Trash, engessado ou curioso: veja os programas de destaque no ano
Velhos vencedores e nomes não tão novos aparecem como destaque no Melhores de TV Press 2013. Isso só evidencia o que já notou-se ao longo do ano: a televisão nacional carece de boas novidades. Na linha de shows, o grande trabalho de diretores e executivos de TV foi lapidar o que poderia melhorar. Foi o caso de Fátima Bernardes. Depois de um início tempestuoso e confuso, a apresentadora, enfim, conseguiu chegar até seu público no antes enfadonho e agora leve e comportamental Encontro Com Fátima Bernardes. Exibindo segurança, ela consegue dar unidade aos seus convidados e pautas, o que tirou o programa do estágio de sono e a consagrou na categoria Apresentadora.
Quem não perde o viço e mostra que é possível avançar e, ao mesmo tempo, manter-se fiel ao seu estilo é Serginho Groisman. Em 2013, ele leva o prêmio na categoria Apresentador e o seu Altas Horas vence pela 13ª vez como Programa de Variedades. Outro que desafia o tempo e segue fazendo tudo ao seu modo é Jô Soares. À frente do Programa do Jô, destaque na nova categoria Talk Show, o entrevistador não apresenta grandes surpresas no formato, mas deixa suas vaidades intelectuais de lado e se mostra mais livre na condução de suas entrevistas.
Pouco se investiu na reinvenção ou criação de programas de humor durante o ano. Mas, na primeira semana de dezembro, com a reestreia de Junto & Misturado, TV Press, pôde, enfim, eleger o vencedor na categoria Produção Humorística. Sarcástico e bem produzido, fica difícil entender a razão do cancelamento do programa em 2011 e por que a Globo ainda não encomendou uma próxima temporada para o ano que vem.
Outra categoria criada para este ano foi Programa Trash. E na disputa com Luciana Gimenez e seu marido, o sócio da Rede TV! Marcelo de Carvalho, João Kléber e o Você na TV! levaram a melhor. Afinal, é o único apresentador da televisão brasileira que segura audiência na base do talento, já que produção e conteúdo quase inexistem em seu programa, que, de quebra, ainda é a maior audiência da emissora. Seguindo a tênue linha do bom gosto, o Bem Estar, da Globo, protagonizou o "Momento Bizarro de 2013" ao exibir um gigantesco ânus inflável e muitas frases de duplo sentido ao tratar sobre doenças do intestino. Mas no todo, nenhum programa em 2013 foi mais constrangedor que o "novo" Vídeo Show, que, pelos exageros de Zeca Camargo e formato equivocado, acabou como Destaque Negativo do ano, categoria que foi dividida entre produção e profissional. E, para acompanhar o vespertino, ninguém melhor do que o engessado Fausto Silva, há 24 anos antecipando a inexorável depressão de domingo.
Apresentadora
Melhor: Fátima Bernardes, do Encontro com Fátima Bernardes, da Globo.
No caminho
Demorou, mas Fátima Bernardes conseguiu achar o tom certo para o seu Encontro com Fátima Bernardes. Por muitos meses, a apresentadora pareceu perdida em meio a um programa chato e sem assunto. Isso sem falar na tentativa de modernizar e dar leveza ao seu visual, que fez com que ela aparecesse cada vez mais infantilizada no ar. Com um ano de programa e a audiência estabilizada em torno de 10 pontos, Fátima relaxou. Mais segura, evitou os excessos iniciais e provou que consegue falar de qualquer assunto sem parecer uma leitora de "teleprompter". A apresentadora, enfim, mostrou a que veio. Bastava apenas melhorar as pautas e os convidados do programa, o que foi feito ao longo de 2013.
Apresentador
Melhor: Serginho Groisman, do Altas Horas, da Globo.
Personalidade forte
À frente do Altas Horas há 13 anos, Serginho Groisman utiliza muito bem a autonomia artística que conquistou dentro da Globo com o horário de exibição da produção. Sexo, drogas, rock, pagode, gospel, humor e dramaturgia, tudo é permitido dentro do programa, sem que, necessariamente, ocorra qualquer perda de unidade ou coerência. Seja como apresentador, entrevistador ou mediador de debates, Serginho sempre vai além do óbvio e da superficialidade. Em 2013, ele mostra, mais uma vez, sua força em conduzir um programa que, independentemente do convidado ou do tema, respeita seu público na base do entretenimento de boa qualidade.
Programa de Variedades
Melhor: Altas Horas
Só dá ele
O formato de auditório domina a televisão brasileira. E a grande maioria dos apresentadores reza mesmo pela cartilha do sensacionalismo e assistencialismo, com números musicais e muitos anúncios publicitários entremeando as mazelas. Na contramão dessa ideia, surge novamente o nome de Serginho Groisman e seu Altas Horas, escolhido pela 13ª vez como o melhor Programa de Variedades. Em 2013, a produção não apresentou grandes novidades, mas continua na dianteira quando se trata de mistura de convidados e bons números musicais. Quando o assunto é comunicação com o público jovem, o Altas Horas continua imbatível.
Produção Humorística
Melhor: Junto & Misturado, da Globo.
Salvador da pátria
O humor de 2013 foi de poucas risadas sinceras. Receitas requentadas e formatos comprados no exterior só reforçaram a ausência de um programa onde inteligência e comédia pudessem caminhar de forma harmoniosa. Até que, nos acréscimos do segundo tempo, a Globo resolveu recolocar a trupe do Junto & Misturado em campo. Cancelado em 2011, cinco episódios do programa foram produzidos para "tapar o buraco" da programação de domingo à noite. E de olho na possibilidade de voltar à grade de forma definitiva, Bruno Mazzeo e equipe fizeram um grande trabalho. Irônico, moderno e bem produzido, Junto & Misturado consegue tirar o domingo do marasmo e da depressão promovida pelo Domingão do Faustão e Fantástico.
Programa Musical
Melhor: Sarau, da GloboNews
Viagem sonora
De terno e à frente do Bom Dia Brasil, Chico Pinheiro tenta equilibrar seu jeito descontraído com o tom mais sisudo de um telejornal. Mas, no comando do Sarau, programa musical da GloboNews, o público consegue enxergar a verdadeira "persona" alegre e livre do jornalista e apresentador. Com pautas e convidados de real prestígio no meio musical, em 2013, Chico viajou o Brasil em busca de novos nomes e sons, sem esquecer, é claro, sua grande paixão: o samba. Na última temporada, além das viagens, fica evidente que o orçamento do programa também mudou, ganhando cenários e maiores caprichos técnicos. A música é o foco. Mas, distante do tom didático e chato, Chico e seus convidados dissecam a história das canções e o processo de composição de forma simpática e respeitando o caráter informativo do canal pago.
Programa de Competição/Reality
Melhor: The Voice, da Globo
Além da música
A pretensão de lançar um novo artista para o sucesso é a grande ironia dos programas de calouros. Até porque, nem mesmo forçando a mente, é possível encontrar um caso recente de êxito de algum vencedor de "realities", como os extintos Fama, Ídolos, Astros e Got Talent Brasil. Nem o The Voice Brasil conseguiu essa façanha. No entanto, o programa dirigido por Boninho se destaca por sua produção eficiente na adaptação do formato estrangeiro para o Brasil. Com apresentação de Tiago Leifert e Lulu Santos, Carlinhos Brown, Daniel e Claudia Leitte como técnicos, o "reality" conseguiu captar ainda mais a atenção do público ao trocar seu dia de exibição para quinta-feira. Os exageros e a egolatria dos técnicos ainda atrapalham um pouco o bom andamento do programa. Porém, a dose certa de histórias interessantes, participantes carismáticos e bom repertório justificam a boa repercussão da segunda temporada.
Talk Show
Melhor: Programa do Jô, da Globo.
Papo sincero
Aos 75 anos, Jô Soares continua a exibir vigor e curiosidade à frente do Programa do Jô. Aliado a isso, a maturidade e a despretensão de quem não tem de provar mais nada ao público e à crítica vêm fazendo a diferença na condução do programa. Leve e brincando em cena, a graça de Jô hoje em dia está exatamente na ausência de amarras de seu discurso e no tom mais cômico para o qual ele, usualmente, encaminha as entrevistas. Na esperteza de quem encara o mundo artístico há tempos, Jô tem deixado a vaidade de lado quando tem em seu sofá alguém que realmente acrescente. No entanto, com ou sem bom papo, o telespectador mais experiente sabe bem que o grande "personagem" do Programa do Jô é o próprio apresentador.
Programa "Trash"
Melhor: Você na TV!, da Rede TV!
Olhos vidrados
Enquanto o Você na TV! está no ar, mesmo o telespectador mais viciado em zapear pela programação da TV aberta sente dificuldades em trocar de canal ao passar pela Rede TV!. Mestre em segurar o público mesmo falando sobre o "nada", João Kléber exibe toda sua desenvoltura ao tentar jogar luz sobre os supostos "segredos" de seus convidados. De semblante sempre preocupado e aos gritos de "Para, para, para, para, para!", o apresentador vai colando uma história inverossímil atrás da outra – sempre entremeadas por ações de "merchandising" – e, quando se dá conta, o telespectador já perdeu boa parte de seu tempo ansioso por revelações como "Eu me prostituía para comprar 'cheeseburger'" ou "Depois de seis meses de namoro, quero confessar que sou careca". Na base do carisma e do suor, não importa o tema, João Kléber prova que a curiosidade humana é maior do que a capacidade de raciocinar.
Momento Bizarro 2013
Ao falar sobre doenças do intestino, o Bem Estar, da Globo, decidiu usar um gigantesco ânus cenográfico, de onde o apresentador Fernando Rocha e médicos especialistas respondiam às perguntas do público. (http://www.youtube.com/watch?v=NLmUbsR8lGY)
Piada pronta
Programa de saúde apresentado por Mariana Ferrão e Fernando Rocha, o Bem Estar poderia também fazer parte do núcleo de humor da Globo. Descontraída, a produção passeia por assuntos como diabetes, doenças cardiovasculares, emagrecimento, sempre com a ajuda de médicos renomados e tentando ser o mais profunda possível. Tanto que, ao falar de hemorroidas e outras complicações da região, utilizou um gigantesco intestino cenográfico, de onde os médicos Flavio Steinwurz e Fabio Atui explicavam possíveis razões de sangramentos do ânus, acompanhados por um animado Fernando Rocha, que proferiu frases como "Vamos entrando, a casa é de vocês" e "Estou em um lugar muito específico do corpo humano, que todo mundo tem". Dicas de saúde são sempre bem-vindas, mas exibir um ânus gigante antes das 10 horas da manhã resultou, no mínimo, estranho.
Destaques Negativos
Produção: Vídeo Show, da Globo.
Carnaval fora do tom
Ao longo de 30 anos de existência, o Vídeo Show foi perdendo sua função dentro da programação da Globo. Antes revisionário, o programa passou a ser uma estante da grade atual, repercutindo e tentando "bombar" produções em exibição na emissora. Carente de uma reformulação, a cúpula da Globo resolveu tirar o programa das mãos de Boninho e entregá-lo ao diretor de núcleo Ricardo Waddington. Novas ideias e boas mudanças são sempre bem-vindas, mas o que Waddignton promoveu foi um retrocesso de extremo mau gosto. Agora apresentado por um exagerado Zeca Camargo, o Vídeo Show ganhou ares de programa de auditório, onde a especialidade do formato é constranger seus convidados. Antes comedido por conta do tom jornalístico do Fantástico, Zeca está quase irreconhecível, gritando a todo momento e tentando forçar intimidade com os participantes e assuntos pertinentes ao programa. A experiência tornou o Vídeo Show, que até bem pouco tempo atrás era um típico programa para se ver depois do almoço, em um carnaval de "egos". E se refletiu na audiência, que não demonstrou tanta curiosidade assim pelas novidades e segue abaixo dos 10 pontos.
Profissional: Fausto Silva, do Domingão do Faustão, da Globo
Pastiche de si mesmo
Fausto Silva já faz parte dos "móveis e utensílios" da Globo. Há 24 anos no comando do Domingão do Faustão, ele permanece fiel aos seus bordões, expressões e desatinos. A produção do dominical tem em mãos todo o elenco da emissora, mas prefere sempre fazer mais do mesmo: competições sem sentido, lançamentos musicais atrapalhados pelo apresentador e alimentar a vaidade ou constranger "medalhões" da Globo no Arquivo Confidencial. Na certeza de que tudo vai acabar com "Videocassetadas" que todos já viram na infância. Sempre na briga com sua figurinista – que, como vingança, parece escolher as tenebrosas camisas usadas pelo apresentador a dedo –, Fausto se escora em seu carisma e simplicidade, onde sem qualquer novidade, parece mesmo estar apenas esperando pela aposentadoria.
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