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'Desejei não estar mais vivo': o relato de um homem que sobreviveu ao bullying e encontrou sentido na cura

David Antônio sofreu bullying que deixou marcas por toda a vida

10 abr 2025 - 04h59
(atualizado às 11h43)
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Resumo
David Antônio da Silva compartilha sua história de superação após anos de bullying sofrido na infância. Hoje, ele atua como voluntário em uma ONG para conscientizar sobre os efeitos e a importância de buscar ajuda terapêutica.
Foto: Diário do Rio

ATENÇÃO! Essa matéria contém gatilhos emocionais. 

Aos dez anos, David Antônio da Silva só queria ser aceito. Em vez disso, encontrou apelidos cruéis, empurrões, risos e a sensação constante de que não pertencia. “A primeira vez, acho que foi na escola, por conta do peso. Eu era... era não, eu sou obeso. Então, a primeira vez que eu lembro foi em ambiente de escola”, conta ele, hoje com 43 anos, profissional da área de TI, natural de Campinas, no interior de São Paulo. 

O que para os colegas de sala parecia brincadeira, para ele era humilhação. “Nos anos 80, a gente não tinha noção do que era bullying. Mas eu me sentia muito diminuído, eu me sentia uma pessoa de segunda categoria.” 

David relata que torcia para que entrasse alguém “mais obeso” na turma, apenas para que o foco das agressões mudasse. Isso nem sempre acontecia. E, enquanto isso, ele lidava com empurrões, perseguições e palavras como “rolha de poço”, que feriam mais do que qualquer soco. “Às vezes, agressões, tanto verbais quanto físicas.”

A violência teve impacto direto na rotina escolar. “Eu fingia que estava doente, tentava convencer minha mãe a me buscar”, relembra. Em alguns momentos, a dor se tornava insuportável. “Uma vez eu esperei um menino do lado de fora da escola para brigar com ele, e eu nunca tinha brigado na vida.”

O garoto era particularmente cruel. Ele, sabendo que David tinha problemas respiratórios e menos mobilidade, o empurrava para iniciar um pega-pega, que acabaria com David sem ar, rodeado de risadas. 

Com o tempo, David se calou. Se aos sete anos era comunicativo, aos 14 já se escondia em si mesmo. “A forma que eu me comunicava era desenhar”. Os desenhos abriram portas para conversas, criaram pontes com meninas da escola. Mas até isso tinha um preço: “Os meninos se aproximavam de mim para se aproximar das meninas."

A autoestima, esmagada durante anos, afetou seus sonhos. “Eu queria ser professor de história. E como que eu ia ser professor se eu não tinha coragem de falar com as pessoas?”. Abandonou a ideia e seguiu na tecnologia da informação, onde o contato humano era menor.

Em silêncio, começou a reproduzir aquilo que o feriu. “Eu praticava bullying porque eu achava que era uma forma de estar incluído num grupo. Eu zombava, às vezes, por peso, por tudo”. Só mais tarde, ao buscar autoconhecimento, reconheceu o ciclo de dor que perpetuava --e o quanto ele mesmo precisava de ajuda. "Nada do que eu fazia parecia ser certo, e ninguém parecia me amar realmente".

Aos poucos, vieram os pensamentos suicidas. “A gente pensa em uma forma que as pessoas não percebam. Porque na verdade a gente quer matar a dor da gente”. Foi o Google, ao sugerir contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), que deu o primeiro sinal de escuta possível. Foi a primeira vez que falou do que estava sentindo.

Seis anos atrás, outra amiga insistiu que ele fizesse terapia e chegou até pagar a sessão. A experiência virou outro ponto de virada. Contudo, até no consultório, se esforçou para aprender sobre psicologia e autoconhecimento, com o intuito de não incomodar o profissional.

Hoje, David transforma a dor em aprendizado. Como voluntário da ONG O Bullying Não Tem Graça, compartilha sua história para conscientizar famílias, educadores e jovens. “A vida tem um monte de tristezas naturais... o bullying é desnecessário. Vai deixar uma pessoa infantilizada, com medo, tímida. Vai matar o ‘eu’ dela na sociedade.”

A mensagem que deixa a quem sofre é clara: “Busque ajuda, busque terapia, busque conversar. Não guarda para si. O que as outras pessoas dizem não representa o que você é. É uma dor delas que elas estão jogando em cima de você.”

Conheça os sinais

A psicóloga Luisa Brazão, especialista em crianças e adolescentes, alerta que os sinais de que algo não vai bem nem sempre são evidentes, por isso, é fundamental estar atento a mudanças de comportamento. Ela destaca que é possível perceber variações sutis, como o isolamento de uma criança ou adolescente, alterações nas interações no pátio, falas em sala de aula ou mesmo movimentações frequentes para locais mais afastados. Mudanças bruscas de comportamento individual também são um sinal importante.

Segundo a profissional, essas transformações podem se manifestar de formas diferentes: enquanto alguns jovens ficam mais explosivos, irritados ou nervosos, outros podem se retrair, evitar contato com colegas ou até apresentar episódios de choro repentino. Ela ressalta que essas reações devem ser observadas com atenção, mas que, tão importante quanto isso, é ensinar os estudantes a pedir ajuda e garantir que saibam a quem recorrer.

Para a psicóloga, a forma como o adulto --seja um educador, seja um familiar-- reage ao pedido de socorro faz toda a diferença. Validar o sofrimento, acolher e mostrar caminhos para resolver a situação influencia diretamente na forma como a criança ou adolescente lidará com situações futuras. “Não existe um responsável único para resolver situações assim”, afirma. “É um trabalho em conjunto, com um objetivo em comum: o bem-estar e o desenvolvimento da criança e do adolescente”. Ela reforça que a participação da família não é opcional, mas essencial.

Brazão também orienta os responsáveis a procurarem apoio profissional sempre que perceberem que a criança está em sofrimento intenso ou com dificuldade de lidar com emoções fortes. Nesses casos, a recomendação é buscar um psicólogo --que, se necessário, fará o encaminhamento para um psiquiatra.

Atenção! Em caso de pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (Centro de Valorização da Vida), que funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, por e-mail, chat ou pessoalmente. Veja os locais de atendimento!

Fonte: Redação Terra
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