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Patrick Head presta tributo a amigo Frank Williams: "Seu entusiasmo era contagiante"

Parceiro inseparável ao longo de uma trajetória inesquecível e vencedora de Frank Williams, Patrick Head lembrou a falta de grana no começo da caminhada, a admiração do eterno garagista por Ayrton Senna e como sua atitude impulsionava todos à sua volta

29 nov 2021 - 08h09
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Frank Williams sempre teve ao seu lado o eterno amigo Patrick Head
Frank Williams sempre teve ao seu lado o eterno amigo Patrick Head
Foto: Williams / Grande Prêmio

A WILLIAMS DEIXA DE SER COMO TODOS CONHECEMOS | FLAVIO GOMES

Poucas pessoas foram tão próximas a Frank Williams ao longo de toda a vida do que Patrick Head. Hoje com 75 anos, o engenheiro foi fundamental para construir, ao lado de Frank, uma trajetória de muita luta, dor e sofrimento, mas também de muita glória, vitórias e títulos na Fórmula 1. Depois da partida de Williams, aos 79 anos, no último domingo (29), restam a Head as lembranças de uma amizade que atravessou décadas e se fez eterna.

Patrick Head escreveu, à revista britânica Autosport, uma carta-tributo em homenagem ao amigo de uma vida toda. O engenheiro recordou fatos marcantes sobre quando conheceu Frank Williams, as dificuldades em construir a equipe, a falta de dinheiro, a admiração por Ayrton Senna e a dor silenciosa ao vê-lo morrer em um dos seus carros, os títulos e como o lendário dirigente será lembrado para sempre.

"Conheci Frank no fim de 1975. Trabalhei na Lola Cars no começo dos anos 1970 por três anos, depois de me formar em Engenharia pela University College, em Londres, e depois de me envolver num projeto de desenvolvimento de motores Super Vee Volkswagen e, em seguida, projetar o carro Scott F2. Então, trabalhei com Ron Tauranac na Trojan Cars em meio período enquanto construía um barco nas docas de Surrey quando recebi uma ligação para encontrar Frank em seu trabalho em Reading", recordou Head.

Frank Williams sempre teve ao seu lado o eterno amigo Patrick Head (Foto: Williams)

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"Não sabia nada de Fórmula 1 ou de Frank Williams, mas estava completamente falido e fiquei feliz em aceitar sua oferta para me unir à longa linha dos projetistas que tinham trabalhado para ele. Uma semana depois de começar, o negócio com Walter Wolf foi fechado e, com ele, vieram Harvey Postlethwaite e os carros Hesketh. Me ofereceram 500 libras para sair ou então ficar e trabalhar com Harvey. Foi um ano de grande aprendizado para mim e tive a oportunidade de observar sem estar diretamente na linha de frente", lembrou o engenheiro.

As vidas de Patrick Head e Frank Williams voltaram a se cruzar anos depois, quando os dois construíram as bases da equipe que viria a fazer história no esporte a motor. "No começo de 1977, Frank havia saído, e eu estava com Jody Scheckter e uma pequena equipe de testes em Kyalami, na África do Sul, quando recebi uma ligação de Frank dizendo que estava começando de novo. Eu me juntaria a ele? Foi um grande passo para mim, mas o entusiasmo e o comprometimento total do Frank eram contagiantes, e decidi voltar a trabalhar com ele. Foi o começo da Williams Grand Prix Engineering, em março de 1977".

"Frank atuava muito no lado comercial e operacional, e eu do lado do projeto e da construção, geralmente não interferíamos no trabalho um do outro", escreveu Head, que trouxe à tona as lembranças de um momento inusitado na trajetória dos dois. "Nos primeiros anos, tivemos alguns desafios fiscais sérios, que nos exigiu esconder do gerente do banco, embora, para ser justo com o gerente do banco em Didcot, ele saiu da sua autoridade para apoiar a equipe, mas as quantias de dinheiro para ajudar na Fórmula 1 eram muito diferentes de agora".

Patrick Head e Frank Williams construíram uma das histórias mais vitoriosas da F1 (Foto: Williams)

Entretanto, mesmo em meio às dificuldades, a atitude de Frank Williams foi decisiva para não deixar o projeto morrer. "Houve momentos em que achava os desafios insuportáveis, mas Frank sempre foi otimista, sempre convencido de que 'tudo vai dar certo, cara', e era difícil não se deixar levar por sua atitude positiva".

"Ao longo dos anos, tivemos poucos motivos para discutir, mas posso dizer, com certeza, que nunca tive motivos para duvidar do seu compromisso em me apoiar, fossem quais fossem os desafios de engenharia que aparecessem, mesmo às vezes quando demorávamos um pouco mais para corrigi-los", complementou.

Patrick Head listou os pilotos com os quais Frank Williams obteve sucesso na Fórmula 1, mas revelou que o mais admirado pelo histórico dirigente jamais chegou a ganhar um título ou mesmo uma corrida no Mundial. Não houve tempo.

"Ele admirava muito os pilotos velozes, e ganhamos títulos com Alan Jones, Keke Rosberg, Nelson Piquet, Nigel Mansell, Alain Prost, Damon Hill e Jacques Villeneuve. Mas sua maior admiração era por Ayrton Senna. Tenho certeza que ele ficou arrasado quando Ayrton morreu num carro Williams, mas Frank era muito reservado nas suas emoções, nunca expressou a sua angústia por Senna morrer num carro Williams nem demonstrou falta de convicção quanto à continuidade da empresa, vencendo mais corridas e títulos", disse.

Ayrton Senna era o piloto mais admirado por Frank Williams, disse Patrick Head (Foto: Williams)

Head também rendeu um parágrafo para ressaltar sobre o quanto a esposa de Frank Williams, Virginia, foi fundamental para que tudo aquilo fizesse sentido. "Frank foi imensamente apoiado por sua esposa, Ginny, emocionalmente e na prática, eu acredito. A maior parte ou todos os pagamentos da família dela foram para manter a Williams no começo. Novamente, embora Frank não tenha demonstrado isso, não tenho dúvidas de que ele ficou arrasado quando ela morreu muito jovem, aos 66 anos, em 2013, de câncer".

No fim das contas, o que vai ficar, para Patrick Head, é a imagem de um Frank Williams otimista, corajoso e vencedor. "O compromisso e o entusiasmo de Frank para o sucesso na pista eram contagiantes, não só para mim, mas para todos os outros que trabalharam na Williams. Até os últimos dias em que a família Williams comandou a empresa, Frank pode ser visto na fábrica, principalmente no Race Shop, com os carros e os mecânicos da equipe, inspirando com sua força de trabalho".

"Frank já havia se afastado da empresa, e a família Williams vendeu sua participação em meados de 2020, mas sua marca na F1 está muito forte e ele será calorosamente lembrado por muitos, inclusive por mim".

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