Robô da Tesla 'atrapalha' trabalho em fábricas, diz ex-desenvolvedor de projeto de Musk
Chris Walti, ex-chefe da equipe Optimus, afirma que o formato humanoide atrapalha a eficiência industrial
O ex-líder da equipe responsável pelo robô humanoide da Tesla, Chris Walti, afirmou que o formato adotado por Elon Musk para o projeto Optimus é inadequado para tarefas industriais. Segundo ele, robôs com aparência humana são pouco eficientes para atividades repetitivas e de alta velocidade, comuns em linhas de produção. A declaração contrasta com as promessas de Musk, que aposta no robô como um dos pilares do futuro da companhia.
O projeto Optimus foi anunciado em 2021 como um robô bípede de uso geral, desenvolvido para realizar tarefas perigosas, entediantes ou repetitivas no lugar de seres humanos. Desde então, o robô passou por diversas atualizações em velocidade, equilíbrio e estabilidade, e tem sido promovido por Musk como o futuro da força de trabalho fabril.
Na semana passada, o CEO da Tesla afirmou à CNBC que espera ter "milhares" de robôs Optimus trabalhando nas fábricas da montadora até o fim deste ano. Ele também declarou que a empresa produzirá milhões de unidades até 2030 e que o produto pode elevar o valor da Tesla para US$ 25 trilhões, superando o mercado automotivo e entrando no setor de automação em larga escala.
Para Chris Walti, que liderou o time da Tesla responsável por desenvolver o robô até deixar a empresa em 2022, os planos são excessivamente otimistas. "Não é um formato útil. A maior parte do trabalho que precisa ser feito na indústria são tarefas altamente repetitivas, nas quais a velocidade é fundamental", disse ele em entrevista ao Business Insider.
Optimus appears to be remotely controlled… for now! pic.twitter.com/L89fz8cnOM
— The Kilowatts ? (@klwtts) October 11, 2024
Walti fundou após sua saída da Tesla a empresa Mytra, especializada em robôs de transporte com estrutura plana e modular, voltados à movimentação de cargas em armazéns. Segundo ele, esses robôs têm fator de forma mais simples e adequado para ambientes industriais, diferente dos humanoides.
Além da dificuldade prática, o engenheiro afirma que o design humanoide traz complexidade técnica significativa. "É um problema de engenharia de várias ordens de magnitude mais difícil do que carros autônomos. Estamos no terceira entrada do jogo da robótica, e robôs humanoides são um problema da nona entrada", comparou.
Ele também criticou a lógica de replicar o corpo humano em robôs voltados à produção industrial. "Nós evoluímos para escapar de lobos e ursos. Não fomos projetados para repetir tarefas. Por que então adotar esse formato para realizar exatamente isso?", questionou.
As dúvidas de Walti ganham relevância diante do histórico da Tesla com automação. Durante a produção do Model 3, Musk tentou automatizar amplamente a linha de montagem, mas acabou recuando após enfrentar gargalos e atrasos. "Foi um erro", reconheceu o próprio CEO à época, em uma publicação no X (ex-Twitter).
Apesar das ressalvas, grandes empresas têm avançado com robôs humanoides em fábricas. A GXO Logistics firmou contrato com a Agility Robotics para uso do robô Digit, e a Jabil começou a testar os robôs Apollo, da Apptronik. A BMW também anunciou que usará robôs humanoides em suas fábricas nos EUA.
O próprio Optimus já foi mostrado realizando tarefas domésticas e interagindo com convidados em eventos da Tesla, ainda que sob controle remoto. A empresa afirmou que dois robôs trabalham atualmente em uma de suas fábricas, mas não informou suas funções específicas.