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Sede da COP30, Brasil 'sabota' o evento ao apostar em petróleo na Amazônia e põe em risco líderança climática

Governo autorizou a exploração de petróleo em alto-mar na região amazônica. O projeto envolveu uma longa disputa entre o Ibama e a Petrobras

21 out 2025 - 06h42
(atualizado às 07h47)
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Resumo
A menos de um mês da COP30, o Brasil autorizou a exploração de petróleo na Amazônia, gerando críticas de ambientalistas e imprensa internacional, que apontam contradições no discurso sustentável do governo e riscos à liderança climática do país.
Arquipélago do Bailique, Macapá, Amapá, Brasil. Barco navega junto à margem do rio Amazonas, já muito próximo da sua foz. A região é considerada uma nova fronteira energética, com características geológicas semelhantes às da Guiana.
Arquipélago do Bailique, Macapá, Amapá, Brasil. Barco navega junto à margem do rio Amazonas, já muito próximo da sua foz. A região é considerada uma nova fronteira energética, com características geológicas semelhantes às da Guiana.
Foto: © Rui Brandão / CC/ Wikipédia / RFI

A menos de um mês da COP30 em Belém, o governo autorizou a exploração de petróleo em alto-mar na região amazônica. O projeto, debatido há cinco anos, envolveu uma longa disputa entre o Ibama e a Petrobras. ONGs denunciam a decisão como um retrocesso. A decisão provocou forte reação de ambientalistas e da imprensa internacional. O britânico The Guardian classificou a medida como "um golpe à imagem verde do país", alertando para riscos à credibilidade do Brasil como liderança climática. 

A autorização para perfuração de um poço submarino a cerca de 500 quilômetros da foz do rio Amazonas revela contradições entre o discurso oficial e as ações práticas do governo. Embora o Brasil se apresente internacionalmente como defensor da transição energética e de um futuro sustentável, a aposta em combustíveis fósseis levanta dúvidas sobre sua real disposição em liderar a agenda ambiental. Essa incoerência poderia comprometer a confiança internacional e enfraquecer o papel do país como referência em justiça climática.

A região da Foz do Amazonas é considerada uma nova fronteira energética, com características geológicas semelhantes às da Guiana, onde foram feitas grandes descobertas de petróleo nos últimos anos. Ainda assim, especialistas alertam para os riscos ambientais e para a complexidade técnica da operação, devido às fortes correntes marítimas e à vulnerabilidade da biodiversidade local.

"É inaceitável que o governo continue promovendo a exploração de petróleo e gás na bacia amazônica, uma área vital para a proteção do clima e da biodiversidade. Essa decisão enfraquece os compromissos com a transição energética e coloca comunidades, ecossistemas e o planeta em risco", reagiu Clara Junger, coordenadora da campanha no Brasil da Iniciativa pelo Tratado de Combustíveis Fósseis. "Ao contrário do que afirma o governo, a receita do petróleo contribui com apenas 0,06% para a transição. Precisamos de um acordo global para encerrar a extração de petróleo de forma justa, equitativa e sustentável. Até lá, o mínimo que devemos fazer é impedir novas expansões", considera.

"Autorizar novos projetos de petróleo na Amazônia não é apenas um erro histórico — é insistir em um modelo que já fracassou. A história do petróleo no Brasil mostra isso: lucros gigantescos para poucos, e desigualdade, destruição e violência para as populações locais", destacou Ilan Zugman, diretor para a América Latina e Caribe da 350.org. "É urgente construir um plano de transição energética justo, baseado em fontes renováveis — que respeite os povos indígenas, comunidades quilombolas e ribeirinhas, e garanta que eles sejam protagonistas nas decisões sobre clima e energia, inclusive na COP30", ressaltou.

"Um discurso verde manchado de óleo"

"Um discurso verde manchado de óleo", critica o Greenpeace Brasil. Para a ONG, a decisão de iniciar a perfuração expõe as contradições do país. Mariana Andrade, coordenadora da frente de oceanos da organização, afirma que "o mundo recebe um recado claro: embora o Brasil fale em futuro sustentável e transição energética, continua preso ao passado dos combustíveis fósseis". "Essa contradição enfraquece a confiança internacional e compromete o papel que o país poderia exercer como referência em justiça ambiental", sublinha.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva argumenta que os recursos provenientes da exploração petrolífera podem ser usados para financiar a transição ecológica. No entanto, o local escolhido para a atividade está inserido em uma vasta área de preservação ambiental, considerada berço de um dos maiores conjuntos de corais e manguezais do mundo. 

"É um risco para ecossistemas únicos e para comunidades que dependem do mar e dos rios para sobreviver. Estamos falando da Amazônia, um território onde a água está conectada à floresta e agora se vê ameaçada pela atividade petrolífera", disse Andrade à RFI

Diante da decisão, o Observatório do Clima, que reúne diversas organizações não governamentais, anunciou que pretende recorrer à Justiça para denunciar irregularidades e falhas no processo de autorização. "Isso torna a vida do Brasil mais difícil, no sentido de cobrar [uma postura ecorresponsável de] outros países", considera Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima (OC).

É só a gente fazer um cálculo simples. Quem ficou feliz com essa decisão? Foram os ambientalistas, aqueles que lutam para que a gente faça a transição para fora dos combustíveis fósseis, ou foram as petroleiras, aqueles países que tentam travar as negociações climáticas? Ou foi o governo Donald Trump, por exemplo, que é um negacionista do clima? Esses últimos é que ficaram felizes. Isso acaba prejudicando quem vai liderar a conferência do clima." (Márcio Astrini, do Observatório do Clima)

Ele salientou que as duas pessoas que lideram a presidência brasileira da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago e Ana Toni, diretora-executiva, são comprometidas com a agenda ambiental, mas elas precisam ter espaço para poder fazer o trabalho, incluindo cobrar ações dos outros países. "Agora, se dentro de casa, seu próprio governo está demonstrando que, há 20 dias da conferência, que ele é capaz de liberar uma exploração petrolífera, com certeza não se está dando o apoio necessário para essa presidência [da COP30]", sublinha o ambientalista.

"Nós não temos mais tempo a perder. A gente precisa de quem tem compromisso, capacitação, poder de decisão e conforto para poder fazer avançar as agendas. Esse tipo de decisão vai exatamente no caminho contrário", rebate Astrini. 

Repercussão na imprensa internacional

A decisão do governo brasileiro de autorizar a Petrobras a perfurar um poço de petróleo gerou forte reação também na imprensa internacional, como o jornal britânico The Guardian, que classificou a medida como um duro golpe à "imagem verde" que o país tenta projetar às vésperas da COP30. Segundo o Guardian, a decisão lança uma sombra sobre as ambições ecológicas do Brasil e compromete sua liderança no debate climático global.

The Guardian destacou que, embora Lula defenda o uso dos recursos do petróleo, a exploração ocorre em uma área de alta sensibilidade ambiental, lar de comunidades indígenas e de ecossistemas únicos. A publicação britânica também lembrou que, inicialmente, o Ibama havia negado a licença em 2023. 

A publicação britânica classificou a decisão como "desastrosa do ponto de vista ambiental, climático e da sociobiodiversidade", alertando para os impactos irreversíveis que a exploração pode causar na maior floresta tropical do planeta.

Segundo a rede Al Jazeera, a autorização para perfuração na chamada Margem Equatorial expõe as contradições do governo Lula, que ao mesmo tempo em que defende metas como "desmatamento zero" e "emissões zero", pressiona órgãos ambientais para liberar projetos de exploração de petróleo.

Lula admite problemas em Belém, mas defende COP30:

Nicole Oliveira, diretora do Instituto Arayara, entrevistada pelo canal, afirmou que "não há sinais de uma transição energética real por parte do governo, e que há uma pressão crescente para liberar novas áreas de exploração, inclusive sem consulta adequada às comunidades locais".

A agência Associated Press ressaltou que o bloco FZA-M-059, onde ocorrerá a perfuração, está localizado em uma área de alta biodiversidade, com manguezais e recifes de coral pouco estudados. A coordenadora do Observatório do Clima, Suely Araújo, entrevistada pela AP, afirmou que o governo brasileiro "age contra a humanidade ao estimular a expansão dos combustíveis fósseis e apostar em mais aquecimento global". Ela também alertou que a decisão prejudica a própria COP30, cujo objetivo central deveria ser a eliminação gradual dos combustíveis fósseis.

(*Com agências)

RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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