Por que é um absurdo ainda existir "testes de virgindade"?
Caso de mexicana que trabalhava no Comitê Organizador da Copa do Mundo coloca sob holofotes prática violenta
A mestre em economia Paola Schiettekatte trabalhava no Comitê Organizador da Copa do Mundo há quase um ano e meio quando seu apartamento em Doha, no Catar, foi invadido por um conhecido em junho de 2021. Ao denunciar a agressão às autoridades locais, passou de vítima para acusada, tendo em vista que no país, sexo fora do casamento é crime.
“Já não interessava a agressão, interessava investigar a relação fora de um casamento. E me interrogaram em árabe por três horas. Esse interrogatório que fizeram foi simplesmente com o objetivo de me incriminar. Uma das primeiras coisas que me pediram foi uma 'prova de virgindade'", relatou Paola em entrevista ao "Fantástico", na noite de domingo (1).
Durante o relato, a economista reforçou o quanto o procedimento não faz sentido: "Tem mulheres que nascem sem hímen, tem mulheres que não têm hímen, perdem na infância. Não é garantia de nada. E, além de ser anticientífico, é violento", afirmou.
E quem imagina que a prática se restringe aos países mais conservadores subdesenvolvidos, se engana. Em 2020, uma investigação do programa de rádio Newsbeat e do projeto 100 Women (100 Mulheres), ambos da BBC, revelou que "testes de virgindade" estão sendo feitos em mulheres em clínicas médicas privadas britânicas e identificou 21 clínicas. Sete confirmaram que oferecem o "teste".
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), 20 países ainda praticam o chamado "teste de virgindade". Oficialmente não é o caso do Brasil, porém, recentemente, dois concursos públicos fizeram a exigência. O primeiro, para o cargo de Agente de Organização Escolar da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, em 2014, tinha como justificativa, a "liberação de testes ginecológicos intrusivos".
Outro caso que chamou atenção foi o do concurso do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, em 2016, em que mulheres deveriam apresentar laudo do Papanicolau ou comprovar que não tiveram o hímen rompido. Em nota, a corporação disse não considerar a medida discriminatória e afirmou que o objetivo era aferir “a condição física e laboral dos candidatos”.
No primeiro caso, a Defensoria Pública abriu investigação após receber uma denúncia assinada por várias mulheres.