Cúpula UE-União Africana em Luanda busca redefinir parceria entre continentes
Luanda recebe de segunda-feira (24) até terça-feira cerca de 80 chefes de Estado e de governo que participam da cúpula conjunta da União Africana e da União Europeia. Em sua 7ª edição, o encontro tem como tema "Promover a paz e a prosperidade por meio de um multilateralismo efetivo".
Paulina Zidi, enviada especial da RFI a Luanda
Na agenda dos chefes de Estado da União Africana e da União Europeia em Angola estão duas sessões temáticas, onde serão discutidos temas de paz, segurança, governança e multilateralismo. Esta será a ocasião para abordar as crises e conflitos nos dois continentes, como na Ucrânia, Sudão, leste da República Democrática do Congo (RDC) e também no Sahel. Em seguida, os líderes africanos e europeus se reunirão em torno de questões de cidadania, migrações e mobilidade.
A sétima cúpula UE-UA é a terceira edição realizada no continente africano, depois do Cairo em 2000 e de Abidjan em 2017. O encontro busca "uma parceria robusta, equilibrada e voltada para o futuro", como afirmou o presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa.
Futuro em questão
Mas esse futuro comum levanta dúvidas. "A relação entre a África e a Europa precisa ser revisitada", avalia Pascal Saint-Amans, professor da Universidade de Lausanne, na Suíça, presente em Luanda. "Os intercâmbios econômicos estiveram por muito tempo em uma relação colonial, mas acredito que, com a revisão global da geopolítica mundial, temos agora uma relação mais em pé de igualdade, menos paternalista, e isso é algo muito positivo", avalia.
É justamente nesse sentido que a União Europeia lançou o Global Gateway, uma estratégia anunciada em 2021, que visa mobilizar mais de € 300 bilhões em investimentos até 2027, dos quais €150 bilhões destinados à África. Esse tema foi especialmente abordado na manhã desta segunda-feira (24), durante o fórum empresarial que precedeu a cúpula dos chefes de Estado e de governo.
"Atenção, porém", avalia um membro da delegação europeia encontrado em um dos hotéis da capital angolana, "para não cairmos no business acima de tudo", questionando: "A União Europeia representa valores; se os abandonarmos, quem seremos nós?"
Para muitos presentes, é preciso continuar falando sobre governança e direitos humanos. "Não devemos ter a mesma oferta que outros parceiros", insiste um dos participantes, mirando a China e a Rússia, sem citá-las diretamente.
Urgência humanitária
Outro parâmetro importante na redefinição dessa relação é o papel da União Europeia nas respostas humanitárias no continente. Hoje, a UE se tornou, em alguns casos, como na RDC, o principal financiador do setor, consequência da redução das ajudas vindas dos Estados Unidos. Trata-se, portanto, de encontrar um novo equilíbrio entre ajuda e investimento.
A UE também coloca mais ênfase nas questões econômicas e de segurança, em detrimento da democracia e dos direitos humanos, como destaca o membro do quadro de concertação nacional da sociedade civil congolesa, Danny Singoma.
"Quando interpelamos a UE, nos dizem: 'não, eu não me envolvo nos assuntos internos, apenas ajudo no plano econômico e humanitário'. E isso, nós queremos que mude."