Kanye West reacende tabus em clipe com famosos nus na cama
Nudez gratuita, sexo por interesse, invasão de privacidade, fama pelo nada, idolatria burra, narcisismo patológico. O clipe e a letra de 'Famous', single do álbum 'The Life of Pablo', de Kanye West com participação de Rihanna e Swizz Beats, suscita inúmeras interpretações e polêmicas.
A versão oficial é que o conceito do provocativo clipe, lançado na sexta-feira (24) no serviço de streaming Tindal, foi inspirado na pintura Sleep ('Sono') do artista plástico Vincent Desiderio.
Mas a sequência de vários famosos nus na mesma cama, filmada como se um paparazzo registrasse a cena de uma pós-orgia, parece alusão à sex tape que transformou a mulher do rapper, Kim Kardashian, em celebridade planetária instantânea.
"Não era para ser erótico. Não quis apoiar ou criticar qualquer pessoa. É uma observação sobre a fama", declarou o cantor à revista Vanity Fair. "Outros famosos gostariam de estar naquela cama", ironizou, com habitual imodéstia.
Kanye West é viciado em si próprio e craque na autopromoção. O clipe é genial nos quesitos marketing viral e publicidade espontânea. Dominou as redes sociais. E dele tira-se uma constatação tão óbvia quanto inquietante: a nudez ainda é um tabu no avançar do século 21.
Na mídia, a nudez choca. A nudez ojeriza. A nudez envergonha. E a nudez (alheia) ainda gera curiosidade desproporcional ao conhecimento que se tem da anatomia humana.
Por que a nudez de famosos ainda serve de isca para atrair a atenção coletiva, ainda que representada por bonecos de borracha, como no clipe? Talvez esta seja uma fronteira inalcançável para a maioria das pessoas, como tantos outros tabus. O sexo grupal, por exemplo, como o vídeo também sugere.
Quando nus, ficamos totalmente expostos ao julgamento estético. 'Corpo perfeito ou imperfeito? Desejável ou repulsivo? Aprovado ou reprovado?' E fragilizados pelo julgamento moral: 'prazer ou pecado? Libertação ou devassidão? Certo ou errado?' Já a nudez do outro desperta não apenas a libido como o impulso das comparações físicas. Quem resiste a fazê-las?
O rapper compôs irônica miscelânea ao definir quais figuras colocaria sob seus lençóis. A começar pelo candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump - posicionado de bruços, vulnerável. O magnata é malvisto pela comunidade negra americana, da qual West é um símbolo de superação e sucesso.
Kanye está ladeado pela escultural Kim (e seus glúteos sobrenaturais) e a cantora Taylor Swift, sua inimiga número 1 desde 2009, quando a hostilizou ao vivo em uma premiação da MTV. Na letra de 'Famous', o rapper é explícito na intenção de colocá-la ali, corpo a corpo com ele: 'Acho que Taylor e eu ainda vamos transar. Por quê? Eu fiz essa vadia ficar famosa'. Machismo e egocentrismo na potência máxima.
Outro 'convidado' para a king size do artista foi o comediante Bill Cosby, acusado de assédio e abuso sexual contra dezenas de mulheres. Perto dele, a transexual Caitlyn Jenner, ex-Bruce Jenner, madrasta de Kim Kardashian; a nudez real de Cat após a mudança de gênero ainda é inédita.
O ex-presidente George W. Bush aparece numa extremidade da cama, apalpando Anna 'O Diabo Veste Prada' Wintour, temida editora da revista Vogue, responsável por colocar Kim e Kanye na capa da edição de abril de 2014.
A galeria de dorminhocos desnudos é completada por Rihanna, seu ex, Chris Brown, o também rapper Ray J. (com quem Kardashian protagonizou a fita de sexo vazada) e Amber Rose, ex de Kanye.
Dada a estrondosa repercussão de 'Famous' surgem duas questões: qual será a ousadia de Kanye West em seu próximo lance de marketing? E até quando a nudez de celebridades vai 'quebrar' a internet?