Al Gore parece estar em paz no final da campanha que pode levá-lo à Presidência ou encerrar seus 24 anos de carreira política. O candidato democrata não demonstrou desespero nos últimos dias, mas sim coragem, energia e determinação. Também há o sentimento de que Gore, eleito para um cargo público pela primeira vez em seu Estado, Tennesse, em 1976, está pronto para aceitar a decisão de terça-feira nas urnas, na mais apertada eleição presidencial em 40 anos. "Ele se sente confiante", disse Carter Eskeu, estrategista de Gore, ressaltando também a serenidade do candidato para aguentar o que vier, derrota ou vitória.
Da Filadélfia a Los Angeles, Gore disse às multidões: "Isso não é sobre mim. Não é sobre meu oponente, George Bush. É sobre vocês e seus filhos e sobre o tipo de futuro que desejam". Num comício realizado sábado em Pittsburgh, Gore mais uma vez admitiu que não pode concorrer com Bush no quesito personalidade.
"Se vocês me confiarem a Presidência, não serei sempre o político mais animado", disse Gore. "Ah, você é bom!", devolveu um simpatizante. "Yeah, yeah", Gore rebateu, antes de completar: "Mas trabalharei duro por vocês todos os dias". A multidão entrou em delírio.
Gore, 52, usou uma variação dessa postura desde que aceitou a indicação do partido em agosto de 1999. Declarou-se independente - um homem que manteve distância do ainda popular e do ainda metido em escândalos Bill Clinton. Desde então, vem defendendo suas posições: a necessidade da manutenção do vigor econômico para possibilitar avanços em outras áreas, da melhoria da educação à expansão do seguro social.
Também criticou o plano de Bush de corte de impostos para ricos, dizendo que isso poderia provocar gastos com déficit, aumentar as taxas de juros e minar a prosperidade. As pesquisas, porém, têm frustrado Gore. Elas mostram que muitos eleitores concordam com várias de suas idéias, mas acham que Bush é mais confiável e agradável.
No sábado, durante café da manhã com lideranças afro-americanas em Memphis, Tennesse, Gore refletia sobre sua personalidade. "Vocês me conhecem. Conhecem meu coração", disse. "Vocês sabem que Deus vê o lado de dentro, não o de fora". "Vocês sabem que não importa se meu casaco é da moda, a cor da minha malha, o tipo de gravata que uso". "Vocês não se importam com expressões faciais, ou com a maneira de falar ao microfone", disse.
Gore recusou-se a comentar a divulgação do caso da prisão de Bush em 1976 por dirigir alcoolizado. Disse que as eleições deveriam ficar centradas em outros temas. Greg Simon, da equipe de Gore, disse. "Nos nove anos em que o conheço, nunca o vi tratando uma eleição como uma questão de seu futuro pessoal, mas sim do futuro da nação. Ele vive em um mundo político".
"Ele se sente na direção certa, na hora certa e no ritmo certo", disse Simon. "Mas, se perder, acho que ficará em paz". No sábado, Gore demonstrava otimismo sobre a vitória. "Pode escrever", afirmou. O democrata também disse que estará de volta a Washington na sexta-feira, para participar do jantar de encerramento da temporada de futebol americano de seu filho, Albert III. Seja qual for o resultado das urnas.
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