Sabe o que é 'workslop'? Veja como trabalhos gerados por IA estão custando milhões às empresas
Pesquisas mostram que conteúdos superficiais gerados por ferramentas de inteligência artificial estão corroendo produtividade e confiança nas equipes
O entusiasmo em torno da inteligência artificial (IA) tem levado muitas empresas a estimular o uso dessas ferramentas no dia a dia, mas um efeito colateral vem chamando atenção de pesquisadores do BetterUp Labs e do MIT: o chamado 'workslop'.
O termo vem da combinação de duas palavras em inglês: "work" (trabalho) e "slop" (algo malfeito, de baixa qualidade) e descreve trabalhos que parecem profissionais, mas não trazem profundidade, contexto ou utilidade. Em outras palavras, trata-se de conteúdo gerado por IA que parece certo à primeira vista, mas faz com que quem recebe precise revisar ou refazer o trabalho.
Uma pesquisa realizada neste mês com 1.150 trabalhadores de escritório em tempo integral nos EUA, pelo BetterUp Labs em parceria com o Stanford Social Media Lab, mostra que 40% dos profissionais receberam workslop no último mês. Cada ocorrência exige quase duas horas de retrabalho e gera um custo médio de US$ 186 por colaborador. Em grandes empresas, as perdas podem ultrapassar milhões de dólares por ano.
O prejuízo, no entanto, não se limita ao tempo desperdiçado, o relatório mostra que o impacto também é emocional e social. Funcionários que recebem esse tipo de entrega relatam frustração, desconfiança e até atritos hierárquicos, já que gestores também estão entre os que enviam materiais superficiais.
Metade dos entrevistados passou a considerar colegas que enviaram workslop como menos criativos, competentes e confiáveis. Em 42% dos casos, quem enviou o material foi vistos como menos confiável; em 37%, como menos inteligentes.
O fenômeno ocorre principalmente entre colegas de mesmo nível (40%), mas também acontece de subordinados para gestores (18%) e, em menor escala, de chefes para equipes (16%). Profissionais dos setores de tecnologia e serviços são os mais afetados.
O MIT Media Lab analisou entre janeiro e junho deste ano mais de 300 iniciativas de IA e entrevistou cerca de 205 líderes e representantes de empresas. O estudo revela que 95% das organizações que investem em IA ainda não conseguem medir retorno real sobre esses investimentos, mesmo com o número de processos baseados em IA dobrando em apenas um ano.
A raiz do problema, segundo os pesquisadores, está no uso da tecnologia como atalho para evitar esforço cognitivo. Em vez de funcionar como parceira estratégica, a IA é empregada para "encher páginas", deslocando o peso da análise crítica para colegas.
Evitar o workslop, de acordo os pesquisadores do BetterUp Labs, exige normas claras de uso da tecnologia. Cabe às lideranças definir em quais tarefas a IA agrega valor, em quais não deve ser aplicada e como os colaboradores devem integrar essas ferramentas ao fluxo de trabalho.
As recomendações incluem encarar a IA como apoio criativo e colaborativo, e não como substituto do esforço humano. Para os pesquisadores, empresas que adotam esse modelo conseguem preservar padrões de qualidade sem desperdiçar recursos.
A mentalidade dos profissionais também é crucial: quem tem iniciativa e otimismo utiliza a tecnologia para potencializar a criatividade e acelerar resultados, já aqueles que usam a IA apenas para evitar esforço acabam alimentando o ciclo de workslop e sobrecarregando colegas.
Seja qual for a postura adotada, o alerta das pesquisas é claro: workslop pode parecer eficiente à primeira vista, mas cobra um preço alto das organizações. A diferença entre perdas milionárias e ganhos concretos vai depender de como líderes e equipes vão definir o uso da IA.