A morte de Sarah Raissa, de 8 anos, causada pelo 'desafio do desodorante', alerta para os perigos de desafios virais; especialistas pedem educação e supervisão digital como formas de prevenção.
A morte da menina Sarah Raissa Pereira, de apenas 8 anos, acendeu um novo alerta sobre os riscos de desafios virais que circulam nas redes sociais. A criança teve uma parada cardiorrespiratória após inalar gás de um desodorante aerossol, no que ficou conhecido como “desafio do desodorante”. O caso aconteceu na última quinta-feira, 10, e foi confirmado nesta semana.
Segundo o Instituto DimiCuida, essa prática já fez pelo menos outras oito vítimas e continua se espalhando pela internet. Nos últimos 11 anos, a instituição registrou 56 casos de crianças e adolescentes que morreram ou ficaram gravemente feridos após participarem de desafios semelhantes.
Em entrevista ao Terra Agora nesta quinta-feira, 17, a pediatra e conselheira em segurança digital Jade Pedrosa fez um apelo aos pais e responsáveis. Para ela, é fundamental estar atento aos sinais de alerta e, principalmente, investir em prevenção.
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“São muitos os motivos. A gente sabe, por exemplo, na infância, a gente mistura uma curiosidade exacerbada com uma falta de uma informação do risco que isso tem. Já o adolescente cai no viés de espetacularização da vida que as redes sociais estão apresentando. Eles passam a ver a validação através da curtida, do like e do compartilhamento”, explica a médica.
Jade também chama a atenção para o crescimento da participação de crianças e adolescentes em grupos fechados nas redes sociais. Segundo ela, nesses espaços, circulam discursos de ódio, incentivo à violência, práticas perigosas e até ao suicídio.
Para evitar que uma tragédia aconteça, a especialista aponta duas frentes de ação fundamentais. “Uma, a mais importante, é a prevenção que se faz através do acolhimento, da conversa e da educação digital e supervisão digital. A gente tem outro viés, que é de percebermos quando o adolescente está consumindo esses conteúdos”, afirma.
Entre os comportamentos que podem indicar exposição a conteúdos perigosos, Jade destaca o isolamento, o entristecimento ou a agressividade repentina. Em alguns casos, mesmo diante do acolhimento e questionamento dos pais, a criança ou adolescente pode se fechar, muitas vezes sob ameaças de outros integrantes dos grupos em que estão inseridos.
“Mas, mesmo com todas essas ações e esses mecanismos de proteção, ainda temos crianças sendo vitimadas. Então, precisamos pensar também em ações globais, para que toda a sociedade esteja implementada”, completa.
Além do “desafio do desodorante”, a pediatra cita outras práticas perigosas, como a brincadeira em que crianças são induzidas a pular e, ao fazerem isso, colegas ao lado aplicam uma rasteira, provocando quedas violentas. Outro exemplo é o desafio da asfixia, em que uma criança é sufocada por outra até perder os sentidos.
"Não são crianças suicidas. São crianças vitimadas", disse.