General Horta N'Tam é empossado e será presidente do governo de transição por um ano na Guiné-Bissau
O anúncio foi feito nesta quinta-feira (27) por militares durante uma coletiva de imprensa na capital Bissau. O chefe do Estado-Maior do Exército foi empossado e agora é o presidente de um governo de transição e do Alto Comando Militar na Guiné-Bissau. O general Horta N'Tam, que ficará à frente do país por um ano, assumiu o controle total do país no dia anterior.
"Acabei de tomar posse como comandante do Alto Comando", declarou o general Horta N'Tam, após prestar juramento durante uma cerimônia discreta, sem execução do hino nacional, no quartel-general do Exército, em Bissau, onde a segurança foi reforçada.
As três Forças Armadas - Exército, Marinha e Aeronáutica - apoiaram oficialmente a posse do general Horta N'Tam em uma transição política que deverá durar 12 meses.
A tomada de poder ocorreu na véspera da publicação dos resultados das eleições presidenciais e legislativas, que foram realizadas no último domingo. O processo eleitoral foi suspenso.
Presidente até esta tomada do poder, Umaro Sissoco Embaló permanece detido no quartel-general do Exército. Segundo fontes, autoridades regionais tentam encontrar um local seguro para ele.
O presidente do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde), Domingos Simões Pereira, também foi preso na quarta-feira (26) e está detido em uma delegacia no centro da capital.
Já Fernando Díaz de Costa, principal adversário de Umaro Sissoco Embaló nesta eleição presidencial, não foi preso. A correspondente da RFI em Dakar, Léa-Lisa Westerhoff, entrou em contato com ele, que afirmou estar escondido e em segurança.
Cinco magistrados também foram presos e impedidos de acompanhar a apuração dos votos das eleições presidenciais da Guiné-Bissau. A Liga dos Direitos Humanos do país garante que outras oito personalidades da oposição foram presas.
O general Horta N'Tam justificou a tomada do poder e elogiou o "esforço conjunto" dos envolvidos durante um discurso de cerca de dez minutos. Ele afirmou que o Exército assumiu o controle diante da ameaça à estabilidade do país. O general alegou ter descoberto um plano envolvendo políticos e narcotraficantes.
"Guiné-Bissau atravessa um período muito difícil em sua história. Estas medidas são necessárias, urgentes e exigem a participação de todos", declarou o general, dirigindo-se a dezenas de soldados fortemente armados mobilizados para a ocasião.
Os militares também anunciaram a reabertura das fronteiras.
Capital Bissau está deserta
A correspondente da RFI em Bissau, Eva Massy, conta que desde quarta-feira as lojas estão fechadas, as ruas desertas e o tráfego de veículos proibido. Segundo Eva, uma forte presença militar é visível. O toque de recolher foi suspenso às 6h da manhã desta quinta-feira e, teoricamente, os moradores estão autorizados a sair de casa. As informações são escassas, já que a mídia local permanece sem poder trabalhar, com exceção da TV e da rádio estatais, que divulgam informações sobre o grupo de militares que tomou o poder.
Diversas pessoas relataram dificuldades para acessar a internet e fazer ligações. Na manhã desta quinta-feira, o PAIGC convocou seus apoiadores, por meio das redes sociais, para se reunir em frente ao Ministério do Interior e exigir a libertação de Domingos Simões Pereira. No entanto, não foi possível verificar se os apoiadores receberam a mensagem e se, de fato, compareceram ao local. Dada a atmosfera tensa na cidade, é possível que a concentração não tenha ocorrido. As ruas ao redor do palácio presidencial estão sob forte vigilância. Os arredores da capital são patrulhados por soldados.
Guiné-Bissau tem 2,2 milhões de habitantes e sofre com graves problemas de corrupção. O país é conhecido por ser usado como plataforma do tráfico de drogas entre a América do Sul e a Europa, um problema favorecido por sua antiga e crônica instabilidade política.