Além do Louvre, igrejas na França também vêm sofrendo com roubos de bens religiosos e culturais
Na França, não é apenas o famoso Museu do Louvre que sofreu com o roubo de artefatos culturais este ano. Igrejas também têm sido alvo de ladrões, que se aproveitam da facilidade de acesso ao interior de algumas dessas instituições religiosas. Um tipo de atividade criminosa que aumentou no país ao longo de 2025.
Em um dos episódios mais recentes, dois homens foram condenados por cerca de trinta roubos em igrejas no norte e no leste do país, com a suposta cumplicidade de um negociante de antiguidades, acusado de receptação. O julgamento aconteceu na última sexta-feira (26).
Este ano, o Ministério do Interior da França registrou 538 roubos a igrejas, o que representa um aumento de 11% em comparação com 2024.
Isso se explica, em particular, pela alta do preço do ouro e pela facilidade de acesso a igrejas pequenas e, muitas vezes, mal protegidas, na avaliação de Hadrien Lacoste, vice-presidente do Observatório do Patrimônio Religioso. Além disso, segundo ele, a forma de agir dos ladrões também varia de acordo com o alvo do crime.
"Roubos de coleções e de doações são o que chamamos de pequenos furtos. Mas há ainda um segundo tipo: o roubo de obras de arte, que geralmente são feitas de materiais preciosos e frequentemente assinadas por ourives renomados", diz Hadrien.
O aumento deste tipo de delito na França mostra que os casos recentes não são isolados. Neste contexto, o roubo ao Louvre, ocorrido em 19 de outubro, reacendeu o debate sobre a vulnerabilidade de museus franceses, mas também se expande a outros prédios históricos no país.
Objetos cobiçados
O vice-presidente do Observatório do Patrimônio Religioso explica que os objetos roubados acabam em feiras ou lojas de antiguidades na França, mas também, às vezes, no exterior.
"A Igreja Católica, por exemplo, na Ásia, é muito próspera, com mecenas dispostos a apoiar essas comunidades para adquirir objetos religiosos de alta qualidade. É por isso que esses objetos estão sendo minuciosamente examinados do exterior", acrescenta Hadrien Lacoste.
Com relação à segurança desses locais, o vice-presidente do Observatório faz questão de salientar que as igrejas construídas após 1905 são de responsabilidade dos prefeitos. "É preciso haver uma consciência real do valor desse patrimônio coletivo e comunitário, que deve ser preservado, valorizado e protegido".
Para tentar resolver essa questão, a criação de inventários detalhados para cada igreja ou a instalação de vitrines protetoras estão entre as soluções que estão sendo consideradas.
Série de roubos no norte e no leste
O caso envolvendo os homens condenados na sexta-feira ilustra o aumento deste tipo de crime. Os três foram presos em outubro no departamento de Aisne, no norte da França, após uma série de cerca de 30 furtos e roubos cometidos entre junho e setembro em igrejas locais, bem como nos departamentos de Marne, Somme e Norte.
Os dois autores dos furtos, de 29 e 34 anos, foram condenados a três anos de prisão. Já o especialista em antiguidades, de 73, foi julgado pelo crime de receptação, com pena de seis meses, multa de € 10 mil e proibição permanente de exercer qualquer profissão comercial ou industrial.
Os ladrões, que confessaram os crimes, danificaram portas de sacristia e tabernáculos e roubaram cálices, cibórios, patenas, ostensórios, relicários, entre outros objetos religiosos de significativo valor moral e religioso, de acordo com a promotoria de Laon, responsável pelo caso.
A maioria dos itens roubados, juntamente com um pé de cabra e luvas, foi recuperada nas casas dos dois homens. Eles também foram condenados a indenizar 17 municípios nos departamentos de Aisne, Norte e Marne, que haviam entrado com ações cíveis.
O especialista em antiguidades, considerado culpado por receptação de bens roubados, irá recorrer, disse seu advogado, Vincent Demory. Ele admitiu que os dois homens tentaram lhe vender objetos religiosos, mas negou tê-los comprado ou revendido, alegando falta de documentação que comprovasse sua procedência legal, segundo seu advogado.
RFI com AFP