seus dois filhos "vivem em território francês", na região do Var (sudeste da França), acrescentou Laurent Nuñez.
O casal de celebridades reside parte do ano em uma casa de campo em Brignoles, que adquiriu em 2021.
"Trabalho relevante"
Citando o Artigo 21-21 do Código Civil, o Ministério das Relações Exteriores da França alega que a situação de Clooney e sua esposa "atende às condições legais" para a naturalização.
Este artigo estipula que "a cidadania francesa pode ser concedida por naturalização, mediante proposta do Ministro das Relações Exteriores, a qualquer estrangeiro francófono que a solicite e que contribua, por meio de serviços relevantes, para a influência da França e a prosperidade de suas relações econômicas internacionais".
O ministério insiste que a família Clooney "tem residência permanente na França" e "contribui, por meio de seu trabalho relevante, para a influência internacional e o alcance cultural da França".
A "posição de destaque" de George Clooney na indústria cinematográfica mundial "só pode contribuir para manter e promover a posição da França neste setor econômico essencial", conclui.
Quanto à esposa do ator, Amal Alamuddin, o ministério afirma se tratar de "uma renomada advogada", que "colabora regularmente com instituições acadêmicas e organizações internacionais sediadas na França".
A pasta responsável pelo processo garante que os Clooney "seguiram um procedimento rigoroso, incluindo verificações de segurança, entrevistas de naturalização regulamentares na prefeitura e o pagamento de selos fiscais".
Seu compatriota, o diretor Jim Jarmusch, anunciou na sexta-feira (26), na rádio France Inter, que também tem a intenção de solicitar a nacionalidade no país. "Gostaria de ter outro lugar para onde pudesse escapar dos Estados Unidos", disse ele, destacando sua atração pela "cultura francesa".
Novas regras em 2026
O contexto da concessão de documentação ao ator norte-americano contrasta com as novas regras do governo da França para a obtenção da nacionalidade e de vistos, que entrarão em vigor em 2026. A partir de 1º de janeiro, por exemplo, o nível de francês exigido para estrangeiros que desejam adquirir a cidadania será mais elevado.
De acordo com a nova lei de imigração, os candidatos precisarão ter obtido um diploma de nível avançado (B2), que avalia as habilidades linguísticas fundamentais, necessárias, por exemplo, para o ingresso na universidade. Eles também precisarão ter sido aprovados em um exame cívico como parte do Contrato Republicano de Integração.
Segundo os dados mais recentes do Ministério do Interior, cerca de 48,8 mil pessoas adquiriram a nacionalidade francesa por decreto em 2024.
Com AFP