"A Melhor Mãe do Mundo", filme de Anna Muylaert, emociona jurados e conquista prêmio em Biarritz
O longa-metragem brasileiro "A Melhor Mãe do Mundo", da diretora Anna Muylaert, conquistou seu vigésimo prêmio ao receber, na noite de quinta-feira (26), o "Coup de cœur" do júri — uma distinção especial concedida ao filme que mais emocionou ou encantou os jurados no Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz. Para a diretora, o reconhecimento é uma prova de que o filme consegue se comunicar com o público, mesmo estrangeiro, ao retratar um drama social na maior cidade da América Latina.
O longa-metragem brasileiro "A Melhor Mãe do Mundo", da diretora Anna Muylaert, conquistou seu vigésimo prêmio ao receber, na noite de quinta-feira (26), o "Coup de cœur" do júri — uma distinção especial concedida ao filme que mais emocionou ou encantou os jurados no Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz. Para a diretora, o reconhecimento é uma prova de que o filme consegue se comunicar com o público, mesmo estrangeiro, ao retratar um drama social na maior cidade da América Latina.
Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI a Biarritz
Lançado no Brasil em agosto deste ano, o longa-metragem de ficção estrelado por Shirley Cruz e Seu Jorge conta a trajetória de uma catadora de lixo que foge com os filhos pequenos em seu carrinho de recicláveis, percorrendo as ruas de São Paulo. Ela tenta escapar de um marido abusivo e transforma a fuga em uma suposta aventura.
Além do apuro estético com que a cineasta filmou a rotina da personagem Gal, moradora da maior metrópole brasileira, o longa faz uma crítica social ao retratar as dificuldades enfrentadas por tantos catadores de lixo no Brasil. O filme também denuncia a violência contra as mulheres.
"Eu queria falar sobre violência entre homem e mulher", disse Anna Muylaert em entrevista à RFI, no balneário de Biarritz, no Sudoeste da França. "Na primeira cena, a Gal faz uma denúncia na delegacia e ela está quebrada, porque é apaixonada por aquele homem. Mas, ao mesmo tempo, ela precisa ir embora. E isso é uma situação muito dramática", diz Muylaert.
A diretora falou sobre a escolha do cantor Seu Jorge para o papel do protagonista. "A distribuidora que financiou o filme queria uma atriz famosa para o papel da Gal. Porém, ficamos muito encantados com o teste da Shirley Cruz, que não era uma atriz tão conhecida. E eles aceitaram, mas no papel do Leandro, sugeriram alguém famoso como, por exemplo, o Seu Jorge", que acabou aceitando o convite.
Focada em proteger os filhos e a inocência deles, a personagem Gal transforma a fuga numa grande aventura, com direito a acampar sob as árvores da praça e tomar banho de chafariz. "São duas realidades: a dificuldade que ela enfrenta e o prazer vivido pelos filhos. E o interessante é que, no final, quando ela diz que era tudo mentira, eles dizem não — afinal, eles tinham vivido a aventura", comenta.
"A Melhor Mãe do Mundo" teve estreia mundial na Berlinale, em fevereiro. De lá para cá, já recebeu prêmios em Guadalajara, Israel e outros festivais internacionais, antes de ser apresentado em Biarritz, na mostra competitiva. "Acho que estamos fazendo uma trajetória bem bonita, porque em todo lugar que a gente vai, a gente ganha prêmio", comemora Anna Muylaert. "E as pessoas gostam muito do filme, escrevem, se comovem. Eu acho que, quando o filme se comunica, a gente já chegou ao nosso objetivo", diz.
A mãe no centro da cena
Ao longo de sua carreira, Anna Muylaert dirigiu várias histórias em que as mães têm uma posição de destaque. É o caso do drama "Que Horas Ela Volta?", com Regina Casé (2015), e "Mãe Só Tem Uma", lançado em 2016. "Eu sempre volto ao papel da mãe porque acho que a sociedade, liderada por homens há muito tempo, ainda não entendeu a importância política da mãe no sentido de ser a educadora de todos", analisa.
"Nós, como sociedade, demos um lugar para a mãe que é o do sagrado, do afetivo. Mas a gente não deu um lugar político", insiste.
"Você vê muitas mulheres aguentando abuso, apanhando do marido porque não têm dinheiro para se separar e criar os filhos", continua. "Conforme as mulheres estão chegando mais perto do poder, elas estão começando a ter uma visão mais política da mãe", destaca. "Eu acho que para a gente melhorar a sociedade, precisamos dar mais estrutura para a figura da mãe", conclui Muylaert.
O próximo projeto da diretora será um filme baseado na música "Geni e o Zepelim", de Chico Buarque, que já está em fase de montagem.