Protagonista da Globo defende aborto e critica ausência de mulheres no Senado: 'Nossos corpos não seriam tão invalidados'
Ao Terra, Alana Cabral se diz honrada em ser porta-voz de assuntos pertinentes, como gravidez, aborto e abandono parental
A atriz Alana Cabral destaca a importância de abordar a gravidez na adolescência na novela "Três Graças" como forma de fomentar debates sobre direitos das mulheres e conscientização, criticando a invalidação dos corpos femininos e a falta de proteção social às jovens mães.
A atriz Alana Cabral, de 18 anos, está vivendo um dos melhores momentos de sua carreira. Protagonista de Três Graças (Globo), ela tem tido a oportunidade de fomentar debates importantes por meio de sua personagem: Joélly, filha de Gerluce (Sophie Charlotte) e neta de Lígia (Dira Paes), que enfrenta bullying e outros desafios da gravidez na adolescência.
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Ao longo dos capítulos, a personagem já precisou lidar com a ausência de apoio parental, o julgamento das colegas de escola e até com a sugestão do pai do bebê, Raul, interpretado pelo ator Paulo Mendes, de “não ter a criança”. Para Alana Cabral, ser porta-voz de assuntos tão pertinentes é uma honra, mas também evidencia o quanto ainda há a caminhar em relação aos direitos das mulheres na sociedade.
“São debates que a gente, na verdade, não deveria ter em 2025. Se a gente parar para pensar, se o Senado fosse majoritariamente de mulheres, esses debates não existiriam. Os nossos corpos não seriam tão invalidados desse jeito. A gente teria a proteção e o amparo necessários para uma gravidez na adolescência. Não é justo uma menina grávida ter o emocional tão sacrificado simplesmente por não ser ouvida”, disse ela, em entrevista exclusiva ao Terra.
A atriz reconhece também que o texto de Aguinaldo Silva, autor da novela, aborda esses temas de maneira sutil, permitindo que o telespectador forme sua própria opinião: “Eu acho muito importante debater, e o Aguinaldo traz isso com leveza. Ele, Virgílio e Zé são excepcionais, porque colocam pautas importantes e necessárias sem ‘mimimi’. É simples: ‘Tá aí, isso existe, é o Brasil, discutam’”.
Na trama, Joélly não possui instrução adequada sobre vida amorosa nem sobre gravidez na adolescência, o que, segundo Alana, desencadeia uma série de problemas. Nos últimos capítulos, além da sugestão de aborto feita por Raul, a personagem chegou a prometer entregar o bebê para uma traficante.
“O corpo de uma menina tem que ser decidido por ela, mas a gente precisa explicar qual é a importância dessa decisão. Muitas meninas não entendem seus direitos. Não tem como discutir gravidez na adolescência, ausência paterna ou aborto quando elas não sabem nem quais são os próprios direitos. Então, a gente precisa urgentemente apresentar esses tópicos para a futura geração do país. Eu, como futura geração, fico muito feliz de ser porta-voz dessas discussões e permitir que as pessoas criem as próprias opiniões. Só que a gente precisa entender que, quando se trata do corpo do outro, não tem opinião.”
Construção da personagem
Com apenas 18 anos, Alana Cabral nunca passou pela experiência de uma gestação na adolescência. Para construir Joélly, ela participou de workshops e palestras promovidos pela Globo. Nessas atividades, teve contato com diversas mulheres da Brasilândia, em São Paulo, que engravidaram na adolescência.
“Isso me abriu muitos horizontes sobre o tema da gravidez na adolescência, porque muitas meninas tinham 14, 13 ou15 anos e não percebiam a gravidade de ser uma menina grávida. E foi isso que tentei trazer para a Joélly: a mente de uma garota de 15 anos o tempo todo. Todas as reações dela são justificáveis quando você lembra que ela tem 15 anos. Muita gente fala: ‘Nossa, meu Deus, Joélly, não acredito que ela fez isso’. Mas, se você parar para pensar e se colocar no lugar dela, dá para dizer: ‘Poxa, eu com 15 anos acho que faria o mesmo’. Todo mundo já foi adolescente e sabe da inconsequência. Então, para construir a minha Joélly, usei muito da inocência da adolescência.”