Enterro de menina de 10 anos, vítima mais jovem de atentado em Sydney, gera comoção na Austrália
A vítima mais jovem do atentado antissemita em Sydney, uma menina de 10 anos, foi enterrada nesta quinta-feira (18) no país, ainda em choque com o tiroteio que atingiu a famosa praia de Bondi, no último domingo (14). O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, prometeu sanções mais duras contra o extremismo.
Na funerária Chevra Kadisha, em Sydney, uma multidão vestida de preto se reuniu pela manhã para se despedir de Matilda, uma menina de 10 anos que morreu no hospital devido aos ferimentos sofridos no ataque. Os presentes carregavam buquês de lírios e balões em homenagem à criança, descrita como "um raio de sol", em uma mensagem de sua escola, lida por um rabino.
A família de Matilda, que pediu para a imprensa não divulgar seu sobrenome, havia deixado a Ucrânia para se estabelecer na Austrália na década de 2010. "Nunca imaginei que perderia minha filha aqui. É um verdadeiro pesadelo", disse sua mãe, Valentyna, a repórteres antes do funeral.
Seu pai, Michael, afirmou que escolheu o nome da criança em referência à popular canção "Waltzing Matilda", que se tornou um hino nacional paralelo no seu país de origem.
"Viemos da Ucrânia e Matilda foi nossa primogênita aqui na Austrália", contou no início desta semana. "Eu achava que Matilda era o nome mais australiano que existe. Então, lembrem-se. Lembrem-se do nome dela", disse ele. A tia da menina declarou ao Canal Sete que a irmã mais nova dela, de seis anos, presenciou o ataque.
Membros da comunidade judaica australiana intensificaram suas críticas ao governo esta semana, argumentando que seus alertas sobre o aumento do antissemitismo desde 7 de outubro de 2023, quando ocorreu o ataque do grupo Hamas a Israel, foram ignorados.
Influência de pregadores extremistas
Segundo a emissora pública australiana ABC, um dos autores do atentado, Naveed Akram, de 24 anos, era seguidor de um pregador jihadista de Sydney. Na quarta-feira (17), a polícia acusou o agressor e seu pai, Sajid Akram, de terrorismo e 15 homicídios. O ato foi motivado pela ideologia do grupo jihadista Estado Islâmico, segundo o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese.
Gravemente ferido pela polícia durante o tiroteio, Naveed teria saído do coma na noite de terça-feira, de acordo com a mídia local. Seu pai, de 50 anos, com quem realizou o ataque, foi morto no domingo.
A polícia australiana investiga se os dois homens se encontraram com extremistas islâmicos durante uma viagem às Filipinas, algumas semanas antes do ataque. Funcionários do hotel em Davao City, onde eles se hospedaram, disseram que os dois homens mal saíram de seus quartos durante sua estadia de quase um mês no estado de Mindanao, no sul do país, uma área com focos de insurgência islâmica.
"Eles não eram tão sociáveis quanto outros estrangeiros", comentou Angelica Ytang, recepcionista noturna do hotel, à AFP. As autoridades filipinas afirmaram que não havia provas de que o país estivesse sendo usado para "treinamento terrorista".
Medidas para erradicar o antissemitismo
O chefe do governo australiano anunciou uma série de medidas para erradicar o "antissemitismo de nossa sociedade", em particular para o combate ao discurso de ódio de alguns pregadores e a possibilidade de revogar os vistos daqueles que o disseminam. A Austrália criará uma lista de organizações cujos líderes se envolveram em discurso de ódio.
"É evidente que devemos fazer mais para combater esse flagelo cruel. Muito mais", declarou ele a repórteres.
Após o ataque, o premiê prometeu implementar um controle de armas mais rigoroso no país. Um dos agressores possuía seis armas de fogo registradas.
A polícia australiana também informou ter interceptado dois carros em Sydney, após receber uma denúncia de que "um ato violento poderia estar sendo planejado". "Por enquanto, (...) nenhuma ligação com a investigação policial em andamento sobre o ataque terrorista em Bondi" foi estabelecida, de acordo com um comunicado do Departamento de Polícia de Nova Gales do Sul.
Com AFP