A Europa vota Al Gore. O atual vice-presidente dos EUA está bem mais afinado do que seu adversário George W. Bush com o pensamento social-democrata que prevalece hoje em dia nos governos da União Européia. Essa tendência é notória na Comissão Européia, mas nenhum burocrata de Bruxelas ousa manifestar abertamente sua preferência para não repetir o erro cometido pelos governantes conservadores John Major, da Grã-Bretanha, e Helmut Kohl, da Alemanha, em 1992. Na época, ambos manifestaram claro apoio a George Bush (pai). Com a vitória de Bill Clinton, as relações de Washington com Londres e Bonn (capital alemã na época) mantiveram-se relativamente frias nos primeiros meses do governo democrata.Essa maior afinidade dos democratas norte-americanos com os partidos de centro-esquerda que atualmente governam a Europa não explica tudo. Os funcionários de Bruxelas lembram que a continuidade é um fator importante e isso poderá facilitar a aceleração de projetos fundamentais nas relações transatlânticas. O vice-presidente dos EUA é tido como um homem mais moderno e mais experiente do que seu adversário, tendo acompanhado mais de perto a evolução internacional nesses últimos oito anos. Sua visão, em matéria de política externa, vai além dos esquemas tradicionais dos conservadores norte-americanos, onde se constata uma maior tendência isolacionista.
O exemplo dado pela conselheira do candidato republicano para assuntos internacionais, Condoleezza Rice, durante a campanha eleitoral é revelador. Ela brandiu a ameaça de uma retirada norte-americana dos Bálcãs, provocando consternação nos parceiros da Aliança Atlântica. Quanto a Bush, ele chegou a cometer a gafe de defender uma maior presença dos europeus nos Bálcãs, aparentemente sem saber que 80% das forças militares na região são européias.
Apesar dos analistas terem estimado em apenas 2% o impacto das questões de política externa no resultado eleitoral, para os europeus é fundamental que o presidente norte-americano seja um homem que acompanhe de perto o que se passa fora das fronteiras dos EUA.
Por isso, mesmo junto à opinião pública, a vitória de Bush é vista com maiores reticências.
O próprio ex-presidente francês Valery Giscard D'Estaing reconhece que a maioria na França é favorável ao vice-presidente Gore, o que não o surpreende, apesar de não concordar. Num longo artigo, ele procura explicar porque "a Europa não deve teve ter medo de George W. Bush".
A candidatura Al Gore se situa à esquerda da linha mediana que atravessa o Partido Democrata. Ele dá grande peso ao serviço público de saúde, de aposentadoria, ao ensino, regime fiscal penalizando os rendimentos mais altos, isto é, priorizando o setor público. Ele admite até uma certa intervenção do governo central na vida do país, uma atitude que corresponde mais com os anseios da esquerda européia atualmente no poder. Segundo Giscard, da administração Gore pode-se esperar uma política mais dinâmica, com tendência a intervir mais diretamente na evolução do mundo, inclusive na Europa.
Quanto a um governo Bush, a ação diplomática norte-americana deverá ser bem mais contida, abstendo-se de intervir diretamente em situações de política internacional que possam ter mais a ver com seus aliados, notadamente a Europa. A diferença dessas políticas se caracteriza também pela escolha dos prováveis secretários de Estado - Richard Holbrooke, no caso de vitória de Gore, e Colin Powell , se o vitorioso for Bush.
Isso permitirá a Europa assumir progressivamente suas próprias deliberações, tarefa que poderá ser facilitada pela vitória de Bush, cuja atitude será mais reservada e prudente. Bush seria o presidente de um país mais voltado para si mesmo. Por essa razão no projeto da política de defesa comum européia, o desengajamento das forças terrestres norte-americanas no continente não deverá constituir nenhum drama, e, sim, um estimulo para que os europeus assumam suas responsabilidades. Em suma, a Europa prefere Al Gore, mas poderá viver bem com Bush.
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