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Uso de prata coloidal não é seguro nem eficaz para eliminar 'cocô velho'

SUBSTÂNCIA NÃO É APROVADA COMO MEDICAMENTO PELA ANVISA E PODE CAUSAR EFEITOS COLATERAIS; COLOPROCTOLOGISTA EXPLICA QUE FEZES ANTIGAS NÃO FICAM PRESAS NO INTESTINO

31 jul 2025 - 16h11
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O que estão compartilhando: vídeo em que uma mulher recomenda a ingestão de prata coloidal a pessoas que têm intestino preso, sob a alegação de que a solução eliminaria "cocô velho". A substância promoveria uma "desparasitação natural" e prepararia o intestino para absorver nutrientes. No início da gravação, uma legenda sobre a imagem sugere que o consumo do líquido também promoveria o emagrecimento.

Prata coloidal não limpa intestino nem tem comprovação de efeitos benéficos quando ingerida
Prata coloidal não limpa intestino nem tem comprovação de efeitos benéficos quando ingerida
Foto: Reprodução/Instagram / Estadão

O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Não há evidências científicas de que a ingestão de prata coloidal, uma solução com minúsculas partículas de prata em líquido, seja segura ou eficaz no tratamento de qualquer problema de saúde. Além de não trazer benefícios, o uso por via oral pode provocar efeitos colaterais, como a argiria, doença que deixa a pele com coloração cinza-azulada devido ao acúmulo de prata no corpo. De acordo com o coloproctologista e cirurgião do aparelho digestivo Lucas Horcel, não há base científica para a ideia de eliminar "cocô velho" (saiba mais abaixo). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que não há medicamento autorizado no Brasil para uso oral com prata ou prata coloidal.

O Verifica entrou em contato com o perfil responsável pela publicação, mas não obteve retorno até o fechamento desta verificação.

Saiba mais: publicado em um perfil no Instagram que propõe ajudar pessoas a emagrecerem por meio da limpeza do intestino, o vídeo verificado recomenda o uso da prata coloidal como uma solução para eliminar fezes antigas em pessoas com constipação, e associa esse efeito à perda de peso. No entanto, a ideia de que haveria "cocô velho" acumulado no intestino não tem respaldo científico. Também não existem evidências de que o produto indicado seja capaz de promover a eliminação de fezes.

Ao Verifica, o coloproctologista Lucas Horcel, que é membro da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), explicou que a comunicação da boca até o ânus se dá por meio de um único tubo digestivo, onde os alimentos são processados de forma contínua. Por isso, não é possível que uma grande quantidade de fezes antigas permaneça parada, já que elas são empurradas pelas novas.

Segundo Horcel, o que pode ocorrer é a permanência de pequenos resíduos entre as mucosas intestinais, mas a própria atividade natural do intestino elimina essas fezes.

"Não tem esse negócio de ficar fezes presas no intestino. Nosso intestino é o único que é capaz de retirar as fezes por si próprio. Claro, quando está funcionando de forma saudável", informou.

Em condições que impedem o transporte das fezes, como a constipação e atonia colônica, que são disfunções gerais do intestino, o coloproctologista acrescentou que o bloqueio afeta tanto as fezes antigas quanto as novas. Nesses casos, o especialista afirmou que não é a prata coloidal que vai tratar o problema.

"Não é como se o cocô novo passasse e deixasse o cocô velho para trás", disse.

Os tratamentos seguros e comprovadamente eficazes envolvem, de acordo com Horcel, mudanças no estilo de vida, como beber quantidades suficientes de água, manter uma alimentação saudável e educação intestinal, que consiste em não segurar a vontade de ir ao banheiro. Dependendo do caso, também pode ser necessário o uso de medicações, como laxantes não irritativos, emolientes fecais e outros tipos de laxantes.

Não há evidências de que leite de caixinha e glúten causam câncer colorretal

Uso oral de prata coloidal pode causar danos à saúde e não tem benefícios comprovados

A prata coloidal nada mais é do que uma solução composta por minúsculas partículas de prata suspensas em um líquido. De acordo com o National Center for Complementary and Integrative Health (NCCIH), órgão do governo dos Estados Unidos voltado à pesquisa de terapias alternativas, ela era usada para tratar infecções e feridas antes de os antibióticos ficarem disponíveis.

Atualmente, a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos EUA equivalente à Anvisa, afirma que a substância não é segura nem eficaz no tratamento de nenhuma doença ou condição (aqui).

Segundo o coloproctologista Horcel, a substância tem defensores na medicina alternativa. No entanto, não há trabalhos científicos bem estruturados que comprovem seus benefícios no tratamento de problemas de saúde. Já a prata - não a coloidal - possui aplicações na medicina tradicional, comentou o especialista.

"A prata é usada no tratamento de feridas porque tem uma boa capacidade de combater micro-organismos em pele. Ela é eficaz contra algumas bactérias, por isso, têm alguns curativos que usam alginato de prata, sulfadiazina de prata em sua composição", explicou.

Ao Verifica, a Anvisa informou que o único medicamento autorizado que contém prata como princípio ativo é o "Nitrato de prata Ifal", de uso tópico indicado para remoção de verrugas e outros pequenos crescimentos da pele. Segundo a agência, uma busca pelo termo "sulfadiazina de prata" identificou outro medicamento autorizado chamado Dermazine, também de uso tópico.

"Desta forma, não há recomendação de uso: como a Anvisa ainda não avaliou produtos contendo prata coloidal para uso oral, não é possível afirmar que esta substância seja segura para uso em seres humanos ou mesmo que seja eficaz", informou a agência em nota.

De acordo com o órgão do governo dos EUA dedicado à pesquisa de terapias alternativas, o uso de prata coloidal pode causar efeitos colaterais graves e má absorção de determinados medicamentos, como alguns antibióticos. Entre os riscos associados à substância estão a argiria, condição que provoca a descoloração cinza-azulada da pele, além de possíveis danos aos rins, ao fígado e ao sistema nervoso.

'Desparasitação natural' apontada como benefício da eliminação de 'cocô velho' não existe, afirma especialista

No vídeo verificado, a autora afirma que a eliminação de cocô velho promoveria uma "desparasitação natural" e prepararia o intestino para absorver nutrientes. A alegação também é falsa. Segundo Horcel, o termo "desparasitação" remete a um discurso que se aproxima da pseudociência.

Conforme explicou o especialista, ao falar em desparasitação, estamos nos referindo à presença de um parasita no intestino. Por isso, não se pode recorrer a uma solução que promete "desparasitar" sem nem mesmo saber se existe um parasita no organismo.

"Parasita sempre configura uma condição de doença, porque gera uma relação de hospedeiro que traz malefícios", comentou. "Idealmente, para realizar a desparasitação, é necessário ter algum diagnóstico".

O diagnóstico, segundo o coloproctologista, é feito por meio de exames que permitem identificar qual é o parasita.

Horcel explicou que o que pode ocorrer no intestino é um processo chamado disbiose intestinal. É um desequilíbrio entre a flora bacteriana saudável e a flora bacteriana não saudável, ou patogênica, que é capaz de causar doenças. Esse desequilíbrio, no entanto, não tem relação com a presença de um parasita.

"Parasita é alguma coisa que não mora no nosso intestino. A disbiose é a bactéria que já mora no nosso intestino, só que ela está crescendo um pouco mais do que devia", disse.

"Significa que você precisa fazer algum tipo de terapia, alguma mudança no estilo de vida, ou entrar com um antibiótico específico para aquela bactéria que está crescendo mais em relação às benéficas", explicou o especialista.

Estadão
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