Por que o pão reaquecido é mais benéfico ao corpo que o pão fresco

Segundo estudos recentes, o pão congelado e reaquecido pode ter algumas vantagens metabólicas em relação ao pão fresco. Saiba mais!

20 dez 2025 - 14h03

Quem olha para um pão recém-saído do forno dificilmente imagina que, segundo estudos recentes, o pão congelado e reaquecido pode ter algumas vantagens metabólicas em relação ao pão fresco. A explicação não está na padaria, mas na bioquímica dos carboidratos e em um tipo específico de amido conhecido como amido resistente. Pesquisas em nutrição apontam que o modo como o pão é armazenado e aquecido pode alterar a forma como o organismo digere esse alimento.

Do ponto de vista científico, não se trata de mudar o sabor ou a textura apenas por preferência, mas de entender como a estrutura do amido se transforma. Ao assar, esfriar, congelar e depois aquecer novamente o pão, parte desse amido se reorganiza, tornando-se menos disponível para digestão rápida. Isso pode impactar a resposta glicêmica, ou seja, a velocidade e a intensidade com que a glicose sobe no sangue após a refeição.

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Do ponto de vista científico, não se trata de mudar o sabor ou a textura apenas por preferência, mas de entender como a estrutura do amido se transforma – depositphotos.com / qwartm
Do ponto de vista científico, não se trata de mudar o sabor ou a textura apenas por preferência, mas de entender como a estrutura do amido se transforma – depositphotos.com / qwartm
Foto: Giro 10

O que é amido resistente e por que ele chama a atenção da ciência?

O amido resistente é uma fração do amido que não é totalmente digerida no intestino delgado. Em vez de ser rapidamente quebrado em glicose e absorvido, ele passa praticamente intacto até o intestino grosso, onde serve de "substrato" para a microbiota intestinal. Em termos práticos, funciona de maneira semelhante às fibras alimentares, contribuindo para um processo digestivo mais lento.

Pesquisadores classificam o amido resistente em vários tipos, de acordo com sua origem e forma de formação. No caso do pão, o mais relevante é o tipo que surge quando alimentos ricos em amido, como trigo, batata, arroz ou massa, são cozidos, depois resfriados e até congelados. Esse processo, chamado de retrogradação do amido, muda a estrutura das moléculas, tornando-as menos acessíveis às enzimas digestivas.

Essa característica desperta interesse em áreas como nutrição clínica, endocrinologia e saúde metabólica. Ao reduzir a fração de carboidrato de digestão rápida e aumentar a de amido resistente, o organismo tende a ter uma resposta glicêmica mais moderada, fator relevante para pessoas com resistência à insulina, pré-diabetes ou diabetes tipo 2, sempre dentro de um contexto de orientação profissional.

Por que a ciência considera o pão congelado e reaquecido uma opção interessante?

Estudos experimentais comparando pão fresco, pão resfriado e pão congelado e reaquecido apontam que o último costuma apresentar maior teor de amido resistente. Em alguns ensaios, voluntários consumiram diferentes versões do mesmo pão, enquanto pesquisadores mediam glicemia e insulina ao longo de algumas horas. Os resultados indicaram que, quando o pão passou pelo ciclo de esfriamento e reaquecimento, a elevação da glicose foi menos acentuada em relação ao pão consumido ainda fresco.

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O raciocínio é o seguinte: ao assar o pão, o amido se torna altamente disponível para digestão. Quando esse pão esfria, uma parte do amido se reorganiza, formando o amido resistente. Se ele é ainda congelado e, depois, aquecido novamente, essa estrutura pode se estabilizar mais. Assim, a mesma fatia de pão pode ter impacto diferente na glicemia dependendo do caminho que percorreu entre o forno e o prato.

A ciência também observa possíveis efeitos indiretos. Como o amido resistente chega ao intestino grosso, bactérias benéficas o fermentam, produzindo ácidos graxos de cadeia curta, como butirato. Essas substâncias estão associadas, em pesquisas, à saúde da mucosa intestinal e a possíveis benefícios imunológicos e metabólicos. Apesar disso, especialistas ressaltam que o pão continua sendo uma fonte de carboidrato e precisa ser considerado dentro de uma alimentação equilibrada.

Como aproveitar o amido resistente no pão no dia a dia?

Para quem deseja aplicar na rotina o que os estudos mostram sobre pão congelado e reaquecido, algumas práticas simples podem ajudar. Não se trata de uma regra obrigatória, mas de uma forma de organizar o consumo de pão com base em evidências científicas recentes.

  • Assar ou comprar o pão normalmente, preferindo ingredientes de boa qualidade.
  • Deixar esfriar completamente antes de guardar, evitando condensação excessiva.
  • Congelar as fatias em porções individuais, facilitando o uso posterior.
  • Reaquecer no forno, na torradeira ou na airfryer, até que fique quente ao centro.

Alguns estudos sugerem que o processo de reaquecimento não elimina o amido resistente formado no resfriamento e no congelamento, desde que o pão não seja queimado ou submetido a temperaturas extremas por tempo muito prolongado. Ainda assim, detalhes como tempo exato e temperatura variam conforme o tipo de pão, a receita e o equipamento utilizado em casa.

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Estudos experimentais comparando pão fresco, pão resfriado e pão congelado e reaquecido apontam que o último costuma apresentar maior teor de amido resistente – depositphotos.com / qwartm
Foto: Giro 10

O pão congelado e reaquecido é melhor para todos?

A expressão "melhor" precisa ser entendida com cuidado. Em termos de resposta glicêmica, o pão congelado e reaquecido pode representar uma alternativa mais interessante do que o pão fresco para parte da população, principalmente para quem precisa controlar variações rápidas de glicose. No entanto, isso não significa que se torne automaticamente um alimento isento de cuidados.

Profissionais de saúde costumam destacar que o impacto do pão, seja fresco ou reaquecido, depende de fatores como quantidade ingerida, presença de proteínas e gorduras na mesma refeição, nível de atividade física e condição metabólica individual. Além disso, o tipo de pão — integral, com grãos, fermentação natural ou refinado — também influencia a digestão e a saciedade.

Assim, o interesse da ciência pelo pão congelado e reaquecido está menos ligado à ideia de modismo e mais à compreensão de como técnicas simples de preparo e armazenamento podem modificar a maneira como o organismo lida com os carboidratos. A partir dessas informações, cada pessoa, com apoio profissional quando necessário, pode ajustar seu consumo de pão de forma mais consciente, considerando tanto o aspecto nutricional quanto o hábito cultural e o gosto pessoal.

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