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África

Álbum acústico de Ricardo Vilas celebra conexões entre música do Brasil e de Angola

Após mais de 55 anos de carreira e 28 álbuns, Ricardo Vilas lança Vilas Maravilha, em parceria com o grupo angolano Banda Maravilha. Neste novo trabalho, o músico, pesquisador e produtor celebra o encontro musical entre Brasil e Angola e busca "desmistificar" a cultura africana para os brasileiros.

15 dez 2025 - 10h48
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Gravado em Luanda e mixado e masterizado no Rio de Janeiro, o álbum reúne 12 faixas e, segundo o compositor, "é um gesto político sonoro de reconexão entre dois territórios irmãos unidos por uma musicalidade compartilhada". Vilas contou que seu primeiro contato com músicos angolanos ocorreu em Paris, onde se exilou nos anos 1970, durante a ditadura militar no Brasil.

O músico e pesquisador Ricardo Vilas, no estúdio da RFI em 21 de novembro de 2025. Ele lança o álbum "Vilas Maravilha" com o grupo angolano, Banda Maravilha.
O músico e pesquisador Ricardo Vilas, no estúdio da RFI em 21 de novembro de 2025. Ele lança o álbum "Vilas Maravilha" com o grupo angolano, Banda Maravilha.
Foto: © Ana Carolina Peliz / RFI

"Havia muitos angolanos aqui. Angola estava em guerra colonial contra Portugal e muitos tinham saído por causa dessa guerra. O que me impressionou muito porque os músicos angolanos conheciam profundamente a música brasileira e o repertório que estava tocando — e não tinha internet nessa época", sublinha. "Eles muitas vezes se faziam passar por brasileiros para poder trabalhar, porque a música angolana não tinha muito mercado naquele momento."

O contato com a música do país africano despertou a curiosidade do brasileiro, que decidiu realizar uma tese de doutorado para pesquisar a relação entre a música brasileira e a africana. "A gente escuta muito no Brasil que a música brasileira tem raízes africanas, e eu quis entender um pouco mais isso", diz. "Eu foquei em Angola, que é o país mais próximo de nós, geograficamente e culturalmente."

A pesquisa levou Vilas a Angola em 2012, onde fez vários contatos com músicos, "alguns importantes no momento da luta ou da libertação, porque Angola teve uma luta muito selvagem", afirma, referindo-se à guerra civil que durou de 1975 a 2002. "A música tinha um papel muito importante nesse processo. Foi um cimento para a identidade angolana."

"Lá, eu inclusive vi que vários dos músicos importantes da música angolana começaram fazendo música brasileira", conta, citando nomes como Liceu Vieira, considerado o pai da música popular angolana. "Antes de fundar o grupo paradigmático Ngola Ritmos, ele fez um grupo de música brasileira."

Durante essa visita, Vilas também conheceu a Banda Maravilha, uma das mais longevas e conhecidas do país, com quem realizou seu último trabalho.

Semba e samba

Em Vilas Maravilha, o músico explora diversos ritmos angolanos e africanos, entre eles o semba.

"Os angolanos gostam de falar que o samba vem do semba, mas nós sabemos que a primeira gravação do samba considerada oficial foi em 1917, 'Pelo Telefone', e o samba se estrutura enquanto música popular nos anos 1950. Quer dizer, o samba não vem do semba", explica. "Porém, é verdade que o samba e o semba vêm dos batuques e se desenvolveram de forma diferente em Angola e no Brasil", defende.

"Então, a raiz comum é essa: a música brasileira tem muito da música africana, com certeza, mas não só. A música brasileira recebeu e recebe muitas influências", completa.

Metade das músicas do álbum, totalmente acústico, foi composta por Vilas. As outras seis canções são de compositores tradicionais angolanos, como David Zé e Carlos Lamartini, e também de nomes atuais, como Paulo Flores. Duas composições foram feitas em parceria com Filipe Zau, músico e atual ministro da Cultura de Angola.

"O Brasil é muito conhecido em Angola, a música brasileira é muito conhecida. O inverso não. É praticamente inexistente a música angolana no Brasil", lamenta Vilas, que pretende mudar esse olhar. "No Brasil, a música angolana não desperta muito interesse."

Para ele, o álbum tem o objetivo de mostrar a proximidade das músicas dos dois países, mas, sobretudo, de "desmistificar" um pouco a cultura africana. "Existe uma África contemporânea, uma África que cria cultura super rica, super diversa", afirma, dizendo que quer "abrir um pouco os olhos e os ouvidos das pessoas para isso".

"Porque a África não é só aquela África ancestral da época dos escravos. Não é só isso", conclui. "Eu acho que é importante desmistificar e mostrar isso, até para combater o preconceito da sociedade brasileira."

RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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