De elétricos a SUVs: Ceará atrai montadoras e pode baratear seu próximo carro
Entenda como o estado volta ao mapa da produção automotiva no Brasil
Nos anos 1990, o Ceará passou a abrigar uma das poucas montadoras de origem brasileira que tiveram alguma longevidade, a Troller. A marca especializada em utilitários esportivos passou por muitos percalços até ser encerrada em 2021. Agora, a produção de carros na região renasce com a Pace - Planta Automotiva do Ceará, uma fabricante de veículos brasileira que vai atuar com o licenciamento da fabricação de veículos para várias marcas.
O início oficial do negócio aconteceu na quarta-feira, 3, quando a empresa iniciou a montagem do Chevrolet Spark e a anunciou que fará a Captiva EV partir de 2026. Os carros elétricos saem da linha de montagem instalada em Horizonte, na mesmíssima fábrica que antes fazia os fora de estrada da Troller. "Transformamos uma fábrica de carros a combustão em uma planta de veículos sustentáveis", reforçou Rodrigo Teixeira, vice-presidente da Pace, na cerimônia de inauguração.
O empreendimento pertence à Comexport, empresa de comércio exterior com grande atuação no setor automotivo, responsável pela importação de grande parte dos carros feitos em outros países e vendidos no Brasil. "Eles são muito bons em estratégia logística e tributária. Por isso, a Pace é um negócio que já começa competitivo", disse fonte próxima ao empreendimento.
Com investimento inicial de R$ 400 milhões, a fábrica começa ao ritmo de produção de 10 mil carros por ano, mas com capacidade para fazer 80 mil veículos. "Antes, a Troller fazia pouco mais de mil veículos por ano", destaca Teixeira.
O executivo diz que o plano ali é gerar tecnologia. Para isso, promete investimento de R$ 500 milhões em pesquisa e desenvolvimento nos próximos cinco anos.
Além da GM, Pace negocia com outras marcas
O negócio começou com a montagem dos carros da General Motors, mas não deve parar por aí. "Não posso falar nomes, mas temos outras empresas em negociação e um acordo já fechado para 2026", revelou Teixeira, sem detalhar nomes.
Um empreendimento como a Pace tem enorme atratividade para as novas marcas que estão chegando ao Brasil. Muitas chinesas têm interesse em fazer carros localmente, mas talvez não tenham interesse em fazer um investimento tão alto logo de largada. Nesse caso, licenciar a montagem de carros para uma fabricante multimarcas como a Pace seria uma solução atrativa.
Incentivos fiscais para a produção de carros no Ceará
A Pace fica longe do maior mercado consumidor de veículos do país, o Sudeste. A empresa também enfrenta maior custo logístico com fornecedores de componentes e tecnologias, que são raros no estado do Ceará. Para compensar, a companhia opera com incentivos fiscais que tornam o empreendimento competitivo.
O Estado se enquadra no Regime Automotivo do Nordeste, que traz redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). "Isso não é o suficiente para o preço do carro ficar mais baixo, mas é o bastante para a gente conseguir trazer a produção automotiva para o Ceará de forma competitiva", diz Teixeira.
A meta é fazer ali carros para exportação, com alto índice de conteúdo local. Por enquanto, a fábrica parece longe disso, sem processos produtivos relevantes realizados ali, mas o presidente da Pace promete que isso vai mudar em breve: "Temos compromisso com a produção local e a geração de empregos. Vamos contribuir com a reindustrialização do país", diz.