A última estimativa para a mais disputada eleição presidencial dos Estados Unidos em 40 anos, divulgada hoje (06) à noite pela agência Reuters, mostrou o governador do Texas, George W. Bush, caindo tanto no Colégio Eleitoral como na intenção de voto popular - na qual foi ultrapassado pelo vice-presidente Al Gore.Na estimativa sobre o Colégio Eleitoral para a votação de amanhã, Bush caiu de 235 para 224 votos dos 270 necessários para eleger-se. Gore tinha 230, e 84 votos ainda estavam indefinidos.
Na intenção de voto popular, também segundo a Reuters, Gore passou para 48%, 2 pontos a mais que Bush, mas ainda dentro da margem de erro de 3 pontos.
Com a disputa mais apertada e menos previsível do que nunca, o pequeno Arkansas, o Estado do presidente Bill Clinton, que tem apenas seis votos no Colégio Eleitoral, passou a figurar de forma destacada na equação que pode dar o triunfo a um ou a outro candidato.
O presidente Clinton, que Gore manteve afastado da campanha por medo de ter sua imagem de marido fiel e bom pai de família contaminada pelo escândalo Monica Lewinsky, voltou ao Arkansas no domingo para fazer campanha por seu vice. "É hora de mobilizar as tropas e conquistar os eleitores ", disse ele aos militantes de seu partido, lembrando que o número de votantes poderá ser o dado decisivo.
Em tese, uma maior presença de eleitores nos Estados onde a briga permanecia indefinida favorece Gore, pois os analistas políticos acreditam que o fator entusiasmo está mais para Bush.
Clinton, que ganhou confortavelmente duas eleições presidenciais e talvez seja o melhor estrategista político do país, resumiu assim a situação: "Vencerá quem tiver mais vontade de vencer."
Além do presidente, os norte-americanos elegerão 435 deputados 35 senadores, 11 governadores, milhares de prefeitos, vereadores, deputados estaduais, xerifes, juízes e membros de conselhos educacionais distritais.
Em 42 Estados, eles se pronunciarão também sobre os mais diferentes assuntos - da legalização da eutanásia e da maconha à privatização parcial dos fundos destinados hoje às escolas públicas -, em mais de 200 referendos.
A disputa pelo controle da Câmara dos Representantes e do Senado, hoje em poder dos republicanos, é tão imprevisível quanto a briga pela presidência.
Bush começou seu último dia de campanha hoje no Estado da Flórida - governado por seu irmão, Jeb - , dizendo-se animado, e prometeu "dar um pique até a linha de chegada". Mas não ousou prever seu triunfo. "Nós preparamos o terreno para a vitória e agora se trata de convencer as pessoas a ir votar", disse ele.
"Eu confio no povo, confio em que ele tenha ouvido a nossa mensagem e acho que teremos um bom dia amanhã. Mas as pessoas têm de ir votar e os que me apóiam precisam assegurar que elas compareçam às urnas."
Seguindo uma estratégia destinada a projetar confiança na vitória, Bush decidiu não retornar à Pensilvânia e Michigan, dois Estados-chave que se inclinam para Gore. Em lugar disso, ele tinha comícios previstos em Iowa, Missouri, Illinois, Arkansas e no Tennessee, o Estado do vice-presidente (onde parecia ter hoje aberto uma vantagem insuperável), antes de retornar ao Texas para votar e aguardar os resultados da apuração.
Gore e sua mulher, Tipper, que amanheceram hoje em Iowa, estiveram nos três programas matinais das principais redes de televisão para reiterar sua convocação aos militantes e cabos eleitorais democratas para levar as pessoas para votar.
"Vocês são as pessoas que decidirão a eleição", dissera ele pouco antes a cerca de uma centena de voluntários de sua campanha, na cidade de Waterloo. "Uma vez mais, está em vossas mãos e, eu sei, está em boas mãos".
Gore tinha comícios planejados em Missouri, Michigan e uma última visita a Tampa, da Flórida, onde era esperado na madrugada de terça-feira, antes de retornar ao Tennessee. Na tarde de hoje, as pesquisas indicavam que o vice-presidente provavelmente obterá os 11 votos eleitorais do Estado de Washington, neutralizando a ameaça representada pelo candidato do Partido Verde, Ralph Nader, que não tem chances de ganhar mas poderia tirar votos suficientes de Gore para dar a vitória a Bush.
O impacto de Nader na campanha parece ter diminuído. Empenhado em chegar ao mínimo de 5% da votação popular que abrirá o acesso a seu partido aos fundos federais de eleições, o candidato verde decidiu encerrar sua campanha num comício em Nova York, que pode ajudá-lo a alcançar seu objetivo, mas onde não representa problema para seu rival democrata.
Dos aproximadamente 200 milhões de norte-americanos maiores de 18 anos, espera-se que metade exerça o direito de voto. Com a disputa apertada como está, isso significa que o 43º terceiro presidente da história do país será escolhido com o apoio de apenas 25% das pessoas habilitadas a votar. A campanha foi a mais cara da história dos EUA e provavelmente redefinirá vários parâmetros de análise.
Mudanças demográficas, o maior acesso à informação, o desencanto pela política e a falta de entusiasmo da maioria dos eleitores americanos por Gore ou Bush combinaram-se para produzir uma situação na qual até os instrumentos de análise e previsão do comportamento do eleitorado estão em discussão.
O fato, por exemplo de apenas 35% das pessoas procuradas por empresas que fazem pesquisas de opinião terem demonstrado interesse em responder, em comparação com quase 70% quatro anos atrás, pôs em dúvida a credibilidade das sondagens. E é possível que nem mesmo as entrevistas de boca-de-urna, feitas depois que os eleitores votam e usadas pelas redes de televisão para projetar os resultados, ajudem a revelar os resultados.
Larry King, da rede de televisão a cabo CNN, e alguns comentaristas de peso estão pedindo às pessoas que mintam aos entrevistadores nos chamados "exit polls" em protesto contra a manipulação da opinião pública que os políticos e as empresas fazem com base nas pesquisas.
O cientista político Sandy Maisel, do Colby College, em Maine, um dos Estados onde a eleição continuava hoje indefinida, resumiu com franqueza o clima de suspense que permanecia, apenas horas antes do início da votação, na Costa Leste. "Quem disser que sabe o que vai acontecer está inventando", afirmou ele. "Teremos uma longa noite amanhã."
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