Alerta global de atrocidades no Sudão; queda de El-Fasher intensifica risco de limpeza étnica
A comunidade internacional acompanha com preocupação a escalada do conflito no Sudão após a queda de El-Fasher, último reduto do exército na região oeste. O general Abdel Fattah al-Burhan confirmou no domingo (26) que suas tropas se retiraram da cidade, após a vitória anunciada pelas Forças de Apoio Rápido (FSR), lideradas por Hemedti. El-Fasher, capital estratégica de Darfur do Norte, estava sitiada há 18 meses.
A comunidade internacional acompanha com preocupação a escalada do conflito no Sudão após a queda de El-Fasher, último reduto do exército na região oeste. O general Abdel Fattah al-Burhan confirmou no domingo (26) que suas tropas se retiraram da cidade, após a vitória anunciada pelas Forças de Apoio Rápido (FSR), lideradas por Hemedti. El-Fasher, capital estratégica de Darfur do Norte, estava sitiada há 18 meses.
Com a tomada da cidade, as FSR passam a controlar todas as capitais estaduais de Darfur. Embora o exército tenha inicialmente mantido silêncio, al-Burhan prometeu vingança e afirmou que suas tropas lutarão "até purificar esta terra". O governador de Darfur, nomeado pela Aliança Tasis e leal às FSR, celebrou publicamente a "libertação de El-Fasher".
O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, alertou que El-Fasher enfrenta uma "situação extremamente precária", com risco de "atrocidades motivadas por razões étnicas em larga escala". O escritório de Türk tem recebido relatos alarmantes de execuções sumárias pelas FSR.
As Forças Conjuntas, aliadas do exército, acusaram as FSR de matar mais de 2.000 civis nos dias 26 e 27 de outubro, incluindo mulheres, crianças e idosos. O Laboratório de Pesquisa Humanitária da Universidade de Yale indicou que El-Fasher está passando por um processo "sistemático e intencional de limpeza étnica" contra as comunidades Fur, Zaghawa e Berti. As ações incluem incursões porta a porta e execuções sumárias, podendo configurar crimes de guerra, contra a humanidade e genocídio.
Vídeos divulgados pelas FSR mostram civis famintos e exaustos cercados por combatentes. Comitês de resistência afirmam que muitos foram capturados ao tentar fugir. Uma das filmagens mostra um combatente atirando à queima-roupa em civis desarmados; outra mostra o oficial Abou Loulou executando homens sentados no chão.
Crise humanitária agravada e ataque ao hospital
A população civil de El-Fasher, já em situação de fome após 18 meses de cerco, está no epicentro dos combates. Cerca de 260 mil pessoas — metade delas crianças — estavam isoladas sem acesso a ajuda. Campos de deslocados foram declarados em estado de fome. O governador de Darfur do Norte pediu proteção aos civis.
A crise se agravou após o bombardeio ao único hospital parcialmente funcional, ocorrido no domingo (26). A Rede de Médicos do Sudão denunciou o ataque como "crime de guerra". O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, confirmou que a maternidade do hospital saudita foi atingida, com uma enfermeira morta e três profissionais feridos. Desde domingo, não há comunicação com El-Fasher, dificultando a verificação da situação.
Reações internacionais e temor de partição
O secretário-geral da ONU, António Guterres, lamentou a "terrível escalada" e apelou à comunidade internacional para pressionar países que fornecem armas aos beligerantes. O chefe das operações humanitárias da ONU pediu passagem segura para os civis.
O presidente da Comissão da União Africana condenou as graves violações. A União Europeia expressou "grave preocupação" e afirmou que está documentando todas as violações, garantindo que "não pode haver impunidade".
Massad Boulos, conselheiro especial do presidente dos EUA para a África, classificou a queda de El-Fasher como uma evolução estratégica preocupante. Ele alertou que o conflito pode levar à partição do Sudão, em cenário semelhante ao da Líbia. Analistas observam que o país está dividido ao longo de um eixo leste-oeste, e quanto mais a guerra se prolongar, maior a chance de essa divisão se tornar irreversível.
Desde abril de 2023, o exército e as FSR se enfrentam. O exército conta com apoio de Egito, Arábia Saudita, Irã e Turquia. Os Emirados Árabes Unidos, que negam fornecer armas às FSR, integram o grupo Quad (com EUA, Arábia Saudita e Egito), que busca uma paz negociada — sem avanços nas conversações recentes em Washington.
(com agências)