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Opinião: As escolhas pessoais de Vinicius Júnior não diminuem seu papel no combate ao racismo

As críticas ao jogador devem ser mantidas na esfera da fofoca e jamais alcançar o âmbito social onde ele teve e tem um papel importante

10 out 2025 - 16h46
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vini jr enfrentou o racismo
vini jr enfrentou o racismo
Foto: Reprodução: Instagram/vinijr

Já há algum tempo, Vinícius Júnior está na mira de muita gente. Afinal, ele é um homem negro, sempre foi tratado como "patinho feio". Ao subir para o profissional do Flamengo, foi desacreditado, e as críticas só pioraram após sua contratação pelo Real Madrid. Chegando na Espanha, Vini se tornou peça importante do time, se firmou na seleção brasileira, ganhou títulos pelo clube espanhol e foi eleito o melhor do mundo pela FIFA. Isso tudo enquanto sofria um racismo avassalador por parte da torcida de boa parte dos clubes adversários. Vinícius denunciou o racismo, foi alçado como figura antirracista dentro do futebol e ainda conseguiu se manter em alto nível como atleta e como pessoa.

Um homem com as características de Vini jamais iria passar despercebido por diversos tipos de pessoas. Todo mundo quer desfrutar da imagem do atleta que está tão em voga. Dito isso, nos últimos tempos, uma figura muito polêmica se atrelou à vida de Vinícius. Virginia Fonseca, após sua separação, foi para Madrid e era vista, com frequência, nos mesmos ambientes que "Vini Malvadeza". Ela, aparentemente, tentava ao máximo se atrelar à imagem dele: fotos em barco, vídeos na academia e várias mídias onde ambos não apareciam juntos, mas era visível que estavam no mesmo ambiente. Isso aqueceu e muito o nome de ambos nas redes sociais, sobretudo o de Virginia que, ao que parece, costuma usar essa “mídia espontânea” para aumentar seu engajamento, com isso vender mais produtos e ter mais entregas das suas publicidades, no mínimo, questionáveis.

Passou um tempo e o romance dos dois chegou ao fim, cada um foi para seu lado, e logo depois do término, vazou uma conversa de uma modelo chamando o Vini, entre outras coisas, de “maníaco”, pois o jogador estava atrás delas com, ao que parece, intenções puramente libidinosas. A internet, sobretudo os fãs de Virginia, já estavam sendo deselegantes com Vinícius, comparando o estereótipo de ambos e já flertando com o racismo. Ao divulgarem essa conversa da modelo com Vini Júnior, a situação aumentou, questionando se era assim que se deveria tratar uma mulher e coisas nesse sentido. Vale salientar que o atleta é um homem solteiro e, pelo menos ao que foi divulgado, em momento algum cometeu qualquer tipo de crime ou assédio.

Isso tudo gerou muitas falas pela internet. Pessoas chamando ele de maníaco, falando que ele é muito feio, que estava se achando, e atrelado a isso, algumas mensagens racistas. Algumas eram tão pesadas que não é de bom tom sequer repetir. O fato é que, ao ocorrer isso, pessoas do campo progressista ficaram descontentes com Vini por ele se atrelar a Virginia. Já há críticas a ele por só supostamente ir atrás de mulheres brancas e também por ele ser saliente em relação a mulheres de modo geral. O que me assustou foi ver pessoas da esquerda achando “bom” o racismo que ele estava sofrendo porque, segundo elas, ele iria aprender a agir de determinada forma. Elas estavam colocando o racismo como forma de punição e aprendizado. Junto a isso, veio também o questionamento sobre sua importância na causa racial, colocando dúvida sobre sua importância no combate ao racismo.

Muitas pessoas esquecem que Vinícius Júnior jamais escolheu ser um símbolo antirracista. Muito pelo contrário, pessoas do movimento negro atreladas ao futebol já apontavam o racismo contra ele desde que foi apelidado de “neguinho”, e o jogador jamais falou nada porque naquela altura o racismo era mais velado. Ao chegar em terras europeias e se deparar com o racismo na sua forma mais explícita, ele, a priori, foi se defender; acredito que nos primeiros momentos ele nem sequer pensou que viraria um símbolo, ele simplesmente não queria ser chamado de “macaco”. Todo o que ocorreu ao seu entorno após sua indignação foi graças aos negros em diáspora que há anos denunciam o racismo e naquele momento os meios de massa o elegeram para ser o representante.

Vinícius Júnior jamais se apresentou como um militante do movimento negro, um cara que pensa em classe, raça, que entende sobre o enaltecimento de mulheres negras, que se propõe a romper com o ideal branco de beleza e nem nada nesse sentido. Ele foi um cara que sofreu racismo e não gostou, e tudo ele teve que bancar porque deu a cara, mesmo quando muitos queriam que ele se calasse, o que faz dele uma figura importante, mesmo não sendo a ideal. Se ele gosta de mulheres brancas, se ele anuncia casas de apostas, objetifica mulheres, ele não faz nada diferente de outros jogadores de futebol.

Eu jamais criei expectativas sobre a figura dele. Sei muito bem como jovens negros e periféricos são formados a pensar e desejar determinadas coisas. Também sei que, com todas as atitudes questionáveis, Vini levou o debate racial para locais que até então eram desconhecidos. Eu não vou execrá-lo porque ele não quis assumir um relacionamento sério com uma legião de fãs; eu não vou mitigar a luta dele contra o racismo no futebol porque vazou uma conversa dele pedindo vídeos sugestivos para uma modelo. Eu não vou dizer que ele não fez nada, sendo que até outro dia tinha jogador fazendo campanha dizendo que “somos todos macacos”.

Vinícius Júnior é um jogador de futebol, com todas as problemáticas que envolvem esse grupo. Agora, não consigo negar que, dentre todos aqueles que já sofreram com racismo, ele foi o que mais bateu no peito e encarou. E, graças a esse descontentamento dele, outros jogadores passaram a fazer o mesmo e, pela primeira vez, teve gente sendo condenada por racismo na Espanha. É tudo um ajuste de expectativa. Ele não é o modelo masculino que eu quero para mim, acredito que ele tem vários equívocos, sobretudo por ser garoto-propaganda de casas de apostas, mas não assumir Virginia e querer se relacionar sexualmente com a modelo sem compromisso não é, nem de longe, uma preocupação minha em relação às condutas dele.

O que me parece preocupante é tanto ódio que ele recebeu por coisas menores, enquanto outros homens, sem impacto nenhum na questão racial, muitos deles brancos, fizeram coisas muito piores e não receberam metade desses ataques e questionamentos. Será que existe um interesse em fragilizar a imagem dele e, com isso, fragilizar também a bandeira que ele levantou? A quem interessa manchar a imagem do jogador que teve coragem de falar sobre racismo no meio do futebol? Ele não fez nada, absolutamente nada diferente do que outros jogadores cansaram de fazer por aí. O que faz dele diferente da média é o combate ao racismo e agora, por suas escolhas afetivas e sexuais, estão tentando minar a imagem dele. Ser mulherengo nunca foi motivo para jogador ser achincalhado; tem um monte com acusações de estupro por aí. Agora foi só bater de frente com racistas que o crivo moral se instaurou. Isso tudo é, no mínimo, suspeito.

Fonte: Luã Andrade Luã Andrade é criador de conteúdo digital na página do Instagram @escurecendofatos. Formado em comunicação social e membro da APNB. Luã discute questões étnico raciais e acredita que o racismo deva ser debatido em todas as esferas da sociedade. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra.
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