O governo brasileiro acredita que pouco deverá mudar no compromisso de criar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) qualquer que seja o resultado da disputa presidencial nos Estados Unidos. O que poderá variar será a velocidade e a profundidade da formação da Alca. Para o Brasil o ideal seria ganhar tempo, já que a Alca é um projeto dos Estados Unidos e não do Brasil, cuja prioridade é o Mercosul. Na avaliação de diplomatas brasileiros, como não tem vínculos com ambientalistas e sindicalistas e aparentemente está mais ligado às questões latino-americanos por governar o Texas - Estado de grande população de origem latina -, George W. Bush, poderá imprimir um ritmo mais veloz a esses processo. O candidato democrata, o atual vice-presidente Al Gore, poderá conduzir negociações mais lentas ou mais limitadas, por causa de seus compromissos com as tais questões ambientalistas e trabalhistas.
O fato de o Brasil ter menos pressa não quer dizer que o governo torça pela vitória de Gore. Com ele a Alca pode até demorar mais, o que é vantagem, mas também seria uma completa desvantagem se fosse criada com restrições ambientais e trabalhistas. Isso, o governo brasileiro interpreta como desculpa dos norte-americanos para manter o protecionismo. Com Bush, a Alca pode sair mais rápido, a possibilidade de trazer cláusulas semelhantes é menor.
Para existir, a Alca depende de um mandato negociador dado pelo Congresso americano ao Executivo. Essa licença, conhecida como fast-track (via-rápida), permite que o presidente americano negocie acordos comerciais sem precisar submetê-los à aprovação do Congresso.
Portanto, lembram diplomatas brasileiros, ninguém pode prever qual será o calendário exato da Alca, independentemente de quem seja o vencedor hoje.
Qualquer que seja o próximo presidente dos Estados Unidos, ele terá um claro interesse em criar a Alca: aliviar o histórico déficit comercial americano.
Com a Alca, os Estados Unidos aumentariam o comércio com a América Latina, única região do mundo com a qual o país tem superávit. Mesmo não sendo um projeto brasileiro, o governo não pode simplesmente agradecer o convite e informar que não vai participar do bloco econômico, que é uma tendência irreversível. Isso porque há um lado positivo e outro negativo na Alca, explicam diplomatas.
Se por uma lado a Alca vai baixar as tarifas de importação de cerca de 14% para zero, expondo o mercado brasileiro aos competitivos produtos norte-americanos, o Brasil vai ganhar a oportunidade de ampliar o comércio com um país para onde 70% da pauta de exportações é composta por produtos manufaturados, ou seja, com maior valor agregado. Desse total, 60% estão sujeitos a algum tipo de restrição, segundo a Confererência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). Em tese, com a Alca, essas barreiras despareceriam.
Por outro lado, ponderam especialistas brasileiros, a Alca vai regular o comércio com toda a América Latina e é um arranjo comercial menos pretensioso do que o Mercosul. Trata-se apenas de uma área de livre comércio, onde os produtos circulam livres de imposto de importação. O Mercosul é uma associação mais complexa, uma união aduaneira, com tarifa de importação comum para terceiros mercados, que incluiu regras para serviços, investimentos e outros aspectos e deverá evoluir para um mercado comum ou mesmo, no futuro, para uma união monetária. E essa é a prioridade da política externa brasileira.
O medo do governo é que as negociações na Alca acabem afetando os parceiros do Mercosul, que poderiam desisitir de aprofundar as difíceis negociações do Mercosul. O Chile, por exemplo, que deverá aderir ao Mercosul no ano que vem, não esconde sua preferência pela Alca. E na Argentina a defesa do fim do Mercosul, principalmente por setores mais frágeis, é cada vez maior.
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