Em 2025, o Brasil celebra quatro décadas de uma jornada marcada por ciência, ativismo e políticas públicas ousadas no enfrentamento da epidemia da aids e do HIV. Quarenta anos depois dos primeiros casos registrados, o país se consolida como referência global na resposta ao vírus, impulsionado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que garante a Terapia Antirretroviral (Tarv) universal e gratuita para todas as pessoas vivendo com HIV ou aids (PVHA).
Desde o reconhecimento da aids como um desafio de saúde pública, o Brasil investiu em pesquisa e na expansão de estratégias de prevenção e do acesso ao tratamento. O SUS é o pilar dessa vitória, assegurando desde a testagem rápida nos serviços de saúde até a distribuição gratuita dos medicamentos mais modernos.
Um dos avanços mais significativos é a comprovação científica de que uma pessoa vivendo com HIV que adere ao tratamento e atinge a carga viral indetectável NÃO transmite o vírus Esta é a poderosa mensagem I=I=0 (Indetectável = Intransmissível = Risco zero de transmissão). O I=I não é apenas um fato biológico, é uma ferramenta essencial para enfrentar o estigma e promover a qualidade de vida e o exercício pleno da sexualidade para as pessoas que vivem com HIV.
SUS: 40 anos contra a discriminação e ao lado da vida
Neste ano, o Brasil também alcançou um marco histórico, a eliminação da transmissão vertical do HIV como um problema de saúde pública. Isso significa que as pessoas que vivem com HIV e estão em tratamento não transmitem o vírus durante a gestação, o parto e a amamentação.
Nascer sem HIV
A transmissão vertical - quando o HIV é transmitido durante a gestação, parto ou amamentação - é uma pauta prioritária e, em 2025, sua eliminação tornou-se um marco histórico da resposta brasileira. Com acesso ao pré-natal de qualidade , que inclui prevenção combinada, testagem e tratamento imediato de gestantes que vivem com HIV, o Brasil eliminou essa forma de transmissão como problema de saúde pública, atingindo as metas da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde. Este feito simboliza uma conquista do SUS, e reforça o compromisso do Brasil com os direitos humanos, equidade no acesso aos serviços de saúde e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente no que se refere à saúde global e ao fim da epidemia de HIV e aids, alinhados à Agenda 2030 das Nações Unidas.
O objetivo central é: "Nascer sem HIV, pro dia nascer feliz." Isso é possível quando a gestante tem acesso à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento adequado durante o pré-natal, garantindo que o bebê nasça saudável e livre do vírus.
Indetectável = Intransmissível = zero risco
O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) tem como alvo o sistema de defesa do corpo, cuja função primordial é a proteção contra enfermidades. A ausência de tratamento adequado para o HIV pode levar ao desenvolvimento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids), que marca a fase mais avançada dessa infecção viral.
Nessa fase grave, a capacidade de resposta do sistema imunológico encontra-se severamente reduzida, tornando o organismo vulnerável a uma série de infecções secundárias, conhecidas como oportunistas. Os linfócitos são as principais células afetadas pelo vírus. O HIV tem a habilidade de modificar o material genético (DNA) dessas células que circulam no sangue para usá-las como fábricas de novas partículas virais. Após se replicar intensamente, o vírus destrói os linfócitos infectados, liberando-se para atacar e iniciar o ciclo de infecção em novas células.
Em resumo, o HIV é um vírus e a aids é a doença causada por ele. Com tratamento adequado, pessoas vivendo com HIV alcançam carga viral indetectável, vivem sem aids e não transmitem o vírus.
Prevenção combinada gratuita pelo SUS
Criada pelo Ministério da Saúde a prevenção combinada garante a possibilidade de escolha na prevenção do HIV, sífilis e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Essa estratégia é pensada a partir das necessidades e contextos de cada pessoa, criando múltiplas possibilidades a partir da saúde integral do indivíduo, combinando testagem, profilaxia e informação.
O uso de preservativos internos e externos ainda é peça fundamental na prevenção do HIV e outras IST, assim como a testagem regular, que permite o início rápido do tratamento, tornando o vírus indetectável e intransmissível e, em casos não reagentes, da prevenção. O SUS garante o acesso gratuito a estas e outras estratégias.
As profilaxias pré-exposição ao HIV (PrEP) e pós-exposição (PEP) mudaram radicalmente o cenário da prevenção nos últimos anos no Brasil e no mundo, ao permitir maior autonomia sobre a própria saúde sexual
A PrEP é uma combinação dos antirretrovirais Tenofovir e Emtricitabina, oferecida gratuitamente pelo SUS nos serviços de saúde. Quando tomada corretamente, é altamente eficaz na proteção contra o HIV, apresentando poucos efeitos colaterais e sendo segura para diferentes grupos populacionais.. De acordo com Secretaria da Saúde da Cidade de São Paulo, as infecções pelo vírus do HIV caíram 54% na cidade entre 2016 e 2023, sendo que o índice de novos cadastros para receber a PrEP teve aumento de 865% entre 2018 e 2023.
O uso da PrEP é indicado para pessoas, a partir de 15 anos, que solicitem ou desejem adotá-la como estratégia de prevenção. É recomendada para quem tem risco acrescido para o HIV, o que pode ser observado, por exemplo, pelo uso repetitivo do esquema de PEP (profilaxia pós-exposição) ou pelo histórico com episódios de outras ISTs ou pelo contexto de prática sexual com o uso de drogas e sem uso do preservativo. Se você considera que pode se beneficiar dessa estratégia, fale com um profissional de saúde que fará o teste anti-HIV e outros exames. No SUS, o uso da PrEP garante o cuidado contínuo com acompanhamento e exames de HIV e outras ISTs a cada retorno. Além de receber informações sobre atualização de vacinas e outras práticas benéficas para a saúde integral do indivíduo. Tudo isso pode ser acessado gratuitamente em todos os estados do Brasil.
Viver e conviver com o HIV
Quarenta anos depois da resposta ao HIV, pessoas que vivem com o vírus podem ter uma vida longa, saudável e ativa. O Brasil provou que, quando ciência, direitos e saúde pública caminham juntos, vidas são preservadas e preconceitos podem ser superados.
Faça parte dessa história: previna-se, trate-se e contribua no enfrentamento ao estigma e discriminação.