CPI do INSS mantém depoimento de Careca do INSS e insistirá em ouvir Nelson Willians após operação
'É preciso saber a quem eles deviam obediência', diz relator da CPI ao Estadão
BRASÍLIA — A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do INSS vai manter os depoimentos do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o "Careca do INSS", e do empresário Maurício Camisotti, presos pela Polícia Federal nesta sexta-feira, 12, e insistir na convocação do advogado Nelson Willians, que também foi alvo da operação.
O depoimento do "Careca do INSS" está marcado para a próxima segunda-feira, 15. Camisotti, por sua vez, deve ser ouvido na quinta-feira, 18. Com a prisão, agora a CPI dependerá de autorização do STF para ouvir os dois, segundo o relator da comissão, deputado Alfredo Gaspar (União-AL). Há pedidos para depoimento e quebras de sigilo de Nelson Willians, mas os requerimentos ainda não foram aprovados.
"O povo brasileiro foi roubado em proporções bilionárias, ninguém estava entendendo porque dois criminosos dessa proporção estavam soltos perambulando com o dinheiro do povo. Isso representa um marco muito importante", disse o relator ao Estadão. A CPI havia aprovado um pedido de prisão de Antunes e Camisotti, junto com outros envolvidos na Fraude do INSS.
Segundo o parlamentar, a prisão é importante para que os envolvidos "se animem" a colaborar com as investigações e revelar a origem e o destino do pagamento de propina, que é apontado na investigação da PF, e quem dava apoio político para as fraudes.
"Temos de ouvir os três. O Nelson Willians fez negócio milionário com o Camisotti, negócio particular, e a gente tem de saber qual a origem desses negócios. E temos de ouvir os outros dois para explicar como se deu toda essa estrutura criminosa da organização e saber a quem eles deviam obediência", disse Gaspar.
O presidente da CPI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), afirmou que a comissão pedirá ao ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a operação, para que Antunes e Camisotti sejam conduzidos à CPI na semana que vem.
"Essas prisões já chegam com atraso. A Polícia Federal sabia todo o envolvimento, a qualidade, quantos eram as associações, as empresas de fachada, e ninguém tinha sido preso", disse Viana.
O senador defendeu a prisão de outras 19 pessoas que a CPI pediu. "Nós temos muitas outras pessoas que têm de ser presas para dar declarações na cadeia, para que não possam fugir e, principalmente, não possam esconder o patrimônio roubado dos aposentados."
A Operação Cambota, deflagrada pela PF nesta sexta, cumpre 13 mandados de busca e apreensão em São Paulo e no Distrito Federal. A operação foi autorizada pelo ministro André Mendonça do Supremo Tribunal Federal (STF). A suspeita de fuga levou a polícia a prender Antunes e Camisotti.
O escritório Nelson Willians, por sua vez, entrou na mira da investigação porque recebeu pagamentos de envolvidos no esquema e fez uma transferência ao empresário Maurício Camisotti. A PF suspeita que as operações tinham o objetivo de lavagem de dinheiro.
No governo, a operação foi recebida com alívio nos bastidores, pois, de acordo com integrantes do Poder Executivo, havia muita pressão e cobrança sobre a prisão de envolvidos na fraude no INSS.
O INSS começou a ressarcir aposentados e pensionistas lesados pelo esquema em julho e prevê que sejam pagos R$ 3,3 bilhões ainda neste ano. A avaliação, no entanto, é de que ainda é preciso limpar a imagem do INSS e recuperar a credibilidade do órgão após a descoberta da fraude. Procurado, o INSS ainda não se manifestou sobre a operação.
A defesa de Camisotti afirma que "não há qualquer motivo que justifique sua prisão". Os advogados de Nelson Willians alegam que a relação dele com um dos investigados na fraude "é estritamente profissional e legal" e que a medida é tem caráter investigativo, "não implicando qualquer juízo de culpa ou responsabilidade".
Nota da defesa de Maurício Camisotti:
A defesa do empresário Maurício Camisotti afirma que não há qualquer motivo que justifique sua prisão no âmbito da operação relacionada à investigação de fraudes no INSS.
Os advogados chamam a atenção para a arbitrariedade cometida durante a ação policial: Camisotti teve seu celular retirado das mãos no exato momento em que falava com seu advogado. Tal conduta afronta garantias constitucionais básicas e equivale a constranger um investigado a falar ou produzir prova contra si próprio.
A defesa reitera que adotará todas as medidas legais cabíveis para reverter a prisão e assegurar o pleno respeito aos direitos e garantias fundamentais do empresário.
Nota da defesa de Nelson Willians:
Em relação ao mandado de busca e apreensão cumprido nesta data, Nelson Wilians esclarece que tem colaborado integralmente com as autoridades e confia que a apuração demonstrará sua total inocência.
Nelson Wilians já afirmou, anteriormente, que sua relação com um dos investigados — seu cliente na área jurídica — é estritamente profissional e legal, o que será comprovado de forma cabal. Os valores por ele transferidos referem-se à aquisição de um terreno vizinho à sua residência, transação lícita e de fácil comprovação.
Ressaltamos que a medida cumprida é de natureza exclusivamente investigativa, não implicando qualquer juízo de culpa ou responsabilidade. O advogado permanece à disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários e reafirma seu compromisso com a legalidade e a transparência.