Pedro Kutney: vendendo menos, Volkswagen lucra mais
Vendendo no mundo todo 100 mil carros a menos do que em 2020, a Volkswagen aumentou em 453% seu lucro operacional, que somou € 2,5 bilhões
Após o forte impacto da pandemia nas vendas de veículos em 2020 e 2021, combinado com a falta de componentes eletrônicos que fez a produção rodar abaixo da demanda, todas as montadoras, no mundo todo, adotaram a estratégia de compensar a queda dos volumes com a oferta de carros mais caros e lucrativos.
Não é por outra razão que, mesmo com fortes ventos contrários da economia e da cadeia de suprimentos, os fabricantes vêm reportando lucros recordes.
A Volkswagen é um exemplo bem acabado dessa estratégia. Duramente afetada pela falta de chips em 2021, as vendas globais recuaram 3,5% comparadas ao volume de 2020. No Brasil o tombo foi ainda maior: queda de 7,6% e redução na participação de mercado de 16,8% em 2020 para 15,3% em 2021.
Mas o que poderia ser um resultado trágico se transformou no primeiro lucro na América do Sul em quase uma década, com crescimento anual de 15 pontos porcentuais no retorno sobre as vendas, hoje baseadas em produtos lançados nos últimos anos acima dos R$ 100 mil, como os SUVs T-Cross, Nivus e, mais recentemente, o Taos vendidos acima de R$ 200 mil.
“Foi o ano da virada, com retorno à lucratividade e fluxo de caixa positivo”, disse Pablo Di Si, presidente executivo da Volkswagen América Latina, em sua apresentação semana passada durante a divulgação dos resultados globais da fabricante.
Vendendo no mundo todo 100 mil carros a menos do que em 2020, a Volkswagen aumentou em 453% seu lucro operacional, que somou € 2,5 bilhões, com faturamento que cresceu bem menos, apenas 7%, para € 76,1 bilhões.
“Aumentamos significativamente a participação nas vendas de veículos com maior nível de equipamentos. Com isso, retornamos ao lucro tanto na América do Norte como do Sul”, confirmou Ralf Brandstätter, CEO da Volkswagen Passenger Cars.
O chefe de finanças (CFO) Alexander Seitz reforçou: “Em 2021 enfrentamos efeitos negativos da inflação e do câmbio desfavorável (devido à desvalorização do real no Brasil e do peso na Argentina), mas as adequações de preços (reajustes e modelos mais caros) foram mais que suficientes para compensar esses efeitos”.