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Europa

Novos protestos em Ancara aumentam clima de tensão na Turquia

Polícia usou bombas de gás para dispersar milhares de manifestantes na capital; m Istambul, berço dos protestos, novos distúrbios foram registrados

2 jun 2013 - 17h58
(atualizado às 18h22)
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<p>Manifestantes são alvos de jato de água disparados pela polícia </p>
Manifestantes são alvos de jato de água disparados pela polícia
Foto: AP

No terceiro dia consecutivo de protestos na Turquia, os manifestantes reforçaram neste domingo a pressão sobre o governo de Recep Tayyip Erdogan, com distúrbios em Istambul e Ancara, enquanto consolidavam sua presença na Praça Taksim, foco da revolta que se alastrou por todo o país.

A polícia turca utilizou bombas de gás lacrimogêneo na noite deste domingo para dispersar milhares de manifestantes reunidos diante do gabinete do primeiro-ministro Erdogan em Istambul, e os confrontos prosseguiam nos bairros próximos.

Os protestos começaram na sexta-feira devido a um projeto de renovação da praça Taksim de Istambul, mas desencadeou manifestações contrárias ao governo em várias cidades do país.

Em Ancara, a polícia dispersou com bombas de gás lacrimogêneo e canhões de água uma multidão de milhares de pessoas que se dirigia à sede do chefe de governo, cantando slogans hostis a Erdogan.

Os manifestantes, obrigados a deter sua passeata diante das barricadas policiais, responderam lançando tijolos e destruindo vitrines de várias lojas. Dois carros foram incendiados, assim como uma banca de jornais.

Segundo a agência Anatolia, estes confrontos deixaram 56 feridos entre as forças de segurança. Vários manifestantes foram detidos. O sindicato de médicos de Ancara havia informado que 414 civis ficaram feridos no sábado em incidentes produzidos na capital, seis deles gravemente.

No centro de Ancara, houve vários feridos e médicos confirmaram que a polícia estava disparando balas de borracha contra os manifestantes. Além disso, a polícia disparou gás lacrimogêneo contra hospitais e edifícios no centro da cidade, causando pânico entre manifestantes e moradores.

Em outros pontos da capital, médicos voluntários montaram pontos de primeiros socorros para atender os feridos e os afetados pela utilização em massa do gás lacrimogêneo. "Há muitos feridos graves e nem todos podem ser atendidos, embora haja médicos voluntários e estudantes de medicina. Os jovens escrevem em seus braços seu grupo sanguíneo como precaução", explicou Ilhan Cihaner, um deputado do opositor Partido Republicano do Povo.

"Venho de um hospital onde está internado um jovem que só respira com o auxílio de aparelhos", acrescentou. "Isto é um movimento popular, que não está coordenado por nenhum partido ou organização, e peço à comunidade internacional que não se esqueça da juventude turca. A atitude do primeiro-ministro está provocando mais violência", denunciou Cihaner.

Em bairros distantes do centro, muitos moradores saíam espontaneamente à rua para erguer barricadas, acender fogueiras e realizar panelaços para exigir a renúncia do governo. As emissoras turcas quase não informam sobre os protestos, o que enfureceu muitos manifestantes que as acusam de serem cúmplices de uma censura imposta pelo governo. "Os meios de comunicação nacionais não informam quase nada sobre as manifestações, temos que seguir o que acontece através de canais estrangeiros", denunciou um estudante.

Por outra parte, em Istambul, a situação parecia mais calma, com milhares de ativistas reunidos na praça Taksim, próxima ao parque Gezi, cuja planejada demolição foi o estopim desta onda de protestos antigovernamentais.

No bairro de Besiktas, a um quilômetro de Taksim, voltaram a recrudescer os enfrentamentos ao anoitecer, com intervenções policiais, enquanto o parque de Gezi segue ocupado por milhares de pessoas, que organizaram turnos de vigilância e abastecimento.

A retirada da polícia ontem foi festejada por milhares de pessoas como uma "vitória", embora hoje Erdogan tenha voltado a afirmar que não desistirá dos planos urbanísticos no centro de Istambul e acusou a oposição de ser responsável pelos protestos contra seu governo.

"Não podemos ficar olhando quando alguns agressores na praça Taksim provocam o povo", advertiu Erdogan em discurso que destoou muito da moderação e conciliação pedida ontem pelo presidente da Turquia, Abdullah Gul. "Quem pagará pelas vitrines quebradas? O que isto tem a ver com a democracia e a luta pelos direitos?", perguntou Erdogan. O primeiro-ministro disse ainda que não levava "a ditadura no sangue" e era um "servidor do povo".

Com suas palavras, Erdogan está longe de tranquilizar os manifestantes que passaram toda a noite no parque Gezi, reocupado após a retirada da polícia. "Não sabemos o que pode se passar, mas está claro que se a polícia retornar, voltaremos a reagir, isto continuará pelo tempo que for necessário", disse Melike, estudante que decidiu ir ao parque para ajudar na limpeza do local.

Mais de 1.700 pessoas são detidas após protestos na Turquia:

Segundo os dados oficiais, nos distúrbios dos últimos dias foram registrados 79 feridos e 939 detidos, que em sua maioria já foram postos em liberdade, enquanto outras fontes, não oficiais, asseguram que 1.500 pessoas precisaram de assistência médica.

Estes números aumentarão com certeza após a divulgação de um balanço da última intervenção em Ancara. Um site da oposição afirmou que um manifestante, um homem de 26 anos, morreu por um disparo recebido ontem na cabeça, mas o caso não foi confirmado oficialmente. Outro manifestante perdeu um olho e duas pessoas seguem desaparecidas

Também em Esmirna, terceira maior cidade turca, e em Adana, no sul de país, foram registrados hoje novos enfrentamentos com a polícia, que, como em Ancara, utilizou abundante material antidistúrbio. Os protestos nestas cidades começaram em solidariedade com as de Istambul, iniciadas na madrugada da sexta-feira após o despejo do parque público, ameaçado pela especulação urbanística.

Com informações das agências AFP e EFE.

Fonte: Terra
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