O mês de dezembro é dedicado mundialmente à conscientização sobre o HIV/AIDS e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
No Brasil, os números reforçam a urgência do debate. Entre 1980 e junho de 2024, o país registrou 1.165.599 casos de HIV/AIDS, sendo mais de 36 mil novos diagnósticos apenas em 2024. Já a sífilis adquirida soma 1.538.525 casos desde 2010, com 242.826 notificações no último ano.
Esse cenário também se reflete em municípios de médio porte. Em Ribeirão Preto, dados da prefeitura indicam uma taxa de detecção de sífilis adquirida de 238,3 casos por 100 mil habitantes em 2023, evidenciando que a infecção segue em circulação e que ampliar o acesso à testagem é uma medida prioritária de saúde pública.
Sintomas silenciosos dificultam o diagnóstico
Segundo a infectologista do Grupo São Lucas, Dra. Fernanda Puga, o principal desafio no enfrentamento das ISTs é o diagnóstico precoce.
No caso do HIV, os sintomas iniciais costumam ser confundidos com uma gripe ou virose, incluindo febre, mal-estar, dor de garganta, aumento dos gânglios e dores no corpo.
"Muita gente acaba ignorando esses sinais. Depois, a infecção pode permanecer assintomática por anos, enquanto a pessoa segue transmitindo o vírus sem saber", explica a médica.
A sífilis apresenta comportamento semelhante. Na fase inicial, pode surgir uma ferida indolor, que não coça e desaparece espontaneamente. Durante a evolução da infecção, ela pode permanecer totalmente assintomática por anos e, ainda assim, causar complicações graves, como danos ao sistema nervoso e ao coração, caso não seja tratada adequadamente.
Diagnóstico e tratamento: quanto mais cedo, melhor
Atualmente, os testes rápidos para HIV e sífilis são acessíveis e entregam resultados em até 30 minutos.
Para pessoas sexualmente ativas, a recomendação é realizar os exames ao menos uma vez por ano, com aumento da frequência em situações de maior exposição.
O tratamento do HIV, por meio da terapia antirretroviral (TARV), permite controle total da infecção e qualidade de vida. "Hoje usamos a expressão 'indetectável é igual a intransmissível'. Quando a carga viral atinge níveis indetectáveis, a transmissão sexual não ocorre", afirma a especialista.
Já a sífilis é totalmente curável quando diagnosticada precocemente, com tratamento à base de penicilina benzatina e acompanhamento clínico adequado.
Além do uso de preservativos, estratégias como a PrEP (profilaxia pré-exposição) e a PEP (profilaxia pós-exposição) ampliam a proteção contra o HIV, podendo alcançar até 99% de eficácia quando utilizadas corretamente, sendo a PEP indicada em até 72 horas após situações pontuais de risco.
Para a infectologista, campanhas como o Dezembro Vermelho são fundamentais para ampliar o acesso à informação, reduzir o estigma e fortalecer políticas públicas. "Precisamos tirar a ideia de que essas infecções são uma sentença de morte ou motivo de vergonha. Falar abertamente sobre prevenção e tratamento é essencial para proteger vidas e promover qualidade de vida", conclui.