França: dez anos depois, 90 moradores de prédio destruído durante caça a terroristas seguem traumatizados
A imprensa francesa desta terça-feira (18) lembra o aniversário de 10 anos da operação policial no município de Saint-Denis, na periferia de Paris, que eliminou parte do comando responsável pelos atentatos terroristas de 13 de novembro de 2015. A ação destruiu o imóvel número 48 da rua de la République, onde se escondia um grupo de jihadistas, deixando quase 90 pessoas sem moradia e centenas de traumatizados.
A reportagem do jornal Libération foi até esta região de Saint-Denis onde, na madrugada de 18 de novembro de 2015, unidades de elite especializada em busca e intervenções, cercou os terroristas. Os 86 moradores do prédio onde o grupo se refugiou foram acordados de forma brusca e retirados do local, sem saber o que estava acontecendo. Alguns deles foram temporariamente detidos por suspeita de cumplicidade com os jihadistas e soltos no final das investigações.
A ação policial durou sete longas horas, entre explosões e trocas de tiros, conseguindo eliminar três jihadistas, entre eles, Abdelhamid Abaaoud, considerado o comandante operacional dos atentados do 13 de novembro. O canal BFMTV apurou que cinco mil balas foram usadas para neutralizar os terroristas, levando algumas paredes do imóvel a desmoronar. Quatro moradores foram feridos na operação, parte do prédio foi reduzido a escombros e quase 90 pessoas perderam suas casas e seus pertences.
Em entrevista à emissora, Matthieu Hanotin, na época deputado e hoje prefeito de Saint-Denis, afirma que a população da cidade ficou traumatizada pela operação. "Dezessete mil pessoas foram confinadas no centro da cidade durante a intervenção das forças de segurança. Moradores foram despertados pelo som das munições disparadas. Naquela madrugada, Saint-Denis prendeu a respiração, testemunha silenciosa do fim da caça aos assassinos", diz.
A jovem Leïla, moradora da rua alvo da ação policial, tinha nove anos em 2015. Em entrevista ao jornal Libération, ela lembra da limpeza do local após o fim da operação. Montanhas de pertences calcificados pelas explosões que não puderam ser recuperados pelos moradores foram atirados pelas janelas.
Combate dos desabrigados pelo terrorismo
Enquanto para a França o 18 de novembro de 2015 foi um momento de alívio, para os 86 moradores de Saint-Denis que perderam suas casas, a data marcou o início da luta por dignidade. O status de vítimas do terrorismo, inicialmente recusado pelo ministro da Justiça daquela época, Jean-Jacques Urvoas, só foi reconhecido anos depois.
O jornal Le Figaro lembra que a indenização dos moradores começou a chegar apenas em 2022, no encerramento do julgamento dos autores e cúmplices do 13 de novembro de 2015. No entanto, para a maioria das vítimas, a reparação financeira está longe de ser suficiente.
É o caso da faxineira Halima, que morava em um apartamento próximo à operação policial. Ela conta ao Figaro que a primeira consulta para avaliar o trauma daquela madrugada foi marcada para esta terça-feira, 18 de novembro de 2025. Para ela, essa é uma prova da insensibilidade e do descaso do governo.
Le Figaro também destaca que os moradores foram levados primeiramente a alojamentos temporários em ginásios e hotéis modestos da capital francesa, antes de serem enviados a habitações sociais. Recentemente o prédio que abrigou os terroristas foi demolido, enquanto muitas pessoas ainda aguardam por suas indenizações.
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