Ambientalistas do Pavilhão de Ciências Planetária da Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30) fizeram um apelo aos países participantes da conferência para que a meta de redução de emissões de gases de efeito estufa, promovida por combustíveis fósseis, seja reconsiderada durante as negociações que ocorrem na próxima semana, em Belém.
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A declaração foi assinada pelos cientistas Carlos Nobre, Chris Field, Fátima Denton, Johan Rockström, Piers Forster, Ricarda Winkelmann, Thelma Krug e Paulo Artaxo. De acordo com a carta, as emissões de CO2 em 2025 estão projetadas para serem 1,1% maiores do que em 2024, o que, na visão dos pesquisadores, é uma questão inaceitável.
"Nos níveis atuais de emissão, restam apenas 4 anos antes que o orçamento de carbono para atingir 1,5°C se esgote. Este cronograma tem profundas implicações para a justiça e a equidade climáticas, já que o orçamento restante será consumido principalmente pelos países com altas emissões, enquanto as comunidades vulneráveis e as economias frágeis arcarão com as consequências", diz o texto.
A net zero foi estabelecida durante o Acordo de Paris e prevê o saldo zero entre emissões e captações de gases de efeito estufa até 2050, para limitar o aquecimento global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais. No entanto, segundo o posicionamento dos ambientalistas, a maior parte do orçamento de CO2 necessário para limitar esse aquecimento global a 1,5ºC já foi emitida pelas principais economias do mundo.
"A ciência demonstra que precisamos de uma redução de emissões de pelo menos 5% ao ano, a partir de agora. Infelizmente, os compromissos atuais equivalem a uma redução total de 5% em 10 anos", afirma o documento,
A dependência dos combustíveis fósseis é, na visão dos pesquisadores, o que fará com que o mundo ultrapasse o limite estabelecido no Acordo de Paris mais rapidamente e por mais tempo. Para que isso não ocorra, seria necessário a rápida eliminação dos combustíveis fósseis.
"Cada aumento de 0,1°C no aquecimento global resulta em impactos e riscos substancialmente maiores, incluindo ondas de calor mais longas e mortais, incêndios florestais mais frequentes e intensos, tempestades e precipitações extremas, com danos desproporcionais a comunidades vulneráveis, economias frágeis e povos indígenas. Isso significa que a adaptação deve ser um foco importante na COP30", acrescenta o documento.
Na visão dos cientistas, é preciso que os países usem a segunda semana da COP30 para construírem um roteiro que encaminhe o mundo à eliminação gradual dos combustíveis fósseis.
"O presidente Lula reiterou o ponto em seus discursos de abertura, a Colômbia está angariando apoio para uma declaração e muitos países da Europa e da Ásia estão se mostrando ativos e expressivos. Há um ímpeto, e ele não pode ser perdido. À medida que os negociadores se reúnem nas próximas horas e dias, o desenvolvimento de estratégias para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis deve ser sua prioridade máxima. É a única opção para evitar uma crise planetária", ressalta.
A segunda semana da COP30 é o ponto chave para que os países presentes no evento consigam chegar a acordos formais. As negociações culminam com a divulgação de um documento oficial com os compromissos para combater as mudanças climáticas.
*Essa reportagem foi produzida como parte da Climate Change Media Partnership 2025, uma bolsa de jornalismo organizada pela Earth Journalism Network, da Internews, e pelo Stanley Center for Peace and Security.