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Governo da Itália quer fazer censo de ciganos no país

Medida de censo e expulsão proposta por ministro do Interior, considerada ilegal até por aliados, é parte de endurecimento contra imigrantes promovido pela extrema direita.

19 jun 2018 - 17h39
(atualizado às 17h58)
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Proposta de Matteo Salvini, ministro do Interior, é parte de endurecimento contra imigração na Itália
Proposta de Matteo Salvini, ministro do Interior, é parte de endurecimento contra imigração na Itália
Foto: EPA / BBC News Brasil

O novo ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, gerou controvérsia ao pedir um recenseamento da comunidade da população roma (cigana), para identificar os que não sejam cidadãos italianos e deportá-los.

Após ser alvo de críticas, ele disse que sua única intenção é "proteger as crianças" de etnia roma.

Há ao menos 130 mil pessoas na comunidade roma da Itália, e cerca de metade delas tem cidadania italiana. Muitas moram em acampamentos informais e precários em periferias das cidades.

A proposta de Salvini é parte de um endurecimento contra a imigração no país. Na semana passada, o ministro proibiu que atracasse na Itália um navio humanitário carregando 629 migrantes resgatados durante a travessia do Mediterrâneo.

Salvini é integrante da Liga Norte, partido populista de extrema direita que assumiu o poder neste mês junto com o movimento anti-establishment Cinco Estrelas.

Quanto ao censo dos roma, a proposta foi rebatida pelo vice-premiê e líder do Cinco Estrelas, Luigi di Maio, que afirmou que a medida é inconstitucional.

'Caos'

A polêmica começou quando Salvini disse a emissoras locais que havia pedido a sua equipe que "preparasse um dossiê sobre o tema roma, porque nada havia sido feito a respeito (no governo anterior) e está um caos".

O dossiê incluiria uma pesquisa para descobrir "quem (eles são), como (vivem) e quanto eles são; refazer o censo e ter registros", afirmou o ministro.

Os que não tivessem direito a estar na Itália seriam deportados. Já "os roma italianos, infelizmente, temos de mantê-los aqui", afirmou Salvini.

Salvini em acampamento roma durante campanha eleitoral, em fevereiro; críticas do ministro ecoam em parte da população italiana
Salvini em acampamento roma durante campanha eleitoral, em fevereiro; críticas do ministro ecoam em parte da população italiana
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O novo governo populista da Itália tem como parte de seu programa um plano para deportar 500 mil migrantes.

Uma associação que promove os direitos dos roma respondeu que qualquer censo baseado em origem étnica contraria a lei italiana, e opositores políticos criticaram duramente a proposta do ministro.

Salvini, então, afirmou que não estava propondo um levantamento oficial, mas sim uma avaliação dos acampamentos roma para "ajudar as milhares de crianças" ciganas que estivessem fora da escola.

A entidade argumentou que já existem tais dados estatísticos sobre essa população.

Os roma

A comunidade roma, em grande parte originária da Romênia e da antiga Iugoslávia, vive à margem da sociedade italiana, em acampamentos que se transformaram em espécies de favelas.

Alguns são descendentes de ciganos que chegaram à Itália há mais de um século, vindos de países que já não existem mais - ou seja, mesmo que não tenham cidadania, talvez não tenham para onde ser deportados.

Marginalizados, têm dificuldades em se inserir no mercado de trabalho.

Para muitos italianos, porém, essa marginalização é uma escolha feita pelos próprios ciganos. Uma pesquisa de 2016 do centro americano de pesquisas americano Pew identificou que 82% dos italianos entrevistados tinham percepção negativa sobre os roma.

Por conta disso, é possível que haja algum tipo de apoio popular à proposta de recensear as crianças ciganas para identificar as que frequentam ou não a escola, explica o correspondente da BBC na Itália, James Reynolds.

Em seus discursos, Salvini habitualmente ofende essa população. Há dois meses, ele declarou que os roma seriam uma comunidade se "trabalhassem mais e roubassem menos" e "educassem suas crianças em escolas, não para roubar".

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