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Polícia

RS: 'ele não vai fugir', diz defesa de vereador preso em fraude do leite

Advogado de Larri Lauri Jappe (PDT) entrou com pedido de liberdade após prisão em Horizontina

22 mai 2013 - 18h03
(atualizado em 24/5/2013 às 17h06)
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<p>O promotor Mauro Rockenbach analisa a documentação da empresa do vereador</p>
O promotor Mauro Rockenbach analisa a documentação da empresa do vereador
Foto: Marjuliê Martini / MP-RS / Divulgação

O advogado Cássio Gelain, que representa o vereador de Horizontina Larri Lauri Jappe (PDT), entrou com um pedido de liberdade provisória na Justiça do Rio Grande do Sul nesta quarta-feira, depois que seu cliente foi preso por suspeita de envolvimento na adulteração do leite no Estado com o uso de água e ureia. Entre os detidos pelo Ministério Público (MP) na segunda fase da Operação Leite Compen$ado, além do vereador, estão dois empresários - os irmãos Adelar Roque e Antenor Pedro Signor, sócios da empresa Aérea - e o motorista de uma das empresas que fazia o transporte do produto, Odirlei Fogalli. A investigação aponta que o grupo adulterou cerca de 120 mil litros de leite em três meses.

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"A prisão dele decorre do risco de fuga e nós alegamos que ele pode recorrer ao processo em liberdade, pois ele se afastou da empresa e da Câmara de Vereadores e está contribuindo para as investigações. Ele mora há 20 anos no mesmo local e não vai fugir, tanto é que foi preso em casa", argumentou Gelain. Na primeira fase da operação, o MP já tinha solicitado o mandado de prisão para Jappe, mas o pedido foi negado. Segundo o promotor Mauro Rockenbach, a renovação do pedido foi motivada pela comprovação através de escutas telefônicas de que existia o risco de ele fugir do País. 

Na empresa do vereador, a Lari Laurri Jappe e Cia Ltda, a polícia apreendeu no início do mês documentos, dois caminhões e 59 sacos de ureia. Foram encontradas ainda pela receita estadual notas fiscais de procedência duvidosa. "Se pretear nós te atravessamos para a Argentina", teria dito o advogado de Jappe no diálogo interceptado. O MP informou que o vereador tinha conseguido recursos do Ministério da Agricultuta para ampliar a cooperativa de leite. Ele já é investigado pelo próprio MP porque teria reformado um automóvel Fusca por R$ 18 mil com dinheiro da prefeitura.

Além das quatro detenções, também foi decretada novamente a prisão de Daniel Riet Villanova, que já estava recolhido no Presídio Estadual de Espumoso desde a primeira fase da operação. “Foi possível apurar a sua associação também com os fraudadores de Rondinha”, explicou Rockenbach. 

Apreensões

Nos trabalhos desta manhã foram apreendidos três caminhões utilizados para o transporte de leite, notas fiscais que comprovam a aquisição de ureia e planilhas com os dados do recolhimento do produto alimentício junto a produtores. Na residência do transportador Paulo Rogério Schultz, que teve o pedido de prisão negado, em Boa Vista do Buricá, foi encontrado um escrito contendo a fórmula possivelmente utilizada para a adulteração do leite. Com Adelar Roque Signor foi recolhida uma arma calibre 36 sem registro. 

Somente em Rondinha, 11 laudos do Ministério da Agricultura, entre os meses de fevereiro e maio deste ano, confirmaram a presença de formol no leite cru, somando um total de 113 mil litros impróprios para o consumo da população.

Todo o produto tinha como destino a Confepar, uma união de cooperativas agropecuárias do norte do Paraná. Conforme a investigação do MP, o elo entre os transportadores e a cooperativa do PR era Daniel Villanova. Segundo o promotor, nessa fase não é possível dizer quais as marcas envolvidas. 

CPI em Horizontina

A Câmara de Vereadores de Horizontina instalou nesta quarta-feira uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar a quebra de decoro parlamentar do vereador Larri Lauri Jappe (PDT). A comissão será presidida por Alessandro Rafael dos Santos (PTB) e terá como relator Rafael Tiago Godói (PMDB). Os parlamentares irão se reunir novamente para debater sobre o assunto na próxima segunda-feira, às 9h. 

A operação

As investigações do Ministério Público começaram em fevereiro deste ano e comprovaram que empresas gaúchas de transporte de leite adulteraram o leite cru entregue para a indústria. Uma das fraudes identificadas é a da adição de uma substância semelhante à ureia e que possui formol em sua composição. A adulteração consiste no crime hediondo de corrupção de produtos alimentícios, previsto no artigo 272 do Código Penal. 

Operação Leite Compen$ado prende mais quatro pessoas:

A simples adição de água, com o objetivo de aumentar o volume, acarreta perda nutricional, que é compensada pela adição da ureia – produto que contém formol em sua composição – e é considerado cancerígeno pela Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer e pela Organização Mundial de Saúde (OMS). 

A fraude foi comprovada através de análises químicas do leite cru, onde foi possível identificar a presença do formol, que mesmo depois dos processos de pasteurização, persiste no produto final. Com o aumento do volume do leite transportado, os "leiteiros" lucravam 10% a mais que os 7% já pagos sobre o preço do leite cru, em média R$ 0,95 por litro. 

O total de leite movimentado pelo grupo, no período de um ano, chega a 100 milhões de litros. Mais de 100 toneladas de ureia foram compradas pelos envolvidos para utilização na prática criminosa.

A Operação Leite Compen$ado foi deflagrada no dia 8 de maio e desarticulou o esquema de adulteração de leite. A investigação mapeou que a fraude não estava sendo praticada pela indústria nem pelo produtor de leite, mas pelo transportador. 

Nove pessoas foram presas. Durante o cumprimento dos 13 mandados de busca e apreensão, foram recolhidos diversos caminhões utilizados no transporte do leite, cerca de 60 sacos de ureia, R$ 100 mil em dinheiro, uma régua com a fórmula utilizada para medir a mistura adicionada ao leite, revólveres e pistolas, soda cáustica, corantes, coagulantes líquidos e emulsão para obtenção de consistência, entre outros produtos e documentos. Até o momento, a Justiça aceitou a denúncia contra 13 envolvidos. 

Confira as marcas que apresentaram adulteração por formol conforme laudos de laboratórios credenciados pelo Mapa:

MARCA LOTE
Italac Integral L05KM3, L13KM3, L18KM3, L22KM4 e L23KM1 

Italac Semidesnatado
L12KM1
Líder UHT Integral TAP1MB (produzido em 17/12/2012 e com validade até 17/04/2013)
Mu-Mu UHT Integral 3ARC
Latvida UHT Semidesnatado Lote 190, de 2 de abril de 2013; 
Lote 193, de 5 de abril de 2013;
Lote 103, de 18 de abril de 2013 
Só Milk e Latvida UHT Desnatado Lote 188, de 4 de abril de 2013;
Lote 198, de 10 de abril de 2013;
Lote 202, de 11 de abril de 2013;
Lote 104, de 15 de abril de 2013;
e leite com fabricação em 16 de fevereiro de 2013 e validade até 16 de junho de 2013
Hollmann, Goolac, Só Milk e Latvida UHT Integral Lote 103, de 1º de abril de 2013;
Lote 184, de 3 de abril de 2013;
Lote 189, de 4 de abril de 2013;
Lote 190, de 5 de abril de 2013;
Lote 196, de 9 de abril de 2013;
Lote 200, de 10 de abril de 2013;
Lote 201, de 19 de abril de 2013;
Lote 202, de 20 de abril de 2013;
Lote 204, de 21 de abril de 2013;
Lote 205, de 22 de abril de 2013
Fonte: Terra
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