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Inglaterra treinará professores do ensino público para identificar atitudes misóginas nas escolas

A medida do governo britânico visa reduzir o número de casos de violência contra mulheres e meninas no país. Críticos dizem que, sem regulação das redes sociais, os esforços serão em vão.

29 dez 2025 - 08h09
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Yula Rocha, correspondente da RFI em Londres

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, visitou uma escola de Londres para discutir com alunas adolescentes meios de combater a violência contra elas. 17 de dezembro de 2025
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, visitou uma escola de Londres para discutir com alunas adolescentes meios de combater a violência contra elas. 17 de dezembro de 2025
Foto: © via REUTERS - Eddie Mulhollan / RFI

O governo britânico reconhece que é preciso uma mudança cultural sobre o conceito de masculinidade de meninos adolescentes, que tem levado a comportamentos misóginos mais tarde traduzidos em atos violentos e até a morte de meninas e mulheres. A medida é desafiadora diante do contexto atual dos adolescentes conectados ao mundo digital. Muitos hoje não sabem sequer diferenciar pornografia de um relacionamento real, estão expostos às imagens criadas ou tratadas com inteligência artificial e ao discurso tóxico e radical sobre o que é ser homem e masculino por influenciadores como Andrew Tate, que responde a mais de 10 crimes, entre eles estupro e tráfico de mulheres. Só para dar uma ideia da popularidade dessa figura, Tate tem dez milhões de seguidores nas redes sociais e é visto com simpatia por um em cada cinco meninos entre 13 e 15 anos, segundo a pesquisa YouGov.

Na prática, a ideia do programa educativo de prevenção de radicalização dos meninos a partir dos 11 anos de idade tem três pilares centrais: o treinamento de professores para identificar sinais precoces desse tipo de comportamento misógino, o encaminhamento e a intervenção em casos mais extremos de equipes especializadas da polícia, com medidas de proteção às mulheres. Por fim, o investimento equivalente a R$ 4 bilhões nos próximos três anos para apoio às vítimas de violência.

O governo britânico também anunciou mudanças no sistema jurídico para dar mais agilidade aos mais de 80 mil casos de violência contra a mulher que aguardam um parecer da Justiça e podem levar até cinco anos em tramitação.

O currículo de educação sexual será atualizado e obrigatório a partir de setembro de 2026 e inclui aulas de inteligência artificial, desinformação, assédio digital e intimidade com consenso.

Críticas ao novo programa

O país, nas palavras do próprio governo, vive uma emergência nacional com uma em três mulheres mortas por semana na Inglaterra e 200 casos de estupro denunciados à polícia diariamente. Quase 40% dos adolescentes já tiveram um relacionamento abusivo. Segundo dados do governo, 25% das meninas entre 13 e 17 anos e 17% dos meninos relataram que já foram agredidos fisicamente durante o relacionamento. A meta do primeiro-ministro Keir Starmer é reduzir esses números pela metade na próxima década.

Apesar das intenções ambiciosas do governo, não há recursos suficientes para apoio às vítimas e a burocracia pode ser um impedimento para que elas acessem qualquer tipo de suporte emocional e físico, financeiro e de acomodação, caso a mulher precise sair de casa.

A oposição, naturalmente, criticou as medidas e aproveitou para jogar a culpa nos imigrantes. Os conservadores defendem a deportação de estrangeiros que vieram de países onde mulheres são tratadas como terceira classe de cidadãs. Para a oposição, o programa só foi anunciado depois que o governo assistiu à minissérie "Adolescência", que exalta o impacto das mídias sociais e a radicalização de influenciadores sobre os meninos adolescentes.

Do digital para a vida real

A associação das escolas apoia o governo, mas diz que os professores são apenas parte da solução. Educadores reforçam que é essencial a introdução de medidas de prevenção na fonte, ou seja, controle e regulação das redes sociais que hoje permitem a circulação desses conteúdos misóginos, do contrário, esse esforço para conter essa epidemia de violência terá sido em vão.

O governo respondeu dizendo que vai trabalhar com as big techs para, por exemplo, introduzir filtros de detecção de nudez e evitar o compartilhamento dessas imagens. Mas não disse como isso vai funcionar. O que se sabe é que masculinidade tóxica e a violência contra mulheres estão diretamente relacionadas. As plataformas digitais são ferramentas que amplificam esse problema na vida real.

RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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