Capital da inovação: São Paulo tem mais de 360 mil empresas de tecnologia
O município tem mais startups e negócios de tecnologia do que qualquer outra no País; para especialistas, cidade tem oportunidades e capacidade para se tornar um hub tecnológico cada vez mais importante
Nenhuma cidade no País tem mais empresas de tecnologia do que a cidade de São Paulo. A capital paulista poderia ser chamada de capital da inovação. A tendência se consolidou de forma acelerada nos últimos anos. O número de negócios de tecnologia na cidade passou de 220 mil em 2015 para 360,2 mil em 2025, um salto de 63,5%, de acordo com levantamento feito pela Secretaria Municipal da Fazenda a pedido do Estadão.
No primeiro semestre de 2025, foram criados no município 7,4 mil novos negócios. Ou seja, a média é superior a 1,2 mil empresas abertas por mês neste período, mais de 40 por dia.
O levantamento considera todo o ecossistema de inovação: desde gigantes internacionais do setor que têm sede em São Paulo, passando por médias e pequenas empresas, até microempreendedores individuais (MEIs) da área de tecnologia. Entre as grandes empresas, estão nomes como Google, Bytedance, Amazon, Shopee e Meta, além das brasileiras Nubank e PicPay.
Este ecossistema de inovação deve ganhar um novo ponto de encontro a partir de 2026, a São Paulo Innovation Week. O Estadão lançou, nesta sexta-feira, 15, a iniciativa para realização do evento com foco em inovação, tecnologia e negócios, em conjunto com os organizadores da Rio Innovation Week. A conferência deve ter como sedes a Mercado Livre Arena Pacaembu, a Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e palcos espalhados pela periferia da capital paulista. O anúncio foi feito no último dia da edição 2025 da RIW.
Arrecadação cresce 521% em uma década
Com o maior número de empresas de tecnologia, que tendem a ter crescimento acelerado especialmente nos primeiros anos de empreendimento, a arrecadação do município também cresceu. Em 2015, o segmento contribuiu com R$1,09 bilhão aos cofres da cidade. Em 2024, essa cifra chegou a R$ 6,48 bilhões, um aumento de 521% em uma década. Só no primeiro semestre deste ano, a arrecadação bateu R$ 4,01 bilhões, perante faturamento de mais de R$ 100 bilhões. A alíquota média é baixa sobre as atividades exercidas pelo setor, que varia entre 2% e 5%.
"A prefeitura criou e fortaleceu nos últimos anos atrativos que fazem São Paulo se destacar no ambiente de empresas de tecnologia. Entre os incentivos destacam-se leis que reduziram ou simplificaram as alíquotas para atividades tecnológicas, como as desenvolvidas por plataformas digitais", afirma o secretário municipal da Fazenda, Luís Felipe Vidal Arellano.
Segundo dados da pasta, a maioria das empresas de tecnologia permanece concentrada em bairros nobres da capital paulista, como Itaim Bibi, Bela Vista, Jardim Paulista, Pinheiros e Vila Mariana, que são, respectivamente, os cinco distritos com maior volume de negócios no segmento. Juntos, eles concentram 23,5% de todos os CNPJs de tecnologia cadastrados na cidade.
Fora das áreas tradicionais, dez distritos já correspondem, juntos, a 20,4% do total das companhias do setor na cidade: Santo Amaro, República, Saúde, Consolação, Moema, Jabaquara, Tatuapé, Santana, Perdizes e Vila Andrade.
Neste ano, assim como no anterior, negócios ligados à inteligência artificial têm motivado a abertura de empresas na cidade. "O crescimento recente do número de startups na cidade também é impulsionado pela onda de inovação em áreas como inteligência artificial, que vem estimulando a criação de novos negócios", diz o secretário municipal de desenvolvimento econômico e trabalho, Rodrigo Goulart.
De acordo com relatório da Startup Genome, que monitora as cidades mais inovadoras do mundo, o ecossistema de startups de São Paulo teve um valor total de US$ 51 bilhões entre o segundo semestre de 2022 e 2024, superando mais do que o dobro da média global de US$ 20,4 bilhões. O montante captado em rodadas iniciais de investimentos somou US$ 841 milhões, também acima da média global, enquanto o tempo médio para saída de empresas foi de 9,2 anos, menor do que os 11,2 anos registrados globalmente. O valor obtido nas saídas no período 2020-2024 foi expressivo: US$ 50 bilhões, mais de seis vezes a média global.
O presidente da Associação Brasileira de Corporate Venture Capital e Open Innovation (ABCVC), Leonardo Monte descreve o ecossistema de startups de São Paulo como um ambiente de inovação maduro e proeminente na América Latina por concentrar não só empresas de tecnologia, mas também escritórios dos principais fundos estrangeiros de venture capital e universidades renomadas que colaboram com a iniciativa privada.
"O nosso ecossistema em São Paulo é relativamente maduro. Vem muita gente de fora aprender conosco porque já passamos por algumas fases importantes. Temos um bom 'track record', é o termo que a turma do setor usa para falar de histórico de sucesso. Quanto mais maduro o ambiente, mais fácil fica para crescer de forma mais saudável", afirma Monte.
Não à toa, a cidade de São Paulo tem o maior número de startups do País. Segundo dados da Cortex, o município tem atualmente 3.877 startups, ante 754 no Rio de Janeiro e 661 em Belo Horizonte. A maior parte das empresas é dos segmentos de tecnologia da informação, comércio, serviços administrativos, comunicação e financeiro.
Colaboração entre grandes empresas, startups e instituições de pesquisa
A colaboração entre diferentes atores, como grandes empresas, startups e instituições de pesquisa, é um fator chave no processo de inovação, e a capital paulista tem exemplos disso.
Em fevereiro do ano passado, o Google firmou parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas, o IPT, para criar um espaço para profissionais de engenharia da gigante das pesquisas online integrado ao instituto.
"O novo Centro de Engenharia do Google - que tem expectativa de inauguração no início de 2026 -, será o espaço de profissionais dedicados ao desenvolvimento de produtos de diversas áreas estratégicas, como privacidade, segurança e proteção aos usuários. Eles farão parte de equipes focadas em criar soluções que ofereçam maior proteção para usuários de produtos como Gmail, Busca e produtos baseados em inteligência artificial (IA)", afirma Alex Freire, diretor de engenharia do Google.
Freire lembra que a história do Google no País começou desta forma, em Minas Gerais. "O Google começou sua trajetória no Brasil em Belo Horizonte a partir da aquisição de uma startup fundada por um grupo de professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pouco tempo depois iniciamos nossas operações em São Paulo com a área dedicada a negócios e, mais recentemente, anunciamos nosso plano de abrir um segundo centro de engenharia no Brasil, dessa vez aqui em São Paulo no prédio 1 do IPT", diz.
Na Evertec Brasil, empresas de tecnologia para o setor financeiro antes chamada Sinqia, a colaboração com o ecossistema de startups ocorre por meio de um fundo de investimento corporativo voltado ao setor, área conhecida pelo jargão CVC (Corporate Venture Capital).
Chamada Torq, a área faz eventos e mentorias com startups e as selecionadas chegam a receber investimentos para acelerar o ritmo de crescimento dos negócios. Muitas vezes, essas empresas se tornam fornecedoras da corporação. Apesar de a Sinqia ter sido fundada nos anos 1990 no País, ela foi comprada pela Evertec, sediada em Porto Rico, no ano passado e agora, conta Thiago Iglesias, líder de operações do Torq, pode ajudar startups criadas em São Paulo a se internacionalizarem.
"A gente já tinha um conhecimento muito grande em relação a como lidar com startups, como circular no ecossistema de empreendedorismo de São Paulo. O que veio com a Evertec foi uma uma força legal para a gente ter braços em outros locais da América Latina", diz Iglesias.