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Olga Tokarczuk e Peter Handke ganham o Prêmio Nobel de Literatura de 2018 e 2019

A polonesa Olga Tokarczuk, autora de 'Vagantes', e o dramaturgo austríaco Peter Handke são os vencedores do Prêmio Nobel de Literatura de 2018 e 2019

10 out 2019 - 08h14
(atualizado às 11h02)
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A polonesa Olga Tokarczuk, 57 anos, é a ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura 2018 e o austríaco Peter Handke, 76 anos, é o vencedor da premiação em 2019. O anúncio foi feito pela Academia Sueca nesta quinta-feira, 10, depois de viver um grande escândalo de assédio sexual e de vazamento de informações, iniciado em 2017, e que a fez suspender a premiação no ano passado.

Olga Tokarczuk, a quarta das cinco mulheres que lideraram as apostas para o Prêmio Nobel e a 15.ª a ser premiada pela Academia Sueca desde a criação do Nobel de Literatura, em 1901, nasceu em 1962, estreou na literatura em 1993 e ganhou Booker International em 2018 com Flight. É um dos principais nomes da literatura polenesa e vem ganhando destaque em países de língua inglesa.

Dela, foi publicano aqui, pela Tinta Negra em 2014, Os Vagantes.No mês que vem, a Todavia lança Sobre os Ossos dos Mortos (Drive Your Plow Over the Bones of the Dead), mais recente romance de Olga Tokarczuk, que mistura thriller e humor ao refletir sobre a condição humana e a natureza. A editora também vai reeditar, mais para a frente, Os Vagantes - o novo título deve ser Viagens.

Crítica da extrema-direita da Polônia, ela tem sido agredida por poloneses conservadores por ter criticado alguns fatos do passado do país, como episódios de antisemitismo - Olga chegou a receber ameaças de morte.

Peter Handke nasceu na Áustria em 1942, é romancista, ensaísta, dramaturgo e roteirista de cinema. Para a Academia Sueca, ele é "um dos mais influentes escritores europeus depois da Segunda Guerra Mundial". Entre os trabalhos destacados no anúncio está A Sorrow Beyond Dreams, romance de 1975 sobre o suicídio de sua mãe. No cinema, colaborou com Wim Wenders no roteiro de Asas do Desejo e de Os Belos Dias de Aranjuez.

De Peter Handke, a Perpectiva publicou, em 2015, a antologia Peter Handke: Peças Faladas, com quatro textos de meados dos anos 1960 (Predição, Insulto ao Público, Autoacusação e Gritos de Socorro). O austríaco é autor, ainda, do romance A Perda da Imagem: Ou Através da Sierra de Gredos, de 2009, e de Don Juan (Narrado Por Ele Mesmo), de 2007, ambos lançados pela Estação Liberdade.

A Academia Sueca destacou que Olga é foi escolhida por sua "imaginação narrativa que, com paixão enciclopédica, representa o cruzamento de fronteiras como uma forma de vida". Já Handke, "por um trabalho influente que, com engenhosidade linguística, explorou a periferia e a especificidade da experiência humana".

Assim como ocorreu em 2018, a Academia Sueca não premiou nenhum escritor em 7 ocasiões - nenhuma delas envolvendo crimes como os cometidos agora, mas, sim, duas guerras mundiais: 1914, 1918, 1935, 1940, 1941, 1942 e 1943. Em outras 7 ocasiões, ela adiou para o ano seguinte: 1915, 1919, 1925, 1926, 1927, 1936 e 1949.

Livros de Olga Tokarczuk

Vagantes (Tinta Negra, 2014)

Coleção de relatos, alguns fictícios e outros baseados em fatos reais, reunidos por uma única narradora jamais nomeada. Ela assume ser uma vagante ou errante movida por um interesse de conhecer tudo que é estragado, imperfeito ou quebrado.

Sobre os Ossos dos Mortos (Todavia, 2019)

Subversivo, macabro e discutindo temas como mundo natural e civilização, Sobre os Ossos dos Mortos parte de uma história de crime e investigação convencional para se converter numa espécie de suspense existencial.

Livros de Peter Handke

Peter Handke: Peças Faladas (Perspectiva, 2015)

A antologia reúne os primeiros textos teatrais de Peter, escritos durante os anos de 1960. Nomeadas como Predição, Insulto ao público, Autoacusação e Gritos de socorro, as quatro peças são caracterizadas por uma contestação de princípios e valores da tradição ocidental.

Perda da Imagem: Ou Através da Sierra de Gredos (Estação Liberdade, 2009)

O livro conta a história de uma banqueira que viaja para a região espanhola da Mancha, até a Sierra de Gredos, em busca de um escritor contratado para escrever a sua biografia. Lá, ela se depara com uma cidade surreal em que os meios de comunicação dominam todos os âmbitos. O romance discute o poder da imaginação, a importância da imagem e a influência do ritmo capitalista na vida e nas relações pessoais.

Don Juan (narrado por ele mesmo) (Estação Liberdade, 2007)

A história da figura lendária de Don Juan é recontada na contemporaneidade por um cozinheiro solitário que tem hábito de leitura. Um belo dia, ele decide dar um basta nos livros, justamente no mesmo momento em que o próprio Don Juan chega no jardim do albergue onde ele vive, nas ruínas de um monastério de Port-Royal-des-Champs, na França.

Entenda por que o Prêmio Nobel de Literatura não foi concedido em 2018

Em novembro de 2017, 18 mulheres acusaram uma conhecida personalidade da cultura francesa, com quem a prestigiada instituição tinha vínculos estreitos, de violência e/ou assédio sexual. O episódio envolvia o dramaturgo Jean-Claude Arnault, uma grande figura cultural na Suécia e marido da poeta Katarina Frostenson, membro da Academia.

A Academia cortou relações com Arnault e determinou uma auditoria sobre suas relações com a instituição, mas desacordos internos nas medidas a tomar geraram confusão.

Diante das circunstâncias, sete membros da Academia - de um total de 18 - renunciaram, incluindo a secretária permanente, Sara Danius. Eles eram designados de forma vitalícia e não tinham "autorização" para renunciar, mas poderiam optar por não participar das reuniões e decisões.

O relatório da auditoria descartou que Arnault tenha influenciado em decisões sobre prêmios e confirmou que a confidencialidade sobre o ganhador do Nobel foi violada em várias ocasiões.

O escândalo provocou especulações nos meios de comunicação sobre o destino do prêmio liteário, que foi entregue em 2017 ao autor britânico-japonês Kazuo Ishiguro, e no ano anterior ao cantor e compositor americano Bob Dylan.

O rei da Suécia, Carlos XVI Gustavo, que é o principal responsável pela Academia fundada em 1786, concordou em modificar os estatutos para permitir que os membros renunciem e sejam substituídos, garantindo assim a sobrevivência da instituição.

Em maio, a edição 2018 do Prêmio Nobel de Literatura foi adiada para 2019.

Um novo capítulo da novela do Nobel foi acrescentado à história no dia 1.º de outubro. Aos 72 anos, Jean-Claude Arnault foi condenado a dois anos de prisão por estuprar duas vezes, em outubro e dezembro de 2011, uma jovem em um apartamento em Estocolmo.

Em janeiro de 2019, Katarina Frostenson deixou a Academia Sueca. A investigação sobre se ela vazou informações não foi levada adiante, e em comum acordo com a instituição ela formalizou sua saída.

Estadão
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