Rei Charles III vai rezar com papa no Vaticano em gesto inédito desde ruptura religiosa há 500 anos
O rei Charles III chegou a Roma na noite desta quarta-feira (22) para uma visita de Estado ao Vaticano, onde participará de uma cerimônia ecumênica com o papa Leão XIV na Capela Sistina, um encontro sem precedentes desde a separação entre a Igreja Anglicana e a Igreja Católica, há cerca de 500 anos.
O rei Charles III chegou a Roma na noite desta quarta-feira (22) para uma visita de Estado ao Vaticano, onde participará de uma cerimônia ecumênica com o papa Leão XIV na Capela Sistina, um encontro sem precedentes desde a separação entre a Igreja Anglicana e a Igreja Católica, há cerca de 500 anos.
O casal real britânico aterrissou por volta das 13h30 (horário de Brasília) na base aérea militar de Ciampino. A visita ocorre em meio a um momento delicado para o monarca, cujo irmão, príncipe Andrew, voltou a ser citado em novas denúncias graves no caso Epstein.
Como governador supremo da Igreja Anglicana, Charles III encontrará pela primeira vez o novo líder da Igreja Católica, que assumiu o papado em maio após a morte de Francisco. Segundo o Palácio de Buckingham, a visita "marca um momento importante nas relações entre as duas igrejas".
A Igreja Anglicana surgiu no século XVI, quando o rei Henrique VIII rompeu com Roma após o papa se recusar a anular seu casamento com Catarina de Aragão. Em 1961, a rainha Elizabeth II foi a primeira monarca britânica a visitar o Vaticano desde a ruptura.
O ponto alto da visita será nesta quinta-feira (23), quando Charles e Leão XIV rezarão juntos sob os afrescos de Michelangelo na Capela Sistina. A cerimônia terá como tema a proteção da natureza, causa que o rei defende há décadas.
Tradições católicas e anglicanas
O serviço religioso combinará tradições católicas e anglicanas, com a participação conjunta dos corais da Capela Sistina e da Capela de São Jorge, em Windsor. "É um evento histórico", afirmou à AFP o historiador William Gibson, da Universidade Oxford Brookes, lembrando que o soberano britânico é legalmente obrigado a ser protestante.
Entre 1536 e 1914, não havia relações diplomáticas oficiais entre o Reino Unido e o Vaticano. A embaixada britânica só foi aberta em 1982. E apenas em 2013 a legislação foi flexibilizada para permitir que membros da família real que se casassem com católicos mantivessem seus direitos sucessórios. Antes disso, eram obrigados a renunciar ao trono.
Durante a visita, Charles e Camilla também participarão de uma cerimônia ecumênica na Basílica de São Paulo Fora dos Muros. O rei será nomeado "confrade real", e um assento especial foi criado para ele, que permanecerá na basílica e poderá ser usado por futuros monarcas britânicos.
Charles e Leão XIV também celebrarão juntos o Ano Santo da Igreja Católica, realizado a cada 25 anos e que atrai milhões de peregrinos ao Vaticano.
Escândalo
A visita ocorre um dia após a publicação das memórias póstumas de Virginia Giuffre, principal acusadora no caso do pedófilo Jeffrey Epstein. Ela afirma ter sido forçada a manter relações sexuais com o príncipe Andrew em três ocasiões, a primeira quando tinha 17 anos.
Afastado da vida pública desde 2019, Andrew anunciou na sexta-feira, sob pressão de Charles, que deixará de usar o título de duque de York.
Aos 76 anos, Charles III segue em tratamento contra um câncer, revelado no início de 2024. Ele já esteve outras vezes no Vaticano e, em 9 de abril, encontrou-se em caráter privado com o papa Francisco, doze dias antes de sua morte, durante uma visita oficial à Itália.
Com AFP