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Pare de tentar ser multitarefa: isso faz mal pra você

É impossível ter um cérebro normal nos dias de hoje, defende a pesquisadora francesa Barbara Demeneix.

10 jan 2022 - 06h30
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Você não pode viver escravo do que não pode controlar
Você não pode viver escravo do que não pode controlar
Foto: Wuestenigel / VisualHunt

“Trabalho” exige executar determinadas tarefas que requerem sua atenção. E exige aprender a realizá-las, o que entra dentro de um campo muito maior, chamado “educação”.

O problema é que o ser humano não consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo. “Multitasking" não existe. Todas as pesquisas científicas afirmam o mesmo. Quando você interrompe uma atividade, ou um cadeia de pensamento, leva bastante tempo para você voltar a se concentrar nela.

Se você quiser emburrecer uma pessoa, basta dar a ela uma tarefa e ficar interrompendo de 10 em 10 minutos. Que é, claro, o que o seu celular faz com você. Dentro e fora da escola. Dentro e fora do trabalho.

O sonho dourado é que cada um de nós use seu tempo da maneira mais prazerosa e produtiva. Inclui ser produtivo para o seu próprio bolso, mas também na convivência em família e em comunidade.

O sentido da vida - aí, achei! - é fazer a vida prazerosa e produtiva para você e para os outros.

Para isso, é preciso usar de maneira inteligente o seu tempo, seu ativo mais precioso. Hora de relax, desatenção e desencanar. Hora de aprender, hora de trabalhar, precisamos de muita atenção, foco, concentração.

Mas tudo isso está sendo afanado de você, por empresas gigantescas, que ganham oceanos de dinheiro com isso. O jornalista inglês Johann Hari tem um livro novo sobre o tema, “Stolen Focus”. O subtítulo é “Porque você não consegue prestar atenção”. Viajou bastante, entrevistou especialistas. O resultado é iluminador.

Foi, por exemplo, ao Oregon, onde ouviu o professor Joel Nigg, expert em crianças com problemas de atenção, que chamou nossa sociedade de “cultura com patologia de atenção.”

Falou com a pesquisadora francesa Barbara Demeneix, que estuda os principais fatores de disfunção da atenção, que diz: “É impossível ter um cérebro normal nos dias de hoje.”

Hari cita dois estudos aterrorizantes. Um estudo com trabalhadores de escritório na Inglaterra concluiu que o tempo máximo que eles conseguem focar em uma tarefa é 3 minutos. Os mais jovens estão pior. Outra pesquisa, com universitários ingleses, apontou que o tempo máximo que eles conseguem se concentrar em uma única tarefa é… 65 segundos!

Como combater nossa perda de atenção? Tem um lado que é esforço individual. Requer que você tenha consciência, organização, técnica e força de vontade.

Mas sozinho, não é nada fácil. Mesmo que encontres um equilíbrio razoável para você, e os outros? E os seus filhos?

Pois aí que entra uma perspectiva diferente no livro do Hari. Porque esta briga tem um importantíssimo aspecto coletivo, social, político. Para ficar em um exemplo, ele cita a recente lei na Alemanha que proíbe as empresas de mandarem mensagens para seus funcionários fora do horário de trabalho.

Veio de graça? Os alemães são mais civilizados, ou menos digitais? Não, foi uma vitória dos poderosos sindicatos alemães. Lá não teve reforma trabalhista pra enfraquecer a organização dos trabalhadores…

É claro que os gigantes digitais, e as marcas que dependem deles para vender seus produtos (inclusive produtos políticos), não querem saber  das pessoas se organizando coletivamente para defender seu direito ao tempo, à atenção, ao foco. Isso vale muito, e eles sabem.

Mas esta luta está aí, batendo às nossas portas. Urgente, urgentíssima, como sabemos, e sabemos melhor ainda nós que convivemos com jovens e crianças. Vamos dar à nossa atenção o valor que ela merece!

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